Educação e desenvolvimento comunitário

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A Voz de | 11

Educação e desenvolvimento comunitário Assunção Nogueira1 e Zaida Azeredo2 Especialista em Enfermagem Comunitária, Doutorada em Educação, Docente na ESSVS, IPSN, IINFACTS CESPU

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Médica de Medicina Familiar; Doutorada em Saúde Comunitária; Coordenadora da RECI (Research Unit in Education and Community Intervention)

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Introdução O Homem é um ser mutável que está em permanente interação com o seu meio, influenciando-se mutuamente[1]. Porém, nem todas as mudanças se processam à mesma velocidade. Numa sociedade quanto mais bruscas e/ou complexas forem essas mudanças maior será a probabilidade de haver desigualdades sociais, marginalidade e/ou conduzir a problemas de saúde individuais e/ou coletivos. Em cada sociedade, há situações que mudam mais rapidamente (ex.: alterações demográficas) do que outras, sobretudo se nestas últimas há fatores culturais envolvidos (ex.: crenças e estereótipos), porém, só a participação do cidadão permite contribuir para uma confluência destas situações fazendo com que a sociedade evolua no sentido de uma cidadania plena. Qualquer mudança social implica uma rutura com um passado, causando alguma perturbação na estabilidade social, isto é, alguma desorganização e confusão. Segundo Edgar Morin (1997), esta desorganização é

necessária para que haja progresso e desenvolvimento, mas o importante é que se lhe siga um período de estabilidade para que as mudanças sejam assimiladas e profícuas[2,3]. Este período de estabilidade também é importante para que a sociedade possa recuperar aqueles cidadãos que estão na eminência de serem socialmente excluídos, porém, quando prolongado no tempo pode trazer inércia e repetição, não se sentindo, por isso, a necessidade de mudança e a necessidade de se prepararem mudanças. Com as novas tecnologias de informação e de comunicação há uma aprendizagem constante, mais ou menos veloz, que causa inquietações no ser humano, apelando por isso a novos conheci-

“A complexidade é um progresso de conhecimento que traz o desconhecido e o mistério”

mentos científicos e novas experiências, isto é, a mudanças. Por isso, à medida que estas mudanças se tornam mais complexas, acompanhando a crescente complexidade das sociedades, mais difícil se torna conseguir períodos de estabilidade mais ou menos prolongados. Como Edgar Morin afirma, “A complexidade é um progresso de conhecimento que traz o desconhecido e o mistério”.[2,3] Por vezes estas transformações são impercetíveis, mas vão-se acumulando, influenciando de forma mais ou menos silenciosa a sociedade e a respetiva economia até que surge a necessidade imperiosa de mudar. Podemos pois afirmar que, subjacente a uma mudança social está sempre um conjunto de fatores mais ou menos complexos. Porém, para que a mudança social tenha um impacto mais ou menos duradouro, que permita, assim, um período de estabilidade social e de recuperação de cidadãos em perigo de exclusão social, é fundamental que as transformações operadas não sejam superficiais e possam ser mensuráveis no tempo, uma vez que normalmente atingem as estruturas de uma sociedade. Em todo o processo de mudança é fundamental a educação do cidadão. A educação deve assim ser interpretada em termos de instrução e educação e em termos de cidadania.

Educação do cidadão A educação visa não só desenvolver o sentido de responsabilidade individual e coletivo do Homem perante a vida, mas também dotá-lo de um conjunto de ferramentas, que lhe permita compreender melhor as mudanças sociais e aderir de forma consciente a elas. Por isso a educação deve ser um processo contínuo em que a observação, o pensamento/reflexão e a reformulação são essenciais, entrelaçando-se num emaranhado que vai evoluindo em espiral. Permite, assim, aumentar a autoconsciência e capacidade para enfrentar acontecimentos de vida e escolher de forma consciente comportamentos. É um processo que se deve estender ao longo de todo o ciclo vital, porém, a educação deve ser adaptada a cada etapa da vida e a cada contexto situacional e socio-cultural[4]. A educação, para além de tornar o cidadão mais assertivo, aumentando-lhe a sua consciência sociopolítica, potencializa a possibilidade de aquele agir de forma altruísta com os outros, capacitando-o de habilidades para interagir com o meio. Assim estará mais apto a ter um comportamento participativo e a colaborar no desenvolvimento da socieda-


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