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Envelhecimento e longevidade O que estamos a perder? Bruno Trindade e Ricardo Pocinho1 Professor Investigador
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nosso corpo é um “maquinismo” complexo com várias estruturas que trabalham em conjunto, composto por biliões de células e com órgãos e sistemas que trabalham sem parar independentemente da nossa atividade. A dormir ou acordados, tudo nele está ligado direta ou indiretamente, por esse motivo deparámo-nos, minuto a minuto, segundo a segundo, com o envelhecimento. O tempo, a forma como o vivemos, é implacável. Queremos mais qualidade no dia a dia, como nos nossos minutos ou segundos do dia… procuramos, numa corrida desenfreada em busca do futuro “perfeito”, do melhor dia… a longevidade que vai permitir refletir os nossos erros. As decisões da vida ampliam os horizontes para uma vida onde as experiências, novidades e mudanças ganham forças na procura da felicidade e de um envelhecimento melhor. Vivemos numa cultura materialista, na preocupação do futuro perfeito, na vertente económica, deixando o essencial para trás. Quando se procura a “poção mágica” para a felicidade… que caminhos devemos percorrer, como devemos fazer… não existe
“receita”, existem muitas perguntas e poucas respostas, que não queremos seguir… apesar de conhecermos os sinais, não temos tempo para ouvir, sentir e refletir… Hoje em dia, procuramos algo que não sabemos. Corremos na procura de algo desconhecido, por termos perdido a nossa conetividade ao mundo social e humanizado. Estamos a perder a conexão humana, estamos a passar para um mundo de conexões tecnológicas, que nos dá e proporciona tudo em termos visuais e determina o nosso pensamento. Devido à grande correria do dia a dia, por causa das tecnologias, da procura de “sucesso”, de ganharmos mais, de subir no estatuto social, do que não sabemos… andamos sempre à procura.
“A dormir ou acordados, tudo nele está ligado direta ou indiretamente, por esse motivo deparámo-nos, minuto a minuto, segundo a segundo, com o envelhecimento.”
A tecnologia centra-nos num mundo de incessante insatisfação, à procura do melhor plano fotográfico, da melhor imagem, da realização imediata de mais informação fidedigna ou não! Mas afinal, quais são os ingredientes para a felicidade, para podermos alcançar a “cereja no topo do bolo”? Para alguns o descanso, para outros o trabalho, uma agenda muito ou pouco preenchida, sensação ou emoção, ter mais ligações socais, relações emocionais, bem-estar, lazer e diversão… Mas o que nos faz realmente felizes? A chave para podermos abrir o caminho da felicidade, está a perder-se. A essência do ser humano, a socialização, perdemos a sensibilidade e a capacidade de compreender os outros. Navegamos em nós mesmo, com num ego na procura do “grandioso”, do sucesso. Deixamos de observar o mundo que nos rodeia com o olhar sensível, perdemos a capacidade de pedir ajuda e de ajudar, minimizamos a habilidade da socialização e da sensibilidade, quando um dos segredos está nas coisas mínimas do dia a dia, onde a beleza dos atos simples se transforma num sorriso, num afeto ou num carinho.