a descarbonização dos sistemas energéticos e a segurança no abastecimento

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dossier sobre Solar + Eólico + Hídrica

a descarbonização dos sistemas energéticos e a segurança no abastecimento Neste início de século, a urgência da descarbonização das atividades humanas, para nos permitir neutralizar o balanço carbónico na biosfera, tornou imprescindível intensificar-se a utilização de recursos energéticos de origem não fóssil, nomeadamente os de origem renovável. Modesto Morais IEP Manager Innovation, Research and Development

No gráfico da Figura 1 podemos observar como o consumo de energia nos últimos 45 anos mais do que duplicou, mas a representatividade da energia primária com origem fóssil manteve-se praticamente inalterada (representava 87% em 1973 e representa 81% em 2018). O consumo global anual de energia é de 14 282 MTEP e 86% dessa energia é proveniente de fontes não renováveis, tais como o carvão, o petróleo, o gás natural e o nuclear. Ou seja, unicamente 14% da toda a energia consumida pela humanidade tem origem em fontes renováveis. Sabemos que a exploração de recursos naturais (energéticos ou outros) sejam eles renováveis ou não, exercem sempre um impacto negativo não negligenciável sobre os ecossistemas. Por este motivo, a exploração de recursos energéticos renováveis deverá ser sempre desenvolvida tendo em atenção o balanço entre os custos e os benefícios que lhes estão inerentes. A título de exemplo, para suprirmos as necessidades globais de energia se, hipoteticamente, quiséssemos usar unicamente sistemas fotovoltaicos, teríamos de instalar uma área de módulos solares que cobriria cerca de 2% da área total disponível em todos os continentes. Isto, à primeira vista, não parece ter um grande impacto nos ecossistemas, mas

Figura 1 Consumo global de energia, desagregado por tipos de fontes (Unidades de energia em TEP) [1].

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se compararmos esta área com o espaço ocupado por todas as zonas urbanos do mundo, percebemos que o espaço a ocupar pelas centrais fotovoltaicas seria quatro vezes superior à área ocupada por todas as cidades existentes no planeta. Visto desta forma, talvez a utilização indiscriminada desse tipo de tecnologia poderá não ser a abordagem mais cautelosa. Para além de que, de uma forma simplista, se todos os telhados do mundo fossem cobertos por módulos solares, dessa forma só conseguiríamos suprir 25% das necessidades energéticas desses mesmos espaços urbanos. Adicionalmente ainda teríamos de ocupar zonas não urbanas com solos úteis para agricultura e florestas numa extensão que equivaleria a 1,5% de todo o espaço disponível nos continentes. Cálculos semelhantes poderão ser aplicados aos impactos ambientais resultantes do enchimento das albufeiras das centrais hidroelétricas, da implantação e operação dos parques eólicos ou da operação das centrais térmicas a biomassa (neste último caso existirá sempre a emissão de partículas sólidas com impacto não negligenciável na saúde pulmonar das populações). Como salvaguarda ao raciocínio desenvolvido neste último parágrafo, que concerne o impacto ambiental das energias renováveis, reforçamos que estas formas de energia serão, sem qualquer dúvida, parte da solução para ajudar a ganhar a batalha da descarbonização e da segurança no abastecimento energético para a nossa civilização. Mas não podemos perder de vista que estas formas de energia, pela sua inerente diluição na superfície do planeta, obrigam sempre a que sejam ocupadas extensões geográficas consideráveis, o que implica uma competição direta com outras atividades humanas relevantes. Mais importante ainda, perturbam de forma considerável os ecossistemas naturais. No gráfico da Figura 2 é evidente que a demanda global por energia primária cresce de forma muito consistente. Nas energias de origem fóssil observamos uma tendência (que devemos sinalizar como benéfica por representar menores emissões de carbono por cada unidade de energia consumida) para a transladação da dependência do carvão e do petróleo para o gás natural. Mas, mais importante e preocupante é observarmos que, para as renováveis substituírem integralmente as energias de origem fóssil, a tarefa será mesmo gigantesca! Pois não se tratará unicamente de descarbonizar a produção de eletricidade que


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