Tarifas dinâmicas como forma de promoção das renováveis

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dossier sobre comercialização de energia produzida com renováveis

tarifas dinâmicas como forma de promoção das renováveis Os temas das tarifas dinâmicas estão atualmente no foco de muitas entidades do setor elétrico, desde os comercializadores aos reguladores, passando pela gestão de rede e especialmente a gestão de produção. Ana Miranda, Cláudio Monteiro

As tarifas dinâmicas consistem em mecanismos tarifários complexos cujo objetivo principal é incentivar a uma resposta dinâmica do consumidor aos sinais de preços. Por mecanismos contratuais, mais ou menos flexíveis, os consumidores reagem a estes sinais obtendo uma redução na fatura de eletricidade. Por parte dos agentes do sistema, o sinal de preço, que no fundo é informação de controlo do consumidor é gerado de forma a provocar a resposta de consumo que traz mais eficiência à operação do sistema e que traz mais lucro às empresas do setor elétrico. Podemos dizer que as tarifas dinâmicas são um mecanismo de eficiência do sistema elétrico, que reparte os benefícios por todos os agentes do sistema, principalmente pelos consumidores. Existe uma grande diversidade de modelos de tarifas dinâmicas. Os modelos mais simples são as tarifas “Time-of- Use (ToU)”, em que são fixados blocos horários com preços diferente, sendo as tarifas bi-horárias um exemplo simples deste tipo. Existem modelos “Critical Peak Pricing (CPP)”, em que são contratualizados preços mais elevados para momentos críticos de gestão da rede, influenciando o consumidor a uma resposta de redução. Existe uma variante destes modelos que são os “Critical Peak Rebates (CPR)” que, ao contrário dos CPP, oferecem um desconto no preço da eletricidade ou na faturação, se o consumidor reduzir o consumo nos momentos críticos de gestão da rede. A reação de redução do consumo pode ser voluntária ou pode ser obrigatória por imposição contratual, despoletada por ação do consumidor ou por um controlo direto sobre alguns equipamentos, sendo o caso dos contratos de desconto de interruptibilidade, atualmente em vigor em Portugal (ERSE n.º 25 101-E/2003). Nos CPP e nos CPR, o momento e a duração dos blocos de reação são flexíveis, existindo um aviso prévio de várias horas. O desconto ou penalização é definido contratualmente em função de todas estas variáveis. Por ser uma reação a momentos críticos de ponta, este tipo de mecanismos incentivam sempre à redução e nunca ao aumento do consumo. Por fim, existe a verdadeira família de tarifas dinâmicas, denominadas “Real Time Pricing (RTP)”, em que os preços horários estão indexados aos preços do mercado grossista, normalmente o mercado SPOT do dia seguinte. Nestes mercados os preços variam de hora para hora e de dia para dia, dependendo do nível de consumo, da disponibilidade de produção renovável (hidroelétrica, eólica, solar), da disponibilidade das centrais convencionais, dos preços nos mercados de países vizinhos, e dependendo também das estratégias dos agentes de mercado. Os preços do dia seguinte são conhecidos no dia anterior, mas podem ser previstos com razoável precisão para a semana seguinte. Os modelos de tarifa dinâmica do tipo RTP permitem ao consumidor uma reação de resposta contínua, tanto aos preços altos como aos preços baixos. A variação dos preços é muito significativa variando ao longo do dia entre os 30 e os 60 €/MWh, podendo nas épocas de chuvas ter muitas horas com preços próximos de zero. Esta variabilidade de 30

O atual interesse nas tarifas dinâmicas resulta de uma tendência de evolução para as redes inteligentes, fazendo uso da maior quantidade e maior detalhe da informação.

preço corresponde apenas às componentes de energia. As tarifas de acesso às redes podem chegar a representar uma componente adicional de 2/3 da faturação de eletricidade e também nestas é possível encontrar soluções dinâmicas. A ERSE lançou, em outubro de 2014, às empresas gestoras da rede, o desafio de propor modelos piloto de tarifas dinâmicas nas componentes de acesso às redes, estando ainda a decorrer estes estudos. Compreendido o conceito de partilha do valor da eficiência conseguido pelas tarifas dinâmicas, levantamos agora as questões sobre as razões que levam a que os preços da eletricidade sejam diferentes de hora para hora e de dia para dia. Será que é uma questão relacionada com razões técnicas de eficiência do sistema ou é apenas uma imposição do mercado, de relação procura e oferta? Trata-se de ambos os aspetos, mas é muito mais uma questão de eficiência do sistema do que uma questão de eficiência do mercado. Nos sistemas elétricos é essencial o balanço permanente entre consumo e produção. A operação mais eficiente do sistema seria aquela em que seja constante a produção das centrais convencionais, otimizando a operação em regimes de carga mais eficientes e otimizando a utilização das capacidades instaladas, de produção e de rede elétrica. Tal produção constante não é possível, é cada vez mais difícil devido à variabilidade das renováveis e consumos e devido às incertezas intrínsecas de um sistema, com uma imensidão de agentes e subsistemas a funcionar em ambiente competitivo. Assim, mais do que uma contribuição para a eficiência do mercado, as tarifas dinâmicas devem ser desenhadas para otimizar a eficiência do sistemas e, para tal, é necessário integrar as diversas componentes dinâmicas de custo da eletricidade, sendo as energias renováveis uma das mais importantes. O atual interesse nas tarifas dinâmicas resulta de uma tendência de evolução para as redes inteligentes, fazendo uso da maior quantidade e maior detalhe da informação, que está disponível para os gestores da rede e para os consumidores. Os consumidores querem ser mais participativos no sistema e querem ter acesso às vantagens de conhecer melhor o sistema, reduzindo custos com uma gestão integral e inteligente das suas instalações. Por seu lado, os comercializadores, em especial os de menor dimensão, têm interesse competitivo em proporcionar soluções mais baratas e mais inteligentes, tendo também interesse em transferir risco da variabilidade de preço para o consumidor. Os gestores dos sistemas de produção e das redes têm interesse em aumentar a eficiência dos sistemas ao mesmo tempo que


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