dossier sobre Solar + Eólico + Hídrica
programas de descarbonização: como passar da ambição à ação A COVID-19 foi um grande teste ao nosso nível de preparação no que toca à ação climática. A nossa capacidade de mobilização rápida e coordenada contra a pandemia ser-nos-á de enorme utilidade para enfrentarmos o iminente tsunami das alterações climáticas. Martina Tomé VP Power Systems Iberia Schneider Electric
Por outro lado, os últimos dois anos também revelaram a fragilidade dos nossos sistemas a nível mundial – a facilidade com podem ser perturbados, onde temos redundâncias, onde mostramos resiliência e onde ficamos aquém das expectativas. É tempo de mudar para um sistema de energia totalmente elétrico e renovável, para um modelo económico circular e para uma implementação massiva de tecnologias inteligentes e digitais. O resultado será um mundo mais limpo, saudável, eficiente e próspero para todos. Onde estamos? Conhecendo os seus benefícios, porque é que a mudança não está a acontecer tão rapidamente como deveria? A resposta não está no “porquê”, mas em “como” fazê-lo. No ano passado, a British Petroleum (BP) anunciou que iria atingir as emissões líquidas zero, tanto nas suas operações como na sua produção, mas não partilhou muitos pormenores sobre a forma como o faria. Desde então, a empresa, juntamente com outras empresas do petróleo e gás, tem sido acusada de fazer greenwashing – o termo inglês comummente utilizado para o que chamaríamos uma “lavagem de imagem verde”. Tomar medidas climáticas e tirar delas o máximo partido exige empenho das organizações e capacidade para inovar e traduzir as suas ambições em ações relevantes. Neste sentido, passar de objetivos a resultados pode ser algo assustador para muitos líderes empresariais... sobretudo porque, quanto mais progressos são feitos, mais nos apercebemos de todo o trabalho que ainda falta fazer. Como fazer isto? É aqui que começa o verdadeiro trabalho Para muitas empresas, a realidade da ação climática torna-se clara assim que se comprometem a construir e implementar à escala estratégias de descarbonização alinhadas com a ciência – e não apenas dentro da própria empresa, mas ao longo de toda a sua cadeia de valor, o que pode significar o aprofundamento de iniciativas existentes ou a necessidade de uma reinvenção total da empresa e dos seus produtos. Seja como for, é um longo caminho que requer visão, perseverança e curiosidade intelectual. Os obstáculos não são poucos, como por exemplo a existência de prioridades que competem entre si, a falta de conhecimentos, a tendência para investir o mínimo possível e a resistência à mudança. No entanto, todos podem ser ultrapassados com a mentalidade e as ferramentas adequadas.
Para muitas empresas, a realidade da ação climática torna-se clara assim que se comprometem a construir e implementar à escala estratégias de descarbonização alinhadas com a ciência (...) o que pode significar o aprofundamento de iniciativas existentes ou a necessidade de uma reinvenção total da empresa e dos seus produtos. Neste sentido podemos distinguir 5 pilares básicos de qualquer programa de descarbonização bem-sucedido. O 1.º é a gestão da energia – no centro de qualquer programa estão os esforços para reduzir a pegada energética de uma empresa, uma vez que a queima de combustíveis é a maior fonte de emissões. O 2.º é a eficiência de recursos: quanto menos forem necessários, menos terão de ser comprados. Para melhorar este ponto, a empresa deve primeiro reduzir o seu consumo líquido de energia e, em seguida, explorar modelos comerciais circulares. Pensar na utilização de energia necessária deve ser o 3.º pilar de qualquer programa de descarbonização. Uma vez otimizadas, as restantes fontes de energia podem ser substituídas por combustíveis e tecnologias que gerem menos emissões – como a energia eólica ou solar para a eletricidade, e a eletrificação e/ou combustíveis limpos, como o gás natural renovável ou o hidrogénio, para o transporte e aquecimento. Já o 4.º pilar consiste em considerar as emissões inevitáveis que não podem (ainda) ser reduzidas ou substituídas por EAC e compensações de carbono credíveis. Por último, o 5.º pilar será o desenvolvimento de um programa para desbloquear as emissões de Alcance 3, que permita identificar as oportunidades para o ecossistema da cadeia de abastecimento, tanto a montante como a jusante, bem como participar e contribuir para aumentar exponencialmente o impacto dos esforços da ação climática da empresa. Para começar, é importante que se defina o que significará o “sucesso” de um plano de descarbonização e estabelecer objetivos mensuráveis. Depois, é hora de implementar o programa e acompanhar os resultados. Começámos uma nova era. A era da eletrificação, das energias renováveis, da economia circular... É evidente que, como qualquer transição, implicará um esforço para todos os envolvidos, mas este esforço será mais do que compensado. Está na hora de começarmos a trabalhar e a progredir sem desculpas rumo a esse mundo mais sustentável, justo e próspero que nos espera no fim do caminho. 27