18 | Dossier sobre Perturbações Cognitivas e Envelhecimento
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Demência 9DVFXODU
Um estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), apurou que “a principal causa de demência em Portugal estará relacionada com fatores vasculares e não com DA”, ao contrário do que acontece na maior parte dos países da Europa Ocidental [5].
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Mafalda Barbosa, 2Joel Brás, 3Horácio Firmino
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Médica Interna de Psiquiatria do Centro Hospitalar de Leiria, 2Médico Interno de Psiquiatria do Centro Hospitalar e 3
Universitário de Coimbra, Coordenador da Gerontopsiquiatria, Diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Introdução A Demência Vascular (DV) resulta de diferentes tipos de lesões vasculares do tecido cerebral, conduzindo a um quadro clínico heterogéneo, pautado por alterações cognitivas, motoras e sensitivas focais [1]. Até ao final dos anos 60 (séc. XX), pensava-se que a demência senil se devia a um processo de aterosclerose cerebral [2]. Na década de 90, com a identificação de vários mecanismos vasculares causadores de demência (isquemia crónica da substância branca subcortical, microenfartes), surgiu o conceito de DV [39]. Recentemente, foi proposta a designação “Doença Cognitiva Vascular”, que inclui o Défice Cognitivo Ligeiro Vascular (DCLV), a DV e a Demência Mista (DM) [1]. O DCLV manifesta-se por dificuldades de memória e de concentração sem grande impacto no quotidiano, lentificação psi-
comotora, depressão, lesões vasculares na Ressonância Magnética. Metade dos casos de DCLV progride para demência em 5 anos [1].
Epidemiologia A DV pura corresponde a cerca de 10% de todas as demências, geralmente no contexto de AVC extenso [2][3]. É o tipo mais comum de demência de etiologia não degenerativa [1]. É frequente surgir demência de várias etiologias num mesmo indivíduo, e a expressão clínica de qualquer demência é mais exuberante perante doença vascular comórbida [2]. Dado o envelhecimento populacional, a sua prevalência tem aumentado, é cerca de 9 vezes superior em indivíduos com antecedentes de AVC [1]. A generalidade dos estudos tem utilizado critérios rígidos de DV. Crê-se que a sua taxa de incidência na prática seja superior [2].
Etiopatogenia A DV resulta de lesões vasculares cerebrais isquémicas, hipóxicas ou hemorrágicas, que individualmente ou em associação, conduzem a um quadro demencial [3]. A etiologia mais comum é a isquemia de pequenos vasos. Na DV de grandes vasos, a demência por multienfartes é a mais prevalente [3]. A Tabela 1 resume os tipos de DV e as suas principais caraterísticas clínicas. Na Tabela 2 estão resumidas as principais diferenças entre demência cortical e demência subcortical. Os fatores de risco (FR) são sobreponíveis aos de AVC e podem ser não modificáveis: idade avançada, sexo masculino, raça não caucasiana, baixo peso à nascença, genéticos; ou modificáveis: baixa escolaridade, HTA (FR mais importante para a doença de Binswanger), hipotensão ortostática, insuficiência cardíaca congestiva, cirurgia cardiovascular, fibrilhação auricular e outras arritmias, doença coronária, doença cardíaca embólica, diabetes mellitus, dislipidemia, híper-homocisteinemia, consumo de tabaco e álcool, apneia do sono, e FR de AVC [1][4].