DIGNUS nº3

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16 | A Voz de

Cuidadores de idosos Um olhar sobre a família cuidadora Assunção Nogueira1 e Zaida Azeredo2 1

Especialista em Enfermagem Comunitária, Doutorada em Educação, Docente na ESSVS, IPSN, IINFACTS CESPU Médica de Medicina Familiar; Doutorada em Saúde Comunitária; Coordenadora da RECI/ Piaget Viseu

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No agregado familiar, geralmente o cuidador principal surge, não porque este se ofereça para tal, mas devido à conjugação de vários fatores, nomeadamente estar no desemprego ou na reforma e ser próximo do idoso com dependência. Cuidar de um doente dependente, no domicílio, cujo estado se agrava a cada dia que passa, ainda que lentamente, não é uma tarefa fácil nem isenta de custos. O cuidador fica propenso a também ficar doente se esta tarefa não for partilhada com outros ou se não sentir deles a compreensão devida.

Ser Cuidador Informal

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Introdução As alterações sociodemográficas e o avançar da ciência permitem que as pessoas vivam mais tempo engrossando e alongando o topo da pirâmide etária. Este fenómeno, propicia, também, o aumento da prevalência de doenças crónico-degenerativas e de incapacidades. Estas, apesar das pessoas viverem mais anos ativas, acabam por surgir embora em idades mais tardias, coincidindo frequentemente com as etapas finais do ciclo vital da família, isto é já na sua fase de dissolução. Estes aspetos e outros levantam, às sociedades envelhecidas e a envelhecer, desafios sociais e de saúde nomeadamente na prestação de cuidados individuais com particular atenção para os idosos, grandes idosos e/ou idosos com incapacidades. Durante todo o ciclo vital a família deve ser o suporte do indivíduo saudável ou doente, porém hoje, pode não ser possível, não só devido às mudanças estruturais na família, mas também pela dispersão geográ-

“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha” (Confúcio)

fica e ocupações dos seus membros, para além da fase do ciclo vital em que surgem as dependências e perdas de autonomia, que aumentam a necessidade de se cuidar na proximidade, havendo muitas vezes nesta condição apenas o conjugue que também é idoso(a). Em algumas situações (exemplo: famílias unitárias) que são cada vez mais frequentes, pode mesmo não haver parentes, havendo apenas solidariedade de vizinhança (quando a há). Quando na comunidade não existem recursos capazes de dar respostas adequadas e eficazes é à família que o idoso tende a recorrer para suporte quer humano quer económico. Porém torna-se cada vez mais difícil à família dar resposta em tempo útil às necessidades dos idosos.

O envelhecimento da população e a longevidade do indivíduo são hoje, sem dúvida, uma das maiores conquistas do Homem. Como já atrás se afirmou tal feito deve-se, entre outros fatores, às melhores condições sócio sanitárias em que se vive. Porém, com o desenvolvimento sociocultural, e, de novas políticas sociais e de saúde, embora se viva mais tempo com saúde também se vive mais tempo em, situação de doença, com incapacidades e dependência de terceiros (sobretudo quando se sofre de doenças crónico-degenerativas e, no fim de vida). À medida que a idade vai avançando as fragilidades vão aparecendo, devidas a alterações anátomo-fisiológicas e/ou psicológicas, entendidas como normais, próprias de um envelhecimento fisiológico. Progressivamente o idoso perde a capacidade de adaptação ao meio ambiente interno e externo, surgindo, com a diminuição da sua homeostasia, uma maior probabilidade de co-existirem processos patológicos, que vão lentamente encaminhando a pessoa, para a perda de autonomia e independência, ou para a institucionalização necessitando, por isso, de uma pessoa para cuidar de si, seja um Cuidador Informal seja um cuidador formal ou ambos (Nogueira, 2012; Oliveira, 2018). O Cuidador Informal é uma pessoa (familiar ou não) que assume o cuidado de outrem, sem, contudo, ter sido preparada para o efeito. É uma pessoa cuja função principal é acompanhar e auxiliar a pessoa a se cuidar quando esta já perdeu capacidades físicas e/ou mentais que não lhe permitam fazê-lo sozinha. Normalmente é um familiar ou alguém muito próximo do ponto de vista relacional, não recebendo, por isso, até ao presente, qualquer remuneração, tendo apenas como recompensa a satisfação do cuidar e por vezes a gratidão da pessoa cuidada. Cuidar do idoso no domicílio acarreta custos físicos, emocionais e sociais para a pessoa, que a médio ou longo prazo po-


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