Sobrevivência vs Oportunidade
J. Norberto Pires
robótica
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DA MESA DO DIRETOR
Prof. da Universidade de Coimbra
O modelo de desenvolvimento que Portugal tem seguido nos últimos tempos carateriza-se, de forma simples e breve, pelo seguinte: 1. É um modelo exportador mas muito reativo aos mercados e com produtos de baixo valor-acrescentado; 2. O investimento direto estrangeiro (IDE) não incorpora, na generalidade, produção e decisão nacional; 3. O capital e a mão-de-obra está concentrada em atividades de baixo valor-acrescentado. Isso explica bem a situação atual de um país de baixa produtividade e elevada dependência do exterior. A imagem que ilustra este texto é bem clara. Portugal até tem uma atividade empreendedora interessante, perto de 10%, superior a muitos países desenvolvidos. No entanto, o seu PIB per capita é muito inferior rondando os 23 mil dólares. O PIB per capita dos EUA ronda 48 mil dólares, da Noruega 53 mil, da Finlândia 36 mil, da França 35 mil, da Espanha 31 mil, e outros. Ou seja, o empreendedorismo em Portugal é essencialmente de sobrevivência, portanto essencialmente constituído por microempresas de baixa competitividade e produtividade, e muito baixo valor-acrescentado. O empreendedorismo de oportunidade, isto é, aquele que tira partido do conhecimento gerado no país, do I&D científico e operacional competitivo, gerando produtos (transacionáveis) e
serviços de elevado valor-acrescentado, tendo impacto no PIB per capita, é muito reduzido. E é esse tipo de empreendedorismo que temos de incentivar, criando condições para que se desenvolva e se torne “virulento”. Só assim mudaremos o nosso perfil exportador, incluindo produtos com elevada incorporação tecnológica e de conhecimento, e consequentemente gerando as mais-valias que permitem resolver os desequilíbrios da nossa economia. Várias organizações têm recomendado o caminho a seguir, como por exemplo fez em 2010 a OCDE. Essas indicações apontam para aumentar as exportações pela qualidade (produtos com maior intensidade tecnológica), dinamização produção de bens transacionáveis e foco em IDE nesse setor, aposta no ensino superior e na ciência com forte impacto na indústria e na economia, reforço dos mecanismos de concorrência e liberdade de opção, redução do impacto do setor no PIB, valorização do talento e da excelência (reforçar a atitude, valores, participação cultura empreendedora e de risco, ética e responsabilização), renovação empresarial, foco em empresas de crescimento rápido (gazela), promoção da liderança tecnológica identificando
áreas em que Portugal pode ser determinante, dinamização dos exemplos de sucesso sem estigmatizar a falha, promoção de modelos de negócio sofisticados e participação em redes globais, dotar as instituições de transparência e eficiência, e preocupação com a sustentabilidade e a ética. O problema é que tudo isto é de médio e longo prazo. E Portugal tem metas de curto prazo para cumprir. E esse é que é o verdadeiro drama. Seja como for, é necessário começar. Portugal tem condições para ser um país fortemente empreendedor (de oportunidade), sustentável e com elevados níveis de transferência de tecnologia com forte impacto na economia: PIB e valor-acrescentado. Deve perceber a importância de desenvolver uma relação eficiente entre os centros de saber (conhecimento), de ensino (formação), os locais de promoção do empreendedorismo (incubadores e parque de C&T) e a economia (empresas). Se souber fazer isto de forma eficiente e coordenada isso terá um forte impacto social e económico no país no médio e longo prazo. Não há soluções mágicas e é connosco, e com aquilo que somos capazes de fazer, que temos de contar para resolver os nossos problemas.