Zona de conforto
J. Norberto Pires
robótica
2
DA MESA DO DIRETOR
Prof. da Universidade de Coimbra
É necessário, de facto, passar esta mensagem sobre a necessidade de sair da zona de conforto. Na verdade, Portugal é um país muito pequeno e não tem tendência para aumentar. Consequentemente, as pessoas e as empresas têm de pensar para além das nossas fronteiras, isto é, não podem ter como objetivo as oportunidades geradas somente tendo por base o mercado nacional. As pessoas ambiciosas capazes de inovar e reinventar a sua forma de vida precisam, por isso, de perspetivar a sua vida de forma global. A partir de Portugal, tendo como objetivo Portugal, mas tendo o resto do mundo no horizonte. E isso significa sacrifício pessoal e familiar, ou seja, significa sair de um certa ideia de conforto. Na generalidade, o nível de formação avançada em Portugal é comparável, em qualidade, ao dos países de primeiro mundo. É importante que o país perceba bem isso: tem excelentes engenheiros, cientistas, médicos, enfermeiros, entre outros, ao nível dos melhores do mundo. O nosso deficit é de atitude e de capacidade de gerar valor a partir do conhecimento que somos capazes de gerar e dominar. Falta uma maior capacidade de transformar em produtos e serviços toda a nossa atividade geradora de conhecimento, mas também a uma maior capacidade de os divulgar (marketing) e vender. Ou seja, falta gerar atividade económica a partir do investimento que fizemos, e temos de continuar a fazer em investigação científica e tecnológica. Este enquadramento é crítico para o nosso
futuro coletivo, pelo que gostaria de ter a certeza que é entendido pelos nossos decisores políticos. Porque convidar os jovens portugueses a sair da sua zona de conforto, necessário como expliquei para que tenham sucesso no mundo global, nada tem a ver com emigração e muito menos com a crise que enfrentamos. Sair do país para explorar oportunidades, realizar negócios, estabelecer parcerias, e outros é uma necessidade dada a dimensão do nosso mercado. Terá de ser feito seja qual for a situação económica do país. Permitir a confusão é preocupante. Portugal, assim como qualquer outro país, será o que a sua população for capaz de fazer. O importante numa mensagem para os jovens, para além da visão realista do mundo, são vários aspetos que vale a pena realçar: 1. A confiança no futuro: é importante que eles percebam que o futuro está nas suas mãos, depende dos seus conhecimentos, capacidades adquiridas, trabalho e dedicação; 2. O sonho de olhos abertos: ou seja a capacidade de imaginar um mundo novo e ser capaz de o construir hoje. No fundo, perceber bem a ideia de que o futuro começa sempre hoje; 3. O foco no talento: conhecer em profundidade, dominar os assuntos e ser criativo. Dever ser esse o foco em tudo o que fazemos relacionado com educação, desde a mais tenra idade até à universidade; 4. O foco no investimento em talento: sendo crucial o talento, o investimento na sua formação é essencial. No entanto, só tem efeitos a médio prazo, pelo que é preciso ter a noção que tem de ser continuado. Interromper esse investimento é um erro clamoroso; 5. A recusa da estigmatização da falha: os empreendedores falham. E chatice das chatices, falham muitas vezes porque correm riscos muito elevados e percebem bem a dimensão do risco. Mas os ganhos estão
exatamente aí, na gestão cuidadosa do risco investindo em empreendedorismo de oportunidade: aquele que é baseado em conhecimento avançado, aquele que pode gerar mais-valias significativas; 6. Pragmatismo: para ter sucesso é necessário trabalhar e ser frugal. É preciso dizer com clareza que nos aburguesamos e que necessitamos de voltar às coisas simples, aos valores do trabalho, do esforço para ter sucesso e da frugalidade de meios; 7. Realismo: os portugueses são bons em engenharia, estão na ponta em termos de qualidade e capacidade. São menos bons em vendas e marketing. E talvez não tenham a noção clara de que vivem num país pequeno, e que não vai crescer, ou seja, os nossos olhos e o nosso pensamento têm de estar sempre colocados no mundo, num mercado muito maior. Para além de tudo isto é preciso dar um excelente exemplo de atitude. Mostrar bem que não desistimos de Portugal, mas percebemos que temos, a partir de Portugal, de ver e procurar muito mais além. Para pessoas assim, que percebem que os aviões são os autocarros da nossa época, e que na verdade o verdadeiro capital é o capital humano, o futuro é sempre visto com esperança e otimismo. O foco deve ser colocado na atitude. Na perceção clara de que os países, antes de espaços geográficos, económicos ou políticos, são essencialmente as suas pessoas. Isso significa que o futuro depende em grande parte da forma como essas pessoas encaram a sua vida, se relacionam com os outros e desenvolvem a sua atividade. Atrair e fixar pessoas, e não afastálas, tem de ser por isso o nosso primeiro objetivo. E devemos estar particularmente interessados naquelas pessoas que procuram oportunidades, que as sabem identificar e têm o arrojo para definir objetivos e persegui-los com determinação.