(Trans)formação dos profissionais na área do envelhecimento

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12 | A Voz de

(Trans)formação dos SURùVVLRQDLV QD £UHD do envelhecimento Desafios e oportunidades Professora e consultora na área do Serviço Social e da Gerontologia Social

A

pesar das crescentes transformações sociodemográficas a que assistimos, a intervenção na área do envelhecimento tem vindo a ser negligenciada a vários níveis. A atualidade tem sido marcada pelo aumento e complexidade dos problemas sociais e pela escassez de recursos na resposta às necessidades dos cidadãos. Neste contexto, a intervenção profissional é cada vez mais orientada para uma gestão por objetivos e para o controlo das atividades desenvolvidas sob o lema da eficiência e da eficácia. As organizações tuteladas pelo Estado com utilizadores de serviços cada vez mais exigentes, são, neste contexto, confrontadas com vários dilemas a que têm de responder continuamente, como por exemplo: atender às necessidades emergentes com recursos escassos;

Carla Ribeirinho

promover a melhoria dos processos de trabalho e a qualidade das respostas; a participação dos utilizadores nas decisões e a qualificação dos profissionais. É neste cenário que faz sentido refletir sobre a importância da (trans)formação dos profissionais na área do envelhecimento. Abordar o tema da importância da formação dos profissionais que trabalham com pessoas idosas, implica partir da aceção de que se trata de um território de intervenção com grande exigência ao nível dos conhecimentos, da ética, dos direitos, das metodologias e das técnicas. Prestar cuidados a uma pessoa idosa em situação de doença e/ou dependência representa um grande desafio para os cuidadores quer sejam

informais, quer sejam formais. Ocupamo-nos aqui especialmente dos Cuidadores Formais, embora possam existir aspectos generalizáveis a ambas as situações1. Cuidar envolve esforço mental, físico e psicológico e prestar cuidados a uma pessoa idosa, embora possa envolver emoções positivas, transforma-se, não raras vezes, numa tarefa complexa, podendo gerar sentimentos de angústia, insegurança e desânimo. Além de ter de saber lidar com o processo de envelhecimento e suas especificidades, o cuidador tem de conviver com a subjetividade associada às relações humanas (Ribeiro et al., 2008). A pessoa idosa tem uma determinada personalidade, forma de estar/ver o mundo, história de vida, valores, cultura, expetativas, sendo o processo de prestação de cuidados dinâmico e complexo. São, desta forma, requeridos conhecimentos e capacidades ao profissional, para satisfazer as necessidades que podem ir das mais básicas às instrumentais da vida diária da pessoa idosa. O Cuidador Formal é um profissional a quem se exigem competências, desde as mais elementares, como o conhecer as necessidades da pessoa idosa, saber distingui-las, saber lidar com doenças e seus sintomas cognitivos ou problemas sociais, de personalidade ou de ordem familiar e contextual (Sequeira, 2010). Para além do apoio na realização de actividades diárias básicas, como a higiene e a alimentação, as pessoas idosas podem ainda necessitar de assistência específica ao nível da saúde e requerer recuperação/ reabilitação, encontrarem-se em fases terminais de uma doença, ou então, sofrer de múltiplas condições crónicas, deficiências cognitivas e funcionais, entre outras (Spilsbury, et al., 2011). Neste sentido, a prestação de cuidados requer organização e esforço contínuo do cuidador, determinadas competências e qualidades. Ao assumir a responsabilidade pelos cuidados, o profissional frequentemente depara-se com dificuldades e situações constrangedoras ou de tensão que lhe podem provocar algum desconforto, desgaste e mal-estar. Neste sentido, é essencial uma formação técnica que abranja aspetos teóricos, humanos e éticos, a par de uma sólida e diferenciada formação humana. De fato, a formação é essencial para que os profissionais atualizem os conhecimentos adquiridos por via da sua formação inicial ou experiencial. Com a formação, os profissionais aprendem a desenvolver novos conhecimentos e competências, para fazer face a um contexto cada vez mais complexo e exigente no qual a inovação e criatividade e a necessidade de mudança são uma constante. Todos os profissionais que trabalham neste campo devem, assim, ter uma elevada preocupa-

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A designação cuidadores formais habitualmente, integra diversos profissionais, desde os devidamente qualificados - enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas diversos, entre outros - aos que não têm necessariamente uma formação específica para o desempenho deste papel.

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