O Vale da Morte do Luso Empreendedorismo
Joaquim Rocha da Cunha presidente@pmeportugal.pt Joaquim Rocha da Cunha acumula formação académica na Universidade Técnica de Lisboa, onde se Licenciou em Economia e efetuou uma Pós-Graduação em Estratégia de Exportação. Trabalhou no ICEP (AICEP), na Comissão Europeia e foi entretanto proclamado JEEP – Jovem Empreendedor de Elevado Potencial de 1994, ano em que decidiu fundar uma start-up. Depois de ter sido Presidente da PME-Portugal (atualmente é Presidente do Conselho), de uma Sociedade de Capital de Risco para PME, e Fundador do Instituto Ideia-Atlântico, dedica-se neste momento a projectos de internacionalização para mercados emergentes, em especial o Brasil, como CEO da AtlanticoINvest.
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Coluna empreender e inovar
cado, pode perguntar-se e bem? Ao que se pode questionar se viveremos mesmo numa economia do livre mercado e da livre iniciativa...
O empreendedorismo em Portugal foi durante muitos anos responsável senão pelo crescimento económico, ao menos pela elevada criação de emprego. Assim, até 2005, Portugal apresentava uma das maiores taxas de empreendedorismo da União Europeia, sendo que as micro, pequenas e médias empresas asseguravam 3 em cada 4 postos de trabalho no setor privado. Este dado refletido nos indicadores europeus do Eurostat, tinha ainda uma outra face: a dimensão média empresarial portuguesa era de seis trabalhadores, equivalente à alemã e superior à italiana. Portanto tínhamos nessa data um forte empreendedorismo e um tecido de empreendedores vasto. E assim sendo, porque será que o seu valor acrescentado bruto e o Produto Interno Bruto, ou mesmo as exportações apresentavam níveis sofríveis, perguntar-se-ia? Ora porque o modelo de especialização do país e porque as políticas públicas a isso induziram. Dado que determinam os agentes empresariais numa economia livre de mer-
Sobretudo importa realçar que quando falamos de empreendedores, referimo-nos a pessoas, que têm em comum, um forte espírito de iniciativa, de empreendimento, e algum grau de arrojo para criarem, para terem atividade, para correrem riscos. Não têm que ser, note-se bem, inventores ou inovadores. Têm apenas e só, muitas vezes, de arriscar o custo de oportunidade das suas vidas, do seu tempo, da sua disponibilidade de meios. Esta questão é crucial pois uma economia de livre mercado, precisa de todas as iniciativas, sejam as de elevada componente inovadora e tecnológicas, sejam as de todos os outros empreendedores - muito dedicando-se a suprir necessidades básicas da sociedade em que vivemos e aí encontrando a sua fonte de sustento1. Desde 2005 que a América Latina em geral e no Brasil em particular se bateram sucessivamente taxas de crescimento e apareceram milhões de novos empreendedores, que sucedeu no Portugal, dita economia desenvolvida? Desapareceram empreendedores e gestores: segundo o INE, entre 2005 e 2009, desapareceram quase meio milhão de pessoas com esta atividade em Portugal. E sem empreendedores, concluo eu, não há criação, empreendimento e bases para depois termos inovação micro e desenvolvimento macro. Resolvida que está a questão da relevância de existirem empreendedores, que possam sustentar processos de crescimento, podemos ir à questão da inovação, suas caraterísticas e bases. E para não entrarmos na "zona de conforto" dos exemplos lusos, valerá a pena citar um exemplo deveras conhecido: o do computador pessoal criado por Steve Wosniak e Jobs. É claro que quem criou
a invenção foi Wosniak: ele juntou as peças, teve a ideia luminosa, escreveu o software, fez funcionar o protótipo, eis a invenção/inventor. Mas segundo o mesmo Wosniak, caso não existisse o outro Steve, Jobs, este mesmo computador pessoal nunca teria visto a luz do dia – ou melhor do mercado – nem se teria tornado uma inovação – invenção com sucesso no mercado. É que baseado na ideia de Wosniak, Jobs encarregou-se de encontrar peças para suprir a criação do protótipo, e enquanto este era feito, conseguiu encontrar clientes para comprarem a primeira série produzida, bem como assegurar força de trabalho para que o mesmo pudesse ser montado e entregue ao cliente. Esta história demonstra bem a diferença entre um inventor – Wosniak – e um inovador – Jobs. O inventor criou uma solução/produto novo face ao conhecimento existente. O inovador, por seu turno, assegurou as condições para que a invenção em curso pudesse ser produzida, comercializada e se tornasse fonte de rendimento líquido, pelo sucesso da invenção no mercado – eis a inovação. Esta distinção entre invenção e inovação é ainda hoje muito relevante. Portugal apresenta altos índices de criação de ideias inventivas, mas níveis irrelevantes de inovação, ou seja, invenção sem ter sucesso no mercado. Esta conclusão no plano mundial nem necessita de socorrer duma estatística trágica: em 1.000 ideias/projetos financiados pelo sistema público de "inovação" ou pelo "sistema científico e tecnológico nacional", apenas 4 se tornam efetivamente inovações ou tão-somente patentes, o que em si mesmo deveria convocar uns Estados Gerais lusos, se isto fosse encarado como um problema grave. If… Mas na ausência dessa assunção do problema podemos discutir porque há pouca inovação em Portugal, elencando-se algumas alternativas: será porque