Úlceras por pressão no idoso

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6 | Nutrição

Úlceras por pressão no idoso Susana Arranhado Nutricionista e docente na Escola Superior de Saúde do Politécnico de Leiria e na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches

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or definição, úlcera por pressão é uma lesão na pele (ferida) causada pela interrupção sanguínea numa determinada área do corpo, que se desenvolve devido a um aumento de pressão, por um período prolongado dos tecidos moles entre proeminências ósseas e a superfície externa (Rocha, 2006). No fundo, são feridas provocadas pelo peso ou pela fricção do corpo sobre a cama, cadeira de rodas ou cadeirão, quando se permanece muito tempo na mesma posição. Desenvolvem-se nas zonas do corpo de maiores saliências ósseas (nuca, orelhas, ombros, na região sagrada, nádegas, trocânteres, cotovelos, tronco e calcanhares) e vão depender da posição que a pessoa mantiver durante mais tempo (Rocha, 2006). A idade avançada é um dos fatores de risco para o aparecimento das úlceras por pressão (NPUAP/EPUAP/PPPIA, 2014). Mas existem outros igualmente relevantes, tais como a humidade, a imobilidade e a diminuição do aporte alimentar. Com a desnutrição agravam ou desenvolvem-se as úlceras por pressão, especialmente em idosos anémicos (Esquema 1). Estas deficiências graves levam a uma diminuição da força muscular. Quanto menor for a força muscular, maior é o risco de desen-

volver feridas, uma vez que decresce a tolerância dos tecidos para suportar a pressão. Quando se trata de terapêutica nutricional na cicatrização de úlceras por pressão, é necessário compreender-se o processo inerente ao tratamento das mesmas. De seguida, descrevem-se sucintamente as diferentes etapas. A cicatrização como processo dinâmico compreende três fases distintas, com o propósito de restaurar as características do tecido lesado (Stechmiller, 2010; Thornton, 1997). Cada fase do processo cicatricial exige a presença e a atuação de nutrientes específicos (Utley, 1992). Na verdade, a nutrição e a cicatrização de feridas estão interligadas, tanto que uma boa nutrição é determinante para o sucesso do tratamento das úlceras por pressão.

“(...) úlcera por pressão é uma lesão na pele (ferida) causada pela interrupção sanguínea numa determinada área do corpo, que se desenvolve devido a um aumento de pressão, por um período prolongado dos tecidos moles entre proeminências ósseas e a superfície externa(...) ”

A primeira fase que se inicia aquando da lesão e que se desenvolve até cerca de três a dez dias (Mayes, 2001; Stechmiller, 2010) é denominada fase inflamatória. Esta primeira etapa prepara a ferida para a cicatrização. Primeiramente ocorre coagulação, processo importante na proteção da ferida contra contaminações e na prevenção de hemorragias. É o tecido lesado em conjunto com as plaquetas que estimula a cascata da coagulação. De facto, as plaquetas têm um papel fundamental na cicatrização, uma vez que contêm fatores de crescimento importantíssimos nesta fase e agregam-se às paredes dos vasos originando um tampão (hemóstase ou coagulação). De seguida, ocorre vasodilatação que dá início à inflamação. Observa-se calor, edema e dor. O aumento da permeabilidade do capilar permite a migração de células imunitárias para a zona lesionada: entre 24 a 48 horas os neutrófilos chegam à ferida; os monócitos transformam-se em macrófagos 48 a 96 horas após a lesão. Compete a estas células desbridar a superfície e a defesa contra invasores (através do fenómeno de fagocitose). Igualmente macro e nutrientes são recrutados e participam nestas reações, dos quais se destacam as proteínas, os aminoácidos e as vitaminas A e K, sendo por isso fulcrais nesta fase (Mayes, 2001; Utley, 1992). A segunda fase, fase de granulação ou proliferativa, ocorre geralmente a partir do quarto dia. Distinguem-se por 4 etapas


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