Entrevista | 49
“Estamos aqui para ajudar, para tornar a vida dos outros um pouco mais fácil”
texto e fotos por
André Manuel Mendes
Ajudar os outros é mais do que uma simples ação, é dar um pouco de nós a quem mais precisa, é falar a “linguagem do amor”. Cristina é cabeleireira e Susy trabalha na área da protética dentária, e entre os afazeres do trabalho e da família do dia a dia, conseguem encontrar um espaço na sua agenda para ajudar quem mais precisa. São ambas o rosto da Ajuda Para Todos (APT), um grupo de amigos que se juntou para tentar chegar a todos que precisam de ajuda, sejam eles sem-abrigo ou famílias carenciadas. Todas as sextas-feiras este grupo de pessoas tem a disponibilidade para dar uma refeição quente aos sem-abrigo da Baixa do Porto1, e diariamente procuram dar resposta às necessidades de cidadãos e famílias carenciadas. A revista Dignus foi conhecer de perto este projeto e paixão de Cristina e Susy, duas mulheres que têm apenas um grande objetivo, “tornar a vida dos outros um pouco mais fácil”. 1
Estima-se que sejam perto de 600 os sem-abrigo apenas na cidade do Porto.
Dignus: Como nasceu a APT e em que consiste esta iniciativa? Susy Freire (SF): A APT foi fundada depois de eu ter feito voluntariado noutro grupo, que não me preenchia na totalidade, optando assim por criar um grupo próprio com o intuito de ajudar famílias carenciadas e sem -abrigo. Dignus: O que fazem nas vossas ações, desde a etapa de preparação até irem para o terreno? SF: Primeiramente temos que angariar e preparar a semana, ver quem vai fazer a sopa, quem é o restaurante que vai cozinhar, senão temos que procurar quem cozinhe as refeições. Eu cozinhei durante dois anos para a APT, fechava a minha empresa às 17h, mas neste momento não me é possível porque o restaurante onde eu cozinhava fecha mais cedo. Por sorte temos a Cristina que nos deixa cozinhar no seu salão porque senão tínhamos que sair para a rua apenas com sandes. Mas arranjava-se sempre alguma coisa para eles comerem, sendo que a sopa é o essencial e tentamos sempre que nunca falte. Dignus: Quando são as vossas saídas para a rua?
Cristina Moreira (CM): A nossa saída é à sexta entre as 20h30 e as 20h45, mas como a cozinha que aqui tenho é pequena tenho que cozinhar enquanto trabalho, fazendo depois as recolhas pelo caminho. Eu tenho que colocar o fogão a funcionar pelas 17h. Normalmente os restaurantes dão massa com acompanhamento, é algo que preenche o estômago das pessoas e é fácil de se fazer. Quando confeciono as refeições no salão tento fazer algo diferente para as pessoas, aproveitando o que os doadores nos dão de boa vontade. Temos que juntar todos os grãos que recebemos durante a semana para que há sexta-feira tenhamos farinha feita. SF: Temos que nos preocupar com o que vamos ter para a próxima semana, mas temos que ter sempre alimentos em stock. Tentamos que nunca falte stock para irmos para uma sexta-feira com tudo aquilo que eles merecem. Dignus: A equipa da APT é composta por quantas pessoas? CM: É muito variável. Devemos destacar que para além dos sem-abrigo que apoiamos na Baixa da cidade do Porto, também ajudamos algumas famílias com necessidades que são por nós identificadas. Normalmente dividimos a tarefa entre as duas, a Susy assegura o stock para essas famílias enquanto eu asseguro o stock para a Baixa. E quando falamos em stock não falamos apenas de comida, mas também de pratos, guardanapos, colheres, copos. Temos também que ter capacidade para doar o “Kit do dia seguinte”, um saco com mais uma refeição para o dia seguinte composto por um sumo, sandes, bolachas e fruta, para que não estejam sem comer nada durante um longo período de tempo. SF: Queremos garantir que estas pessoas tenham mais uma refeição porque depois do