as incertezas de um novo ano

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editorial

as incertezas de um novo ano Amadeu Borges Diretor

Em 12 meses, o preço médio da gasolina 98 aumentou de 1,653€ por litro para 1,912€ (em 20 de dezembro), passando por um preço médio histórico de 1,976€ por litro, no dia 12 de novembro de 2021. Esta diferença entre o início e o final do ano representa um aumento superior a 15%, muito acima da inflação ou de outro qualquer indicador económico. No que concerne aos outros combustíveis, a tendência de aumento é idêntica. Já o preço médio anual do barril de petróleo, em 2020, foi de 40,84 USD (preço médio anual de 1,623€ por litro de gasolina 98), em 2019 foi de 64,18 USD (preço médio anual de 1,707€ por litro de gasolina 98) e em 2018 foi de 71,40 USD (preço médio anual de 1,744€ por litro de gasolina 98). No final de 2021 teremos um preço médio anual para a gasolina 98 superior a 1,85€, ao qual não corresponde, exatamente, o preço médio do barril de petróleo, que não deverá ser muito diferente do preço médio anual verificado em 2019. Feitas as contas, o consumidor não terá muitos motivos para fazer grandes viagens usando transporte próprio em 2022. Com efeito, em 12 meses, o custo de fazer qualquer viagem aumentou cerca de 15%. Quanto à eletricidade, as incertezas são, ainda, maiores, sobretudo pelo que se tem verificado nos últimos meses em torno do preço desta forma de energia, que se soma aos baixos níveis de água nas albufeiras: além de parecerem não ter recuperado dos 3 últimos invernos bastantes secos, as perspetivas de chuva para este inverno são fracas. Mas 2021 foi um ano cheio de novidades, que perspetivam alguma esperança: a aposta no hidrogénio e o encerramento das centrais a carvão de Sines e do Pego (não se conhecendo, exatamente, de onde e a que preço virá a eletricidade que estas centrais deixam de produzir). Na verdade, no ano em que Portugal encerra a produção de eletricidade a carvão e no ano de realização da COP26, a eletricidade produzida a partir de carvão atinge um recorde de produção, segundo a Agência Internacional 2

Um novo ano vai iniciar-se e as incertezas, em áreas que afetam direta ou indiretamente a sociedade portuguesa, são muitas. No que respeita a este contexto, esta incerteza incide sobre os preços da energia que, durante 2021, muito afetaram a vida dos portugueses.

de Energia (AIE). Através do documento “Coal 2021”, a AIE detalhou que a produção de eletricidade a partir do carvão, depois de ter baixado em 2019 e em 2020, deverá subir 9% em 2021, para um nível inédito de 10 350 TWh. Quer parecer que andamos em contraciclo. Por um lado, existe o desejo de limitar a subida da temperatura média global em 1,5 ºC (procurando-se acordos internacionais que parecem difíceis de satisfazer ou, pelo menos, de satisfazer todos os países), tentando diminuir as emissões de dióxido de carbono, mas por outro, o aumento dos preços de outras fontes de energia primária, fazem manter a produção de eletricidade através de carvão.Toda esta situação não deixa de ser caricata, mesmo dentro das nossas fronteiras: fechamos as nossas centrais a carvão porque queremos cumprir as metas ambientais e que dizem respeito à redução das emissões de Gases de Efeito de Estufa, mas depois temos de

Feitas as contas, o consumidor não terá muitos motivos para fazer grandes viagens usando transporte próprio em 2022. Com efeito, em 12 meses, o custo de fazer qualquer viagem aumentou cerca de 15%. comprar eletricidade a outros países que a produzem a partir do carvão. Talvez a Europa esteja agora a dar o passo certo, aquele de deveria ser o primeiro passo no combate ao aumento da temperatura média global e ao sequestro de dióxido de carbono, já que parece difícil, à escala global, fazer diminuir a sua emissão. A Europa pretende plantar 3 mil milhões de árvores até 2030, iniciativa aberta, para já, apenas a instituições. A partir da primavera de 2022, a iniciativa deverá ser aberta a cidadãos individuais. O objetivo de plantar 3 mil milhões de árvores até 2030 foi definido no âmbito das metas ambientais – o EU Green Deal – e pretende ser um instrumento de combate à mudança climática e à perda de biodiversidade (https://forest.eea.europa.eu/3-billion-trees/introduction). Até ao momento, apenas uma iniciativa nacional é contabilizada, contando com 158 ha reflorestados. Este poderá não ser o caminho politicamente mais interessante, mas poderá ser o mais eficaz a médio e a longo prazo, trazendo benefícios acrescidos – mesmo em termos de potencial para produção de bionergia -, para além dos benefícios em termos das alterações climáticas e para as gerações vindouras. Em jeito de conclusão, que 2022 seja verdadeiramente o ano da mudança rumo a 2030, com ideias renovadas em torno da produção renovável de energia, da redução das emissões de gases de efeito de estufa e da eficiência energética. Mais, que 2022 seja o ano de erradicação da pobreza energética.


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