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renováveis: onde estamos e para onde vamos? Quando falamos de renováveis a sua abrangência vai muito além da eletricidade renovável e das respetivas tecnologias de geração elétrica. Na verdade, existe ainda um longo caminho a percurso na descarbonização do setor energético como um todo.
Susana Serôdio e Gonçalo Martins
APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis Tel.: +351 213 151 621 comunicacao@apren.pt www.apren.pt
Renováveis Os números provam que Portugal se tem tornado num país mais verde, posicionando-se como um dos países do mundo que mais recorre às energias renováveis. No ano de 2021 observou-se um grande aumento na quantidade de capacidade renovável, tendo sido instalados 706 MW de potência, um valor bastante superior ao de 2020 (181 MW). Isto deve-se, tanto ao elevado investimento em projetos de produção de eletricidade a partir de fontes de energia renováveis (FER), como ao atraso em projetos em curso, por razões relacionadas com a pandemia. Com este aumento de potência renovável, Portugal pode contar agora com uma capacidade renovável total de 15,3 GW, o que representa um aumento de 4,6% face a 2020. Portugal apresentou uma incorporação renovável na geração de eletricidade, em 2021, de 62,2%, o que corresponde a uma geração de 32,86 TWh de eletricidade (valor mais alto dos últimos 5 anos), o qual foi maioritariamente suportado pelas tecnologias eólica e hídrica (25,3% e 25,1%, respetivamente). O restante é repartido pela Bioenergia (7,7%), Solar (4,2%) e Geotermia (0,3%). Apesar do constante aumento de capacidade renovável no setor elétrico, Portugal, apresenta apenas 35% de FER no consumo final bruto de energia (previsão APREN). Este valor reduzido deve-se ao facto de Portugal apresentar um elevado consumo de petróleo, principalmente no setor dos transportes. Verificou-se, a partir do balanço sintético da DGEG, que o setor do petróleo representa 43,5% do consumo de energia final. Tendo em conta a incorporação renovável na produção doméstica de energia primária, que conjuga a produção de energia térmica e elétrica a partir de fontes endógenas, existe um grande destaque para a bioenergia, com um peso de 53,9%, que é consumida, maioritariamente, em contexto doméstico, para aquecimento. Dependência energética Em relação à dependência energética, é de notar que, a partir de 2005, há uma clara tendência decrescente, com grande destaque para a diminuição registada em 2020, 66%, um valor que ficou bastante próximo do objetivo do PNEC para 2030, 65%. É necessário ter em conta que 2020 foi um ano atípico, com uma série de fatores a permitir a redução da importação de combustíveis fósseis, pela diminuição verificada no consumo (uma quebra de 8%). No entanto, estima-se que a dependência energética aumente para 70% (análise realizada pela APREN) devido ao aumento do consumo.
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Apesar do aumento da dependência energética em 2021, é possível evidenciar o impacto positivo que a integração de energias renováveis no sistema energético nacional apresenta, proporcionando ao país uma maior independência energética tornando assim premente o seu crescente desenvolvimento e investimento. A descarbonização é fundamental para garantir o combate às alterações climáticas, mas os mais recentes desenvolvimentos geopolíticos vêm também realçar a importância de garantir a segurança do abastecimento através da aposta em fontes primordialmente endógenas e na eletrificação. O valor registado em 2021 posicionou Portugal como o 8.º país da UE com maior dependência energética. Importação de energia Em 2020, Portugal importou um total de 20 601 606 teps de energia, sendo o Petróleo e o Gás Natural os mais predominantes, com 14 499 388 teps e 5 153 422 teps, respetivamente. O Petróleo é proveniente, essencialmente, de Espanha, Rússia e EUA, enquanto o Gás Natural é proveniente, principalmente, da Nigéria, EUA e Rússia. Impacto na Economia Nacional e no Mercado de eletricidade O Mercado Ibérico de Eletricidade (MIBEL) registou um preço horário médio anual, em 2021, de 111,47 €/MWh, representado, não só o maior aumento anual registado, de 326% em comparação a 2020, como também o preço horário médio anual mais alto registado no MIBEL. O aumento do preço da eletricidade deve-se, essencialmente, à repercussão do aumento do preço do gás natural e das licenças de CO2. Por outro lado, em 2021, a geração renovável teve um impacto bastante positivo no preço da eletricidade, possibilitando uma redução do preço para 44,75 €/MWh, através do suprimento do consumo de eletricidade em Portugal Continental, por 1108 horas não consecutivas. Para além da diminuição do preço da eletricidade, a produção de energia elétrica por fontes de renováveis contribuiu significativamente para o PIB nos últimos 10 anos, com valores num intervalo de 1,3 a 2,8 %. Registou-se, ainda em 2021, o maior valor, indicativo do crescente contributo das fontes renováveis na geração de riqueza, e prevê-se que o valor continue a aumentar nos próximos anos. Importância da eletrificação direta e indireta para atingir a descarbonização O caminho para a descarbonização começa por converter o consumo de combustíveis fósseis nos vários setores, sendo a indústria e os transportes os setores com mais urgência. A eletrificação renovável direta é fundamental, devendo ser aplicada sempre que possível. Quando a eletrificação direta não é possível, por motivos de custo-eficácia ou ambientais, pode optar-se pela eletrificação indireta, através, por exemplo, do hidrogénio verde.