ARTIGO TÉCNICO
o electricista
revista técnico-profissional
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Telmo Rocha Finalista do Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores da FEUP Master em Energia
cogeração
{3.ª PARTE › A COGERAÇÃO EM PORTUGAL}
(continuação da edição anterior)
O recurso à Cogeração, em Portugal, tem um largo historial. A eficiência na utilização da energia primária para a produção de energia eléctrica e de energia térmica, que a caracteriza, permitiu uma adesão significativa, ao longo do tempo, sobretudo do sector industrial, materializada em aplicações de dimensão considerável. Lamentavelmente, verifica-se que existe ainda um potencial bastante relevante de Cogeração a explorar, com destaque para a Micro-cogeração. Na terceira parte deste trabalho, uma sucinta análise histórica é complementada com a abordagem de outros aspectos relevantes, como a influência da Cogeração no preço da electricidade para o cliente final e as alterações no contexto regulatório desta actividade, entre outros.
3› EVOLUÇÃO DA COGERAÇÃO EM PORTUGAL A produção de energia com recurso a máquinas de vapor e turbinas hidráulicas, com o objectivo de ser consumida localmente, é uma prática com bastante historial em Portugal. No nosso país, as primeiras aplicações de máquinas de vapor datam de meados do século XIX, enquanto que a utilização de turbinas hidráulicas se iniciou no final desse século. Eram empregues em utilizações puramente mecânicas ou em accionamentos de geradores eléctricos para iluminação, em corrente contínua [1]. Naquela altura, verificou-se uma disseminação de pequenos produtores com centrais termoeléctricas e hidroeléctricas, quer industriais, quer de serviço público. Foi em meados do século XX, com os grandes projectos hidroeléctricos e o consequente transporte de electricidade até aos centros urbanos, que ocorreu a substituição da energia mecânica pela eléctrica. Então, o accionamento das máquinas passou a ser efectuado directamente por motores trifásicos [1]. Este facto resultou no declínio das instalações de produção de energia, para consumo local, nomeadamente as de serviço público.
3.1› Perspectiva histórica A implementação, em Portugal, de projectos de Cogeração iniciou-se nos anos 20, do século passado. Vários sistemas de produção combinada de calor e electricidade, baseados em caldeiras e máquinas de vapor, começaram a ser instalados em unidades industriais de diversos sectores, tais como o açúcar, papel, têxtil, refinação, entre outros [2]. Mais tarde, as máquinas de vapor seriam substituídas por turbinas de contrapressão que accionavam alternadores, operando por vezes em paralelo com a rede pública [1]. Apenas em 1982, com o intuito de promover a autoprodução de energia eléctrica, foi instituída a figura do Produtor Independente, que possibilitava a ligação à então Rede Eléctrica Nacional (REN), tendo sido criadas as condições para a venda de excedentes de energia eléctrica [1]. Assistiu-se, então, a um acentuado crescimento da aplicação de sistemas de Cogeração, em Portugal, até meados da década de 90 [2]. As instalações industriais de maior dimensão, onde se verificavam consumos consideráveis de calor, sob diversas formas, e em que se verificou existir viabilidade técnica e económica, foram avançando com projectos de Cogeração, na generalidade, de pequena ou média dimensão. Destacaram-se as indústrias de derivados de madeira, da celulose, papel, têxtil, açúcar, química e da cerveja. Os fortes incentivos financeiros desempenharam, então, um papel fundamental no avanço destes projectos [1].
Pasta e Papel 54%
Química e Petróleos 40%
Têxtil 1%
Outros 3%
Alimentar 2%
Figura 1 . Desagregação da potência de Cogeração instalada, baseada em turbinas de vapor de contrapressão, em Portugal, por sector de actividade industrial [1].