Alimentação e nutrição em Gerontologia e Geriatria

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Nutrição | 3

Alimentação e nutrição em Gerontologia e Geriatria Susana Arranhado Nutricionista e docente na Escola Superior de Saúde do Politécnico de Leiria e na Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches

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ue a alimentação e nutrição são fundamentais em qualquer fase do ciclo de vida é sobejamente conhecido, mais ainda quando se trata de indivíduos idosos. As alterações próprias e fisiológicas do envelhecimento afetam as necessidades nutricionais do geronte e podem também dificultar a ingestão alimentar com repercussões, muitas vezes graves, ao nível do estado nutricional e funcionalidade. Deste modo, o binómio idade/envelhecimento-alimentação é dinâmico e bilateral. Assim, decorrente do processo de envelhecimento normal, outras limitações podem ocorrer, com consequências, na ingestão alimentar e no estado nutricional. De seguida, apresentam-se algumas dessas alterações. A nível da composição corporal, verifica-se redução da água corporal, o que aumenta o risco de desidratação nesta faixa etária (Medina, 2004; Ferry, 2004). Constata-se uma diminuição de 0,3 l/ano desde a idade adulta até aos 70 anos. Após “(...) a nutrição e alimentação esta idade, a diminuição é ainda mais acendo idoso exige uma atenção tuada (Ferry, 2004). aprofundada (...) um estado No envelhecimento saudável, as necesnutricional desapropriado sidades energéticas diminuem com a idade contribui significativamente para em função de modificações na composição a diminuição da funcionalidade corporal (Mahan, 2005): a perda do tecido e autonomia e aumento da metabolicamente mais ativo (da massa musmorbilidade e da mortalidade” cular) é acompanhada por um aumento do tecido adiposo, que preconiza assim uma diminuição das necessidades energéticas totais (NET). Respeitante ao sistema imunitário, verifica-se um decréscimo da sua função com a idade (Mahan, 2005), pelo que o idoso necessita de

um maior aporte de vitaminas do complexo B, vitamina E e de zinco (Blumberg, 1997). Verifica-se também uma diminuição do peristaltismo do esofágo, a qual conduz a uma maior lentificação na descida dos alimentos, à dilatação e alteração morfológica do esfíncter esofágico inferior (cárdia), podendo resultar no aparecimento de refluxo gastroesofágico (Medina, 2004). O pâncreas diminui o seu tamanho com o envelhecimento e apresenta maior fibrose do parênquima. O aumento dos níveis da hormona colecistoquinina promove uma diminuição do limiar de saciedade. Por conseguinte, a saciedade precoce manifestada pelos idosos pode ser explicada em parte pela diminuição da distensão do fundo gástrico, pelo aumento da estimulação do antro e pela secreção alterada de hormonas como a colecistoquinina e a leptina (Ferry, 2004; Medina 2004). As alterações da capacidade de secreção gástrica e consequente elevação progressiva do pH potenciam o aumento das necessidades em ácido fólico, vitamina B12, cálcio, ferro e zinco (Ferry, 2004, Mahan, 2005; Blumberg, 1997). As modificações nas vilosidades intestinais, com implicações óbvias na absorção de nutrientes acometem a pessoa idosa. Um intestino envelhecido é um intestino mais suscetível a perturbações como a obstipação, a flatulência e a diarreia, com um grande impacto no estado nutricional do ser humano, com especial expressão no idoso,


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