Sexualidade e continência, uma relação de proximidade

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12 | Dossier sobre sexualidade

Sexualidade e continência, uma relação de proximidade Alexandre Frias Pinto Mestrado de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Especialista em Medicina Interna Geral (FMH, Suíça) e subespecialista em Geriatria (FMH, Suíça).

A “(...) a capacidade de nos mantermos continentes envolve muitos dos mesmos aspectos que participam na sexualidade humana.”

Artigo redigido no Antigo Acordo Ortográfico

sexualidade humana, independentemente da faixa étaria, é um domínio complexo, envolvendo aspectos culturais e religiosos, psicológicos e relacionais, assim como físicos, ligados ao funcionamento do nosso corpo. Mesmo no que diz respeito ao corpo humano, vários sistemas podem intervir, segundo os momentos e os indivíduos, sendo muito redutor restringirmo-nos aos orgãos genitais. Sendo impossível abordar todos estes domínios de forma adequada num pequeno artigo, e reconhecendo a complexidade do tema em geral, inclusivamente que a sexualidade não se resume ao coito, tenciono focalizar-me num tema mais específico: a associação da incontinência urinária com a sexualidade. O objectivo deste artigo será portanto fazer um apanhado dos aspectos que podem ter em comum, como se podem influenciar e, acima de tudo, tentar transmitir a ideia que este problema não é uma inevitabilidade do envelhecimento, nem tão pouco algo sem solução. A incontinência urinária, definida como a perda involuntária de urina numa quantidade suficiente para constituir um problema social ou de higiene (International Continence Society, 2001), pode ter muitos elementos em comum com disfunções sexuais e, mais especificamente, dos orgãos genitais e reproductores. Na realidade,

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a capacidade de nos mantermos continentes envolve muitos dos mesmos aspectos que participam na sexualidade humana. De forma resumida, para sermos continentes, necessitamos do funcionamento adequado dos seguintes grandes sistemas ou funções: »» Uma bexiga capaz de se dilatar o suficiente, e de se esvaziar no momento certo; »» Os esfíncteres, um sistema de contenção da urina, que possam manter-se fechados quando necessário, resistir a aumentos de pressão (por exemplo, tosse), e relaxar-se correctamente quando devem, isto associado a um sistema de esvaziamento em bom estado (comunicação entre a bexiga e o exterior); »» Um sistema nervoso central e periférico intactos: a presença das estruturas responsáveis pelo controle dos elementos mencionados acima, assim como uma boa ligação e coordenação entre as diferentes estruturas, para que funcionem de forma sincronizada. Estas estruturas e nervos são praticamente as mesmas responsáveis pelo controlo e sensibilidade dos orgãos genitais e sexuais; »» Cognição e humor suficientes: a capacidade para reconhecer quando devemos ir ao WC, de programarmos as nossas


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