Impacto do internamento hospitalar em tempos de pandemia no doente e na família: o papel do assisten

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A Voz de | 15

Impacto do internamento hospitalar em tempos de pandemia no doente e na família:

o papel do assistente social Carla Costa Assistente social no Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Mestre em Gestão de Serviços, Formada em

máticos e provocam, não raras vezes, alterações cognitivas e comportamentais. Podemos sistematizar como principais preocupações dos familiares em relação ao doente, nesta fase: Dimensão

Preocupação Se todos os procedimentos

Cuidados e

médicos possíveis estão a ser

procedimen-

realizados, se está a ser bem

tos clínicos

tratado, se realmente está a melhorar; Se caminha, se come pela sua

Funcionali-

própria sua mão, se está capaz

dade

de ir à casa de banho, se está consciente e orientado; Se tem dormido bem, se está a alimentar-se, se tem roupa ad-

Conforto

equada, se está confortável, se

e imagem

tem dores; se tem consigo tudo o que precisa e o pode fazer

Supervisão em Serviço Social, Estratégias de Comunicação na Doença Avançada, Comunicação Positiva, oradora

sentir melhor; Se está triste, se está bem disposto, se está sereno/revolPsicológicos, emocionais e espirituais

tado, se tem lidado bem com a doença, se tem consciência da sua condição de funcionalidade/ de doença e se e com quem tem falado sobre isso, qual a sua expectativa de vida.

Estas preocupações não esgotam o conjunto de manifestações com as quais nos confrontamos, contudo, dão conta de que as famílias vivenciam muitas vezes sentimentos de insegurança e angústia. Também para os próprios doentes internados esta situação de impedimento de visitas se pode consubstanciar como um momento de angústia e sofrimento, como podemos ilustrar através dos casos apresentados. © freepik

O

envelhecimento da sociedade é uma realidade à qual se associam índices de dependência acrescidos e necessidade de cuidados, aumentando pressões sobre o sistema de cuidados, quer das respostas sociais e privadas existentes, quer das próprias famílias (Guerra 2019; Sequeira, 2018). Esta realidade em contexto do Serviço Social no âmbito da saúde coloca desafios na preparação dos cuidados para o domicílio. Este artigo é um relato da experiência enquanto assistente social no Centro Hospitalar do Porto, numa enfermaria não Covid-19, sustentado numa análise bibliográfica sobre o tema. Pretende retratar as principais preocupações dos doentes e familiares em tem-

po de pandemia, contexto no qual as visitas estão interditas. O internamento hospitalar constitui-se, habitualmente, um momento de crise e stress para as famílias, acarretando alterações psicossociais no doente, na família e/ ou rede de suporte. Por vezes é vivenciado como um momento de sofrimento, ansiedade, incerteza, insegurança e solidão. Pode também significar ameaça à vida, à integridade, restrição de movimentos, num ambiente desconhecido e, agora, sem pessoas familiares que normalmente tranquilizam e ajudam a minimizar o impacto negativo no doente. Os internamentos, principalmente os mais prolongados, podem ser mais trau-

Análise de casos Caso 1 Um homem de 53 anos foi diagnosticado com uma neoplasia do pâncreas em estado avançado, com um mau prognóstico a curto prazo. Vive com a esposa e com os 2 filhos de 14 e 20 anos. Esta família atravessa uma situação de insuficiência económica devido ao desemprego de ambos os elementos do casal. O doente pediu para ir uns dias a casa, mesmo sem os sintomas da doença totalmente controlados. Verbalizou: “não estou a aguentar estar longe dos meus filhos, da minha família (…) entrei com uma dor de barriga e saio daqui com um cancro em estado avançado, sem saber o que esperar daqui para a frente”.


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