Doutoramento em robótica: a experiência de um Brasileiro em terras lusitanas

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COLUNA SOCIEDADE PORTUGUESA DE ROBÓTICA

Doutoramento em Robótica: A Experiência de um Brasileiro em Terras Lusitanas

Tiago Pereira do Nascimento Sócio estudantil da Sociedade Portuguesa de Robótica  Estudante de doutoramento na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto  Membro da unidade ROBIS – Robótica e Sistemas Inteligentes do INESC TEC  Bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia n.º SFRH/BD/70698/2010.

A ideia que os Brasileiros têm de Portugal resume-se, em grande parte, à música, sotaque e comida. No que se refere às Universidades, nomeadamente as Faculdades de Engenharia, Portugal tem sido uma referência em especial na área da Robótica. Sabe-se no Brasil que depois da Alemanha, Portugal é o melhor destino para quem procura especializar-se nessa área. Esta referência tornou-se muito mais evidente para os Brasileiros após a entrada de Portugal na União Europeia. Quando vim para Portugal em 2010 tive duas grandes surpresas. A primeira foi muito boa, pois ao chegar no Porto fui logo levado pelo meu orientador de doutoramento à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde pude vislumbrar pela primeira vez o laboratório onde iria trabalhar e a grandiosidade da faculdade como um todo. A segunda surpresa não foi tão boa, pois em 2010 aprendi que, apesar da semelhança com o idioma, a diferença cultural para mim fora algo que eu não imaginava que fosse tão grande. A presença de Institutos como INESC TEC, INEGI, entre outros, dentro das universidades foi outra grande diferença que pude notar. Esses institutos ajudam ainda mais a fomentar a pesquisa e conseguem criar uma ponte entre a universidade e empresas privadas que desejam investir em pesquisa. Nes-

ses três anos de doutoramento pude obter o conhecimento que desejava e viver as experiências que pretendia quando escolhi vir para Portugal, bem como dar a minha contribuição para a sociedade portuguesa na área da Robótica. Logo no segundo semestre de 2010 o laboratório mudou de andar e, nós, do grupo de Robótica da FEUP e do INESC TEC, pudemos usufruir de instalações ainda melhores onde pude contribuir com o projeto mecânico e, um pouco, com o projeto de software dos robots no qual trabalho. A primeira facilidade que notei ao fazer o meu doutoramento aqui em Portugal foi a aquisição de materiais consumíveis e ferramentas. Os laboratórios em geral estão extremamente bem equipados, e qualquer material extra ou de consumo é rapidamente adquirido, o que infelizmente atualmente já não acontece, mas que tornava antes o processo de construção e manutenção dos robots algo rápido e eficiente. Penso que um robot bem construído é um robot com problemas minimizados. Outras facilidades como sistema único de rede acessível em quase todas as universidades públicas, acesso 24 horas aos laboratórios com cartão de identificação por RF-ID e fechos eletrónicos, residências universitárias bem equipadas e altamente conservadas, assim como outros serviços de bares espalhados pelas universidades criam um clima de trabalho que permitem ao estudante um alto desempenho e concentração nas suas pesquisas. Além da infraestrutura, existem os programas doutorais que, na minha opinião, são extremamente bem estruturados em todas as universidades portuguesas. Esses programas de reconhecimento internacional estão sempre em parceria entre si nas universidades portuguesas e entre outros departamentos de universidades estrangeiras, fomentando assim a troca de conhecimento e intercâmbio entre alunos. Foi através

desses contactos e do programa de bolsas de doutoramento da FCT, que pude passar três meses de doutoramento europeu em Itália. Em 2011 e em 2012 pude também ter experiências vividas em outras universidades portuguesas, nomeadamente realizar diversos testes com os robots que trabalho no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) no Porto, onde pude usufruir da grande infraestrutura que eles possuem. Em fevereiro de 2012 tive outra experiência fora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), desta vez em Lisboa e financiada por uma bolsa de mobilidade da Sociedade Portuguesa de Robótica (SPR). Num mês de experiências nos laboratórios do Instituto Superior Técnico (IST) em Lisboa pude verificar uma infraestrutura e qualidade similares às vividas no Porto, onde tive que integrar uma parte do meu código do doutoramento com a parte de um colega em Lisboa por parte de um projeto em conjunto entre universidades. Por fim, Portugal é um país com grande fomento na área da Robótica através de congressos, seminários e workshops. Como exemplo existe um encontro anual, o Festival Nacional de Robótica, onde ocorrem competições na área da robótica móvel real e simulada e uma conferência internacional em robótica com apresentações de artigos científicos relacionados com a área. Este congresso, apesar de português, é reconhecido internacionalmente atraindo congressistas de outros países e incentivando ainda mais a pesquisa em Robótica. Para um estudante de doutoramento estrangeiro, no meu caso brasileiro, realizar três anos de doutoramento em Portugal, apesar de toda a saudade que senti da minha terra e das pessoas que lá deixei, foi uma experiência extremamente engrandecedora e rica, a qual faria novamente se voltasse no tempo e ainda recomendaria Portugal para outros que desejam fazer o seu doutoramento no exterior (fora do Brasil).


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