6 | Espaço Associação Coração Amarelo
O desafio da sustentabilidade
S Isabel Baião Socióloga responsável pela área de Projetos, Parcerias e Fundraising da Delegação de Lisboa
ustentabilidade, esta palavra soa familiar aos nossos ouvidos, principalmente quando falamos de questões ambientais, mas hoje venho propor-vos uma reflexão diferente: como é que associações sem fins lucrativos sobrevivem nesta economia de mercado em que ouvimos falar do setor público, do setor privado, mas muito pouco do terceiro setor. Tomemos como exemplo real a prática vivida na Associação Coração Amarelo – Delegação de Lisboa. Esta Associação tem por missão apoiar e acompanhar as pessoas idosas, da cidade de Lisboa, que se encontrem em situação de solidão e/ou isolamento ou em risco de virem a estar. Sendo uma entidade enquadradora de voluntariado, assegura esta missão através de um grupo de voluntários enquadrados por uma equipa técnica de retaguarda responsável pela integração, acompanhamento e supervisão do trabalho destes voluntários. Aposta na inovação de uma resposta qualificada e diferenciada que se coaduna com contextos pessoais e sociais em permanente desenvolvimento. A possibilidade de dispor deste enquadramento técnico advém da existência de um acordo atípico de cooperação com o Centro Distrital da Segurança Social, o qual assegura a atribuição de um subsídio mensal correspondente aos vencimentos dos colaboradores, MAS pago 12 vezes ao ano. Ora, evidencia-se desde já um desfasamento nas obrigações contratuais a que a delegação está sujeita, na medida em que, a Lei do Trabalho determina o pagamento de 14 meses de vencimento a trabalhadores com vínculo contratual. Acrescem a este fosso, as contribuições por conta da entidade, para a Segurança Social e para a Fazenda Pública que também não se encontram refletidas neste subsídio, os Seguros obrigatórios de Acidentes de Trabalho e ainda os Planos de Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho. Tal como qualquer outra organização, independente da sua natureza jurídica ou área de atuação. Daqui resulta que muito do trabalho das equipas de gestão que têm exercido funções nesta delegação se tem concentrado, na procura de soluções financeiras para cobrir os custos fixos a que se encontra obrigada, quando o desafio principal seria o desenvolvimento da própria resposta social que preconiza. Como podemos vencer este obstáculo? O desafio é gerar fontes alternativas de receitas para além das expectáveis neste tipo de as-
“(...) é preciso que cada um questione o que faz, como faz, para que faz e para quem faz, para que possa desenvolver um trabalho cada vez mais eficaz e adequado aos desafios que se apresentam.”
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sociações: quotas de associados e alguns donativos pontuais. Para além de procurar divulgar o trabalho que é desenvolvido pela Associação e de encontrar indicadores objetivos que permitam quantificar o impacto na vida dos utentes e dos voluntários também é importante conseguir alertar os decisores políticos a adaptar a legislação de modo a que as políticas públicas sejam adequadas às atividades das Instituições Particulares de Solidariedade Social e facilitem o desenvolvimento de novas iniciativas que possam fazer face à atual situação económica e social. A Rede Social também tem que funcionar como verdadeira rede para estabelecimento de parcerias, mais do que um conjunto de organizações concorrentes na procura de um objetivo comum, que é chamar a atenção das empresas para que se interessem pela missão de cada uma das instituições e possam assim contribuir com donativos regulares. Para além do que atrás foi referido é urgente mudar de paradigma: a gestão tem que ser profissional para conseguir fazer face aos desafios da economia. O voluntariado tem que estar enquadrado para que todos se foquem nos resultados a atingir e na criação de valor. Ao mesmo tempo, tem que existir uma preocupação de todos os envolvidos na melhoria contínua do desempenho das equipas profissionais: é preciso que cada um questione o que faz, como faz, para que faz e para quem faz, para que possa desenvolver um trabalho cada vez mais eficaz e adequado aos desafios que se apresentam. A partilha de boas práticas entre as diferentes instituições também poderá contribuir para a diversificação das fontes de financiamento e para o desenvolvimento de parcerias focadas na economia de escala, bem como para a racionalização da oferta de serviços, criando novos modelos de respostas sociais e encontrando estratégias adaptadas ao mercado e ao perfil das empresas com responsabilidade social. Só com a sinergia criada pela articulação de todos os fatores referidos anteriormente poderemos continuar o nosso caminho, sempre na direção de um envelhecimento positivo e participativo.