20 | Dossier sobre Formação
A formação na área da Gerontologia face ao imperativo da biodegradabilidade do conhecimento Professora e consultora na área do Serviço Social e da Gerontologia Social
A “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda” (Paulo Freire)
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Carla Ribeirinho
Gerontologia, enquanto área de encruzilhada de várias disciplinas, é um território de investigação e de intervenção influenciado por múltiplos fatores, de ordem pessoal, interpessoal e social, apresentando uma prática fortemente contextualizada. Atualmente enfrenta uma agenda plena de desafios e de oportunidades. Individualização, fragmentação, territorialização, globalização, incerteza, reestruturação do Estado Social, são alguns dos processos que enformam a intervenção nesta área no presente, influenciando também as suas práticas e a sua base de saber. Esta complexidade e imprevisibilidade que caracterizam as sociedades contemporâneas e as problemáticas dela emergentes, colocam o foco na necessidade imperiosa de renovação permanente das competências dos profissionais e da forma como as mesmas são mobilizadas nos diversos contextos de intervenção (Albuquerque e Arcoverde, 2017). Desta forma, a qualificação dos profissionais desta área implica que sejam cidadãos e agentes ativos, críticos e reflexivos de ação e de transformação, mas também de produção de saber. Trabalhando nesta área da formação e supervisão de estudantes e profissionais na área da Gerontologia, uma preocupação que guia a nossa reflexão é perceber de que forma estes podem navegar na complexidade de uma sociedade em permanente mudança e dentro da qual têm de desenvolver a sua ação. Como desenvolvem os profissionais a capacidade para enfrentar de forma eficaz a incerteza, o risco e a complexidade, respeitando as dimensões éticas da sua intervenção?
Para tentar responder a estas preocupações, postulamos uma prática profissional sistematizada e analisada, ou seja, uma prática profissional reflexiva, alimentada de forma sistemática por processos de formação qualificada. Uma reflexividade que mobilize processos de aprendizagem perante situações novas que exigem respostas novas, que ultrapasse as práticas rotineiras, mecânicas e imediatistas e que se configure como uma ferramenta de melhoria permanente da intervenção.
Esta posição, de alguma forma, decorre do entendimento do princípio da obsolescência do conhecimento, e da necessidade de uma contínua adaptação de capacidades e competências face às exigências do mercado de trabalho, contrária à visão de uma formação “para sempre” (Carmo, 2014). Perante os desafios que se colocam na sociedade atual, uma das primeiras ações a empreender é a sua desocultação, no sentido da construção de estratégias alternativas para os enfrentar, através do exercício contínuo de reflexão na e sobre a ação. Estes re-