recuperação verde: futuro imperativo

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vozes de mercado

recuperação verde: futuro imperativo

Martina Tomé VP Power Systems Iberia Schneider Electric

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O desconfinamento avança, a vida volta a ganhar ritmo e a palavra “recuperação” está na boca de todos. Bruxelas, por sua parte, continua a fazer avançar o tão ansiado Recovery Plan, com investimentos em grande escala para apoiar pessoas e empresas neste caminho de saída da crise. De momento, todas as vozes parecem coincidir numa mesma linha: a recuperação da crise será verde, ou não será de todo. Este é o momento perfeito para reformularmos o nosso modelo socioeconómico, baseando-nos em critérios de sustentabilidade e resiliência. Antes da chegada do coronavírus já estávamos a traçar o caminho com o Pacto Verde da União Europeia (Green Deal), que punha 2050 como meta para a neutralidade climática. Por aqui, submetemos a Bruxelas o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) 2021-2030, que estabelece os objetivos nacionais de redução de emissões até 2030, por referência aos valores registados em 2005. Com este plano, o Governo prevê investir mais 258% na energia, chegando a ultrapassar os 13 mil milhões de euros. Ainda que o caminho esteja traçado, há que acelerar o passo: tal como disse a ONU, esta deve ser a “década da ação”, e ainda há muito por fazer. A mesma coisa afirma a Energy Transition Commission (ETC), uma coligação à qual a Schneider Electric se uniu juntamente com outros líderes nos setores da energia, da indústria, das finanças e da sociedade, e que definiu algumas das prioridades a considerar como investimentos sistémicos para o futuro. Entre elas importa mencionar a aposta em modelos de negócio mais sustentáveis, não apenas no sentido de serem respeitosos para com o meio ambiente, mas também mais resilientes. Uma das lições que a pandemia nos está a dar é que devemos estar preparados para enfrentarmos riscos sistémicos, como pode ser um vírus, mas também aqueles que podem ser provocados pelas alterações climáticas. Nesta mesma linha, há que incentivar os compromissos firmes e públicos a favor da redução das emissões, bem como as inovações que aportem ao mesmo tempo competitividade e eficiência energética. Naturalmente, é também necessário impulsionar o investimento em sistemas de energia renovável e na descarbonização, em redes de transmissão e distribuição, em infraestruturas energéticas – como, por exemplo, para o carregamento de veículos elétricos – e em acelerar os projetos renováveis. As soluções de energia limpas não apenas serão fundamentais para o cumprimento dos objetivos ambientais e para diminuir a nossa dependência energética, num contexto em que as tensões geopolíticas ganham cada vez mais protagonismo, mas também contribuirão para fortalecer o emprego. Segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA) seria possível criar mais de 17 milhões de postos de trabalho no setor das energias renováveis a nível mundial até 2030, e as receitas geradas na transformação do sistema energético poderiam alcançar os 98 mil milhões de dólares entre 2020 e 2050. Felizmente, neste momento, o contexto das energias renováveis é muito favorável. Os preços diminuíram, e em muito menos tempo do que o previsto, tanto em termos

de matéria-prima como de instalações. Segundo previsões do banco Goldman Sachs é esperado que ainda em 2021, pela primeira vez, os investimentos em energia solar eólica superem os investimentos em energia fóssil. Tudo aponta para que o conjunto de fontes de energia não contaminante represente uma quarta parte dos investimentos do setor. Contudo, não podemos esquecer que o objetivo de injetar mais renováveis na rede, em última instância, implica contar com recursos de geração muito distribuídos. Cada vez mais empresas e consumidores vão ter as suas próprias instalações, convertendo-se em prosumers (produtores-consumidores). Neste novo paradigma, e para gerir esta complexidade, as redes energéticas deverão ser mais flexíveis e mais eletrificadas. Finalmente, a digitalização é outra aposta chave. Não apenas atua como acelerador – pois tudo indica que em 2030 o setor de TI irá liderar a procura de energia –, mas também porque é o principal habilitador da transição energética. A confluência do mundo TI com o mundo TO torna possível, pela primeira vez, que aspiremos a superar o paradoxo energético: uma energia conectada e inteligente vai permitir-nos fazer mais com menos energia. Em suma, a crise de Covid-19 acelerou a necessidade de digitalização, pondo em evidência que temos de estar preparados para enfrentar riscos sistémicos de forma ágil.Tal só é possível se tivermos à disposição os sistemas conectados, o software e os serviços que nos permitam adaptar-nos de forma rápida às distintas situações, ao mesmo tempo que aceleram a nossa eficiência e robustez.

Apenas em 2019 foi possível relacionar as alterações climáticas com 15 eventos climáticos extremos, que custaram entre 1 e 10 mil milhões de dólares. Por este motivo há que apostar em redes energéticas mais ágeis e robustas, e a digitalização é fundamental para o tornar possível. Estaremos preparados para esta mudança? A tecnologia, sem dúvida, está; o que urge agora é a regulamentação e os incentivos que possam acelerar este novo panorama. A mensagem do setor é alta e clara: investir em infraestrutura de carbono zero e em soluções inovadoras é a rota mais rentável para a recuperação económica, ao mesmo tempo que assenta os alicerces para um sistema mais resiliente e mais sustentável a longo prazo.


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