centrais fotovoltaicas e parques eólicos: casamento perfeito?

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dossier sobre Solar + Eólico + Hídrica

centrais fotovoltaicas e parques eólicos: casamento perfeito? Existem hoje objetivos claros e muito ambiciosos para a União Europeia no que respeita às emissões de gases com efeito de estufa, destacando-se a necessidade de reduzir a sua emissão em 55% até 2030, face a 1990, e de atingir a neutralidade carbónica em 2050. Bruno Silva, Miguel Marques e José Carlos Matos Especialistas em Energias Renováveis INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial

Neste contexto, e sendo o setor energético aquele que mais peso tem nas emissões, existe um compromisso no espaço europeu em reforçar as ações de eficiência energética, acentuar a eletrificação - direta e indireta do consumo, e aumentar a contribuição das fontes renováveis endógenas no mix eletroprodutor. Portugal tem assumido sucessivos compromissos nesta matéria em instrumentos como o Plano Nacional de Energia e Clima e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, tendo plasmado recentemente tais compromissos em lei, através da Lei de Bases do Clima (Lei n.º 98/2021 de 31 de dezembro). Ainda que os benefícios excedam largamente os custos deste percurso, importa manter um racional económico e não incorrer em custos de oportunidade para o país. Um dos aspetos que poderá contribuir mais para a manutenção deste racional passa pela utilização de recursos já existentes - muitos já amortizados como as infraestruturas de ligação à rede por parque de centrais eletroprodutoras já existentes - reforçando a capacidade geradora com a mesma tecnologia ou com uma tecnologia complementar, naquilo que se designa normalmente por hibridização. Com um capital de experiência de mais de 30 anos na área do aproveitamento das fontes renováveis para a produção de eletricidade, o INEGI tem vindo também a trabalhar com várias empresas no desenvolvimento de projetos de hibridização de parques eólicos com equipamentos fotovoltaicos, um casamento que se adivinha como promissor. Desenvolvimento As fontes renováveis de energia são hoje uma peça inquestionável na definição da política energética, que vai desde o planeamento macro, a nível nacional e comunitário, até ao doméstico. Quando falamos da eletricidade, especificamente, é cada vez mais evidente a importância de explorar a diversidade, e eventual complementaridade, dos diferentes recursos renováveis. A diversidade plena assegura um equilíbrio, em termos de fontes, na produção de eletricidade que, por um lado, não acentua dependências de fontes específicas ou regiões geográficas e, por outro, maximiza a utilização das infraestruturas de transporte e distribuição sem, contudo, as sobrecarregar. A visão vigente da operacionalização desta diversificação das fontes, atualmente, passa pela construção e operação de centrais específicas – o parque eólico, a central fotovoltaica, a pequena central hídrica. Porém, 36

o eforço de potência de centrais eletroprodutoras já existentes, com tecnologias complementares ou com a construção, de raiz, de centrais híbridas, pode constituir uma oportunidade interessante, para o Sistema Elétrico Nacional e todos os seus stakeholders, desde a produção até ao consumo. Faz-se notar, de qualquer modo, que este reforço de potência não coloca em causa o desenvolvimento de projetos híbridos de raiz. A energia solar e a energia eólica, em particular, têm características que, função dos ciclos intradiários e intranuais, potenciam a sua complementaridade e podem ter vantagens, comparativamente à sua utilização individual e separada. O potencial energético eólico-fotovoltaico Cada fonte renovável de energia tem um perfil de geração distinto. Existem variações ao longo do tempo, no espaço geográfico, e ao nível da disponibilidade e intensidade. Existem, porém, locais que, fruto de condições meteorológicas próprias, permitem um maior grau de complementaridade. Consideremos o exemplo de locais onde o recurso eólico é mais intenso à noite do que durante o dia. Aqui, a complementaridade entre a produção eólica e fotovoltaica, permitiria potenciar a geração de energia com menor volatilidade durante 24 horas, aproveitando o máximo de cada recurso natural. Um maior grau de complementaridade permite uma maior suavização do perfil de geração de uma central electroprodutora híbrida, aumentando o aproveitamento da capacidade de ligação da infraestrutura de transporte. De qualquer modo, para um local com o recurso eólico médio de semelhante intensidade, mas concentrado na fase diurna, o grau de complementaridade seria menor. As imagens que acompanham este artigo ilustram este aspeto: nelas apresenta-se um caso de estudo em que a capacidade de entrega à rede [100] por parte de um centro eletroprodutor híbrido é idêntica à capacidade geradora de um parque eólico [100] e à capacidade geradora de


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