modelos de negócio e instrumentos de financiamento para a gestão de energia
Jorge Rodrigues de Almeida Managing Director, RdA Climate Solutions almeida@rda.ptA recente pressão nos custos da energia imposta pela crise energética veio acelerar a necessidade de redução de consumos e respetivos custos com destaque para adoção de projetos de energia renovável, nomeadamente de autoconsumo e de comunidades de energia renovável.
Este assunto não é novo. Por exemplo, partindo do princípio de que a energia mais barata é a que não se usa e considerando a relevância da eficiência energética nos objetivos climáticos, a Comissão Europeia adotou há alguns anos o princípio da “Prioridade à Eficiência Energética” recomendando aos Estados Membros um conjunto de medidas que assegurem que só produzam a energia necessária e que evitem investimentos em ativos não necessários.
Verifica-se, no entanto, que aquela que deveria ser o principal foco das políticas energéticas, a eficiência energética, continua a não ter o crescimento esperado. Por exemplo, segundo estudos de mercado, existem 300 milhões de motores elétricos a operar no mundo atualmente, no entanto, apenas 20% destes possuem variadores eletrónicos de velocidade. Tendo por base os mesmos estudos, estima-se que se fossem aplicados variadores aos restantes motores elétricos, poderíamos poupar cerca de 10% de toda a eletricidade consumida mundialmente!
Então como promover a eficiência energética? A solução passa pela adoção de modelos de negócio e instrumentos de financiamento que, ainda que inovadores, sejam simples e eficazes.
Vejamos dois casos distintos, mas ambos de sucesso.
1.º A iluminação pública é responsável pela maior fatia do orçamento em energia dos municípios portugueses, contudo existe uma tecnologia madura, os LED, que pode baixar esta fatura em mais de 60% sem comprometer a qualidade da iluminação (ou mesmo em alguns casos melhorando a mesma). O problema é que a substituição da iluminação exige um elevado investimento inicial para o qual muitos municípios não têm capacidade. A solução tem passado pela adoção de contratos de desempenho energético em que empresas de serviços de energia financiam e executam a substituição da iluminação garantindo níveis de serviço e de poupança para o município, recebendo em troca uma parte das poupanças efetivamente alcançadas.
2.º O setor dos edifícios é responsável pelo consumo de aproximadamente 30% da energia final em Portugal, existindo cerca de 1 milhão de edifícios que carecem de reparação. Ainda assim existe uma lacuna no mercado de financiamento, pois muitos promotores não encontravam soluções para financiar projetos de reabilitação urbana e de forma conjugada de eficiência energética. Neste âmbito foi lançado o IFRRU 2020 que consiste num instrumento financeiro que combina dotações de fundos estruturais e de instituições financeiras europeias como o Banco Europeu do Investimento (BEI) e o Banco
Então como promover a eficiência energética?
A solução passa pela adoção de modelos de negócio e instrumentos de financiamento, ainda que inovadores, que sejam simples e eficazes.
de Desenvolvimento do Conselho da Europa (CEB). Este financiamento é posteriormente disponibilizado, em condições mais favoráveis, por três bancos comerciais através dos quais são financiadas as operações de reabilitação urbana. Em outubro de 2022 tinham sido contratados um total de 1401 milhões de euros em 430 operações.
Estes dois exemplos, ainda que distintos, demostram que é possível desenvolver e operacionalizar modelos de negócio ou programas de financiamento que alavanquem investimentos em eficiência energética e autoconsumo. No entanto, e como referido anteriormente, é necessário aumentar o número de iniciativas de forma a reduzir significativamente os consumos energéticos, nomeadamente de fontes fósseis.
Em seguida são apresentados três modelos de negócio e três alternativas de financiamento que podem ser consideradas, pois já detêm provas dadas:
• Modelo as‑a‑service: em vez de se comprar um equipamento que consome energia, o fornecedor oferece a opção de subscrição de um serviço, como um pacote completo, que inclui o design, instalação e manutenção e, em alguns casos, pode mesmo incluir o fornecimento de energia. Um exemplo é o Lighting-as-a-service (LaaS) onde fornecedores de luminárias oferecem serviços completos assegurando que a soma do valor da fatura da energia e da mensalidade do serviço, será inferior ao valor da fatura energética que existia antes da implementação do projeto. Um modelo similar a este, e bastante utilizado na indústria, é o aluguer de equipamentos (renting, leasing, entre outros) onde em vez de se adquirir o ativo o mesmo é alugado assegurando que os custos de manutenção estão incluídos no aluguer.
• Modelo de comercialização peer ‑to ‑peer : baseado na partilha dos excessos de energia produzidos, por exemplo nos seus sistemas de autoconsumo, pelos consumidores. A partilha tem por base sistemas informáticos que permitem transações de energia de um consumidor para outro – peer-to-peer (P2P) – traduzindo esta energia numa representação digital do valor em euros. O comércio de energia P2P está a transformar o setor da energia aproveitando tecnologias como o blockchain para permitir o rastreamento e comércio de cada quilowatt de energia, alterando o atual paradigma onde existe uma produção, uma rede de transmissão e distribuição, e um cliente que consome a