A concretização do ambiente luminoso: feitios e defeitos

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dossier sobre instalaçþes elÊtricas

a concretização do ambiente luminoso: feitios e defeitos Vítor Vajão Eng.º SÊnior EletrotÊcnico Especialista em Luminotecnia (OE)

Para muito boas e respeitåveis pessoas, o projeto luminotÊcnico resume-se a escolher luminårias mais ou menos bonitas, definir quantidades atravÊs de cålculos, cumprindo escrupulosamente as regulamentaçþes vigentes e distribuí-las, equilibradamente nos espaços. Se as luminårias tiverem LEDs, tanto melhor, porque conferem um aspeto inovador. Este procedimento estå longe de corresponder à essência do projeto luminotÊcnico, por ignorar os objetivos de bem ver e sentir atravÊs de ambientes propícios à atuação natural da visão, face a cada tarefa a desempenhar. Não se podem conceber sistemas de iluminação com idênticos desenhos de luz para escritórios e escolas, para lojas e museus, para habitaçþes e lares porque, em cada situação, hå exigências

Iluminar ĂŠ conceber ambiĂŞncias prĂłprias para cada funcionalidade. HĂĄ que saber olhar para poder ver, analisar e implementar. Pensar nas exigĂŞncias particulares requeridas ao trabalho visual, em cada local e no meio em que se inserem. A tĂ­tulo de exemplo do estado da arte, num inquĂŠrito para tese de doutoramento da iluminação em lares da 3.ÂŞ idade, foram inquiridos dois projetistas de iluminação responsĂĄveis por dois importantes e recentes lares. Ă€ pergunta sobre em que bases desenvolveram os projetos, um respondeu ter seguido as diretrizes comuns a um hospital e, o outro, as de um hotel. Palavras para quĂŞ? As ambiĂŞncias de luz requerem abordagens cuidadosas e abrangentes, focadas na criação de contrastes adaptativos e estimulantes, obtidas atravĂŠs do desenho de luminâncias em planos verticais e horizontais, tirando partido da volumetria e arquitetura do local. É a arquitetura da luz ou a arte de trabalhar a luz.

A SEQUĂŠNCIA DE UM PROJETO O projeto luminotĂŠcnico tem um desenvolvimento sequencial com

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çþes particulares do local, às caraterísticas construtivas do espaço, ao nível de exigências qualitativas e à previsível funcionalidade, encarando potenciais aplicaçþes do atual saber luminotÊcnico face aos meios ! "

# caminhos a tomar, em que se ponderam vĂĄrias hipĂłteses. $ % %

& determinante para o bem-estar dos utentes e para a otimização energĂŠtica: luz solar em excesso conduzirĂĄ a maiores potĂŞncias de luz elĂŠtrica para garantir luminâncias em linha com os padrĂľes de adaptação visual e contrastes harmoniosos. A 2.ÂŞ fase na construção corresponde ao desenvolvimento arqui % " ' * + $ otimização de funcionamento e fluidez de comunicação. É a parte onde a arte e saber do arquiteto se evidencia. Pois bem, tambĂŠm no projeto luminotĂŠcnico essa serĂĄ a fase artĂ­stica em que, para alĂŠm dos aspetos estĂŠticos se joga com o bem-estar dos utentes, as emoçþes e a atratividade dos espaços. O seu desenvolvimento exige conhecimentos multidisciplinares e elevada sensibilidade aos efeitos da luz nos espaços e nas pessoas. É pĂ´r em prĂĄtica os resultados do saber olhar, para poder ver e sentir. É a fase determinante do projeto luminotĂŠcnico, a sua alma, em que se desenham as ambiĂŞncias, tirando partido das caraterĂ­sticas es

+ de requerida, respeitando os ditames das boas condiçþes de atividade visual e mental. É o fazer sentir a luz, com objetividade e harmonia. As luminâncias nos planos verticais sĂŁo determinantes na concretização de ambiĂŞncias saudĂĄveis e estimulantes: permitem corrigir a perceção espacial, tornando os locais aparentemente mais amplos, mais estreitos, mais altos ou mais baixos, criar uma hierarquização espacial e atratividade, fazer sentir a conjugação da luz difusa e da luz dirigida, simulando os efeitos da luz solar, criando assim condiçþes de % / 0 eventualmente de tonalidades de luz, tĂŞm de ser implementados com diferenciais ajustados Ă capacidade de adaptação do olho. A uniformidade de iluminação sĂł ĂŠ desejĂĄvel no prĂłprio plano de trabalho, para se evitarem ambientes monĂłtonos e cansativos. A natureza isso nos mostra e ĂŠ a essas condiçþes que o olho humano se foi adaptando,


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