Dossier Técnico
Pedro Coelho Membro da Direcção da APMI - Associação Portuguesa de Manutenção Industrial Presidente da Comissão Técnica CT94 - Comissão Técnica 94 - "Manutenção Industrial" Artur Rangel Coordenador de Subcomissão SC01 da Comissão Técnica 94 - "Gestão da Manutenção" Ferreira Augusto Presidente da Direcção da APMI - Associação Portuguesa de Manutenção Industrial
A Normalização na Manutenção 1 - A Normalização Curiosidades Diz-se que a Normalização é tão velha como o mundo. Percebemo-lo quando observamos o Universo e a sua evolução, quando observamos os fenómenos que, ciclicamente, se repetem na natureza. Na sua luta pela existência, através da sobrevivência dos mais aptos, as espécies vão-se dotando de determinadas características que lhes permitem adaptar-se a novas condições do meio ambiente. Mas fazem-no, desenvolvendo características que têm uma matriz comum às diferentes espécies. Como estamos a celebrar Darwin pela publicação, há 150 anos, do livro que definiu o entendimento da vida e do mundo, “A Origem das Espécies”, pode dizerse que a evolução das espécies se processa através da selecção natural com base na uniformização, na normalização. O resultado desta normalização revela-se em cada espécie e no seu conjunto. A esmagadora maioria das espécies de animais têm uma cabeça, uma coluna vertebral, quatro membros, uma boca, dois olhos, um nariz, dois canais auditivos... É a Normalização da Evolução, da Natureza. Verificamos pois, que a normalização é intrínseca à vida, e por isso, inerente à natureza humana, fazendo parte dela. Talvez o gesto tenha sido uma das primeiras normas do homem. Outra das normas mais antigas é a palavra falada. Se as palavras não tivessem significados definidos, nunca nos entenderíamos. A origem da normalização vem desde os mais remotos tempos da cultura humana. Nos tempos antigos, a vida da comunidade era governada pelos costumes e pelas regras comuns, o que fez surgir os primeiros padrões de vida: regras em família; linguagem comum; escrita figurada; símbolos fonéticos; roupas; religião; divisão do tempo; forma e tamanho das coisas; pesos, medidas; leis; etc. Ao longo da História e da vida são muitos os exemplos de normalização: a arquitectura das pirâmides egípcias; os tijolos romanos da antiguidade; os vasos marcados e certificados da Antiga Palestina, no tempo em que Jesus viveu e Paulo de Tarso pensou e lançou as sementes do que viria a ser o Cristianismo, um dos movimentos da Normalização da Fé e da Religião, a par do Judaísmo e do Islamismo; a Música que tem com base e normalização sete notas musicais, só sete sons, com os quais se compõem as mais belas melodias musicais; a Pintura que tem como base e como norma 3 cores primárias que com as suas combinações permitem fazer quadros belíssimos; as unidades de medidas, braço, pé e passo até ao sistema métrico actual; a imprensa de Gutenberg, que usava
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tipos móveis permutáveis entre si e da mesma altura para que se conseguisse imprimir e que deu origem à normalização da palavra escrita, e consequentemente à divulgação do conhecimento; a normalização da palavra falada através do meios audio-visuais; a normalização dos procedimentos de acesso à Internet que, depois da imprensa de Gutenberg e da Televisão é o mais revolucionário e mais poderoso meio de divulgação do Conhecimento. E tudo isto se processa com regras, com normas. Em qualquer parte do mundo o acesso faz-se da mesma maneira. É a normalização no acesso ao conhecimento; etc; etc.
Figura 1 - Prensa de Gutenberg: A normalização da escrita e do conhecimento.
Como se verifica, a Natureza e a Vida ensina-nos que a Normalização deve ter por base regras simples, permitindo a criatividade. A Normalização deve indicar qual o caminho a percorrer, mas deve dar a liberdade a cada um de o percorrer da melhor forma que puder. Enfim, o Homem desenvolve toda a sua actividade, desde a mais simples à mais criativa, através de regras, de procedimentos, de normas. Sempre desenvolveu a sua actividade com base na uniformização, na normalização.
Normalizamos para simplificar a vida, eliminar esforços desnecessários em tarefas repetitivas, evitar ou minimizar desperdícios, aproveitar melhor o tempo. Enfim, para melhorar a nossa qualidade de vida.