dossier sobre renováveis e a melhoria da eficiência energética
impacto das energias renováveis na rede de distribuição Jorge Esteves ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
Resumo Descarbonizar, digitalizar e descentralizar, os 3 D do sistema energético, são palavras de ordem com as quais a inovação tecnológica nos faz acreditar que irá ser possível, em 2050, responder inequivocamente à urgência do combate às alterações climáticas. Implicando, antes de tudo, uma profunda alteração comportamental, os 3 D são uma oportunidade para colocar o consumidor no centro do sistema energético. O envolvimento ativo no sistema elétrico dos pequenos e médios consumidores só será possível com as redes de distribuição a terem um papel mais central e com os respetivos operadores de redes a conseguir coordenar-se, de modo mais efetivo, com o operador da rede de transporte para o sucesso da operação e da gestão global do sistema no novo paradigma energético em construção. Relevando a importância das energias renováveis e das redes de distribuição de eletricidade no sistema energético do futuro, são estas as dimensões a seguir aprofundadas. A urgência de uma resposta inequívoca de combate às alterações climáticas Com a entrada em vigor do Acordo de Paris, a Comunidade Internacional assumiu o compromisso de encontrar uma resposta global e eficaz à necessidade urgente de travar o aumento da temperatura média global e resolver os desafios ligados às alterações climáticas. O Acordo de Paris estabelece a descarbonização das economias mundiais como o meio para atingir um dos seus objetivos de longo prazo: limitar o aumento da temperatura média global a valores bem abaixo dos 2ºC, quando comparada com os níveis pré-industriais e, mais concretamente, envidar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC. Portugal deu corpo ao seu compromisso com o Acordo de Paris ao aprovar o “Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050) - Estratégia de Longo Prazo para a Neutralidade Carbónica da Economia Portuguesa em 2050”1. A Figura 1 apresenta a evolução prevista da contribuição de cada um dos setores da economia portuguesa para a trajetória de redução de emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE), que permitirá atingir a neutralidade carbónica em 2050. O setor energético é o primeiro no qual se aposta alcançar a quase total descarbonização em 2030. O sistema energético (Indústrias da Energia) contempla, de forma integrada, a produção de energia, o seu transporte e distribuição e o consumo de energia final nos diferentes setores (indústria, transportes, residencial e
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Resolução do Conselho de Ministros n.º 107/2019, de 1 de julho.
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serviços e agricultura). Partindo de tecnologias atualmente existentes e do conhecimento previsto sobre a sua evolução futura, o RNC 2050 traçou trajetórias de neutralidade com opções custo-eficazes que permitirão atingir reduções de 90% em 2050, face aos valores de emissões do sistema energético em 2005 (Figura 2).
Figura 1 Contribuição setorial para a trajetória de redução de emissões de GEE até 2050 (Fonte: RNC 2050).
Figura 2 Evolução das emissões do sistema energético até 2050 (Fonte: RNC 2050).