LUZES
Mobilidade Elétrica* Custódio Pais Dias Director
Por razões ligadas à sustentabilidade e à grande dependência relativamente a determinadas fontes energéticas, que por diversos motivos podem desestabilizar o funcionamento das ditas economias mais desenvolvidas, nos últimos tempos muito se tem falado na mobilidade elétrica. Em algumas áreas tecnológicas, nomeadamente na área das telecomunicações, a determinada altura a evolução obrigou a uma mudança do paradigma tecnológico utilizado. Ao contrário dessa situação, desde a adoção dos motores de combustão interna para a criação de veículos automóveis nos finais do século dezanove, o desenvolvimento destes tem-se feito de uma forma evolutiva até aos dias de hoje, sem nunca se ter verificado uma alteração do paradigma tecnológico. Atualmente, dado que se percebe que o desempenho dos motores de combustão interna está próximo do seu máximo, não se conseguindo mais do que aumentos de eficiência marginais, e dada a dimensão do problema, começa a haver uma forte pressão, por parte das entidades decisoras a nível mundial, para que haja uma verdadeira alteração do paradigma tecnológico na indústria automóvel, substituindo os motores de combustão interna por motores eléctricos. Para que se faça uma ideia da dimensão do que está em causa, pode referir-se que se estima que haja mais do que novecentos milhões de veículos automóveis a circular diariamente em todo o planeta e que mais do que cinquenta milhões de novos veículos são fabricados anualmente. Além disto, o acelerado desenvolvimento económico das economias ditas emergentes (China, Índia e América Latina) faz prever um aumento na produção anual de veículos. Assim, percebe-se que seja urgente encontrar uma solução que permita aumentar consideravelmente a eficiência dos motores utilizados, o que aponta para a utilização de motores elétricos por serem os que, de longe, possuem uma maior eficiência no funcionamento.
* Texto escrito de acordo com o Novo Acordo Ortográfico.
Contudo, não se pense que esta mudança de paradigma será imediata. De facto, para que ela se verifique será necessário dar resposta a um conjunto de questões, sendo uma das mais importantes o armazenamento da energia elétrica. A energia elétrica é naturalmente fácil de transportar, mas difícil de armazenar. Além disso, até hoje não têm sido lançados grandes desafios à indústria dos equipamentos de armazenamento de energia elétrica, no que se refere ao armazenamento de grandes quantidades de energia. Daí que não tenha havido uma grande evolução nesse sentido, centrando-se o desenvolvimento noutras vertentes do armazenamento, nomeadamente na produção de equipamentos ditos “sem memória” e do aumento do seu tempo de vida útil. Dada a necessidade que agora é sentida, o esforço está atualmente a centrar-se no desenvolvimento de equipamentos aptos ao armazenamento de quantidades de energia elétrica consideráveis, com um custo razoável, que permitam dar ao automóvel elétrico uma autonomia similar ao que existe no atual paradigma tecnológico. Uma outra vertente do desenvolvimento da mobilidade elétrica é a sua relação com a rede elétrica. Nas últimas décadas também os Sistemas Elétricos de Energia têm sofrido uma mudança de paradigma no que se refere à produção de energia elétrica, passando de uma produção unicamente concentrada a uma produção “mista”, em que coexiste a produção concentrada e a produção distribuída, com múltiplos pequenos e médios produtores, baseados em energias renováveis. Este novo conceito de consumidor, que simultaneamente poderá ser produtor de energia elétrica, tende a espalhar-se com o tempo e será de prever que à medida que este avance o número de pontos de injeção de energia na rede aumente muito consideravelmente. Para que este cenário possa verificar-se em pleno, a rede terá de evoluir para o que é conhecido como “smart grid” e, quando isso acontecer, poderemos esperar uma grande interação entre os veículos elétricos e a rede, no que se refere a fluxos de energia elétrica, o que previsivelmente promoverá o aumento da eficiência de ambos e tornará o seu funcionamento mais sustentável.