Alimentação no idoso: é também um processo sociocultural

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26 | Dossier sobre Nutrição

Alimentação no idoso: é também

um processo sociocultural

Assunção Nogueira1 & Zaida Azeredo2 Especialista em Enfermagem Comunitária, Doutorada em Educação, Docente na ESSVS, IPSN, IINFACTS, CESPU

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Médica de Medicina Familiar; Doutorada em Saúde Comunitária; Coordenadora da RECI/ Piaget Viseu

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Introdução

“Comer é também um ato sociocultural que tem sofrido, tal como a sociedade, mudanças ao longo dos tempos.”

Alimentar-se constitui uma necessidade básica de todo o ser vivo, fundamental para assegurar o crescimento, conservar a saúde e manter o equilíbrio e sobrevivência da espécie. Comer é também um ato sociocultural que tem sofrido, tal como a sociedade, mudanças ao longo dos tempos. Assim as refeições têm sido através dos tempos, momentos de convívio, momentos educativos, de socialização, de discussões intelectuais, de negociações, construções de paz ou geradoras de conflitos/ conspirações, entre outros. Podemos pois dizer que o ato de comer é uma interação social com o(s) outro(s) e/ou com o meio. Por outro lado, a alimentação constitui-se por si só, como uma fonte de investigação riquíssima, não só numa análise sociocultural, mas também como determinante no binómio saúde-doença e no envelhecimento (individual e coletivo), que por muitos seculos foi negligenciada, vindo a ser reconhecida como tal, de forma científica, apenas na 2.ª metade do seculo XX e neste século. Mintz (2001) cit por Azevedo (2017) afirma que: até 1980 o estudo antropológico da comida, apesar de gradualmente crescente, ainda não era assumido como tema de relevância antropológica, o que só veio a acontecer com o aparecimento de um mercado

© freepik

mundial de alimentos, a partir da década de 1990 (Azevedo, 2017). Tal como as sociedades, a alimentação e o ato de comer têm aumentado em complexidade necessitando, para sua compreensão global, da “cumplicidade” interdisciplinar de disciplinas como nutrição, saúde, agricultura, moda, ciências jurídicas e políticas, antropologia, sociologia e psicologia, entre outras. Para Azevedo (2017), a produção de alimentos envolve complexas interações humanas e naturais que se foram complexificando no decorrer do desenvolvimento da humanidade e acabaram por expor imbricadas relações de poder e iniquidades, bem como repercussões ambientais, sociais e sobre a saúde humana, que se tornaram objeto de clamor de diferentes movimentos sociais e ambientais (Azevedo, 2017). A produção dos alimentos e a subjetividade na escolha dos mesmos, bem como no seu uso e confeção, ajuda a compreender e reconhecer grupos socioculturais e consequentemente a planear intervenções educativas/comunitárias. Assim, a alimentação é um símbolo de identidade que pode sofrer processos de adaptação mais ou menos ajustados a cada situação, e que pode ser determinado também por áreas geográficas, migração, envelhecimento e fatores econó-


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