Robótica – Apostar na nova geração com desafios motivadores
Fernando Ribeiro
robótica
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editorial
Prof. da Universidade do Minho
A grande parte da tecnologia atualmente em funcionamento na nossa indústria é importada. Não porque não tenhamos competências em Portugal, mas porque temos poucas pessoas e algumas delas ainda emigram para melhores empregos. É preciso uma pequena revolução para formar mais e melhores quadros nas áreas tecnológicas. O sucesso de uma geração depende de uma preparação atempada e cuidada, por parte de todos os intervenientes, desde o sistema educacional, a indústria, o estado, e mesmo a própria família, sendo por isso necessário um acompanhamento contínuo e interessado. Não podemos querer/exigir uma geração com qualidade e interesse, sem lhe darmos a devida atenção. Desde que Portugal começou a organizar o Festival Nacional de Robótica em 2001, evento anual que teve a sua primeira edição em Guimarães organi-
zada pelo Grupo de Robótica da Universidade do Minho, e que passou nos anos seguintes por Aveiro, Lisboa, Porto, Coimbra, respetivamente, e sempre com o envolvimento das respetivas Universidades, o número de participantes nestes desafios foi crescendo ao longo do tempo. As equipas Universitárias participavam também anualmente no RoboCup, evento mundial de robótica, também anual e com desafios mais complexos. As equipas juniores (escolas básicas, secundárias e profissionais) também cresceram por todo o país, e também começaram a participar no RoboCup, sendo Portugal a determinada altura o 5.º país do mundo com mais equipas a participar no RoboCup, logo atrás da Alemanha, Japão, Irão e Singapura, o que surpreendeu muita gente. De facto, quando os nossos jovens se motivam, e quando acompanhados por professores motivados, os resultados até aparecem e falam por si. Pode-se pensar que estas competições são apenas pequenas brincadeiras, mas essa será uma visão muito mesquinha. Estas pessoas têm que resolver problemas de eletrónica, de mecânica, de programação, de comunicações, de estratégia, de interação homem-máquina, e constroem protótipos funcionais e não apenas simulações. Trata-se por isso de um misto de desafio educacional, desafio científico, desafio de engenharia, entre outros. E olhando para trás, podemos confirmar que muitas das pessoas que passaram por estes desafios estão a trabalhar em grandes empresas de solução
Foto de um jogo do RoboCup Middle Size League em Eindhoven.
e engenharia na nossa indústria e outras foram também para grandes empresas no estrangeiro. Mas uma participação num evento internacional é sempre mais motivadora, quer pelo desafio tecnológico em si, quer por tudo aquilo que se aprende, quer pela experiência que se adquire. Portugal conseguiu que a sua candidatura à organização do European RoboCup fosse aceite para o ano de 2020, mas este evento teve de ser adiado pelos motivos conhecidos por todos, por duas vezes seguidas. Agora o evento vai mesmo decorrer neste ano de 2022, nos dias 1 a 4 de Junho em Guimarães, organizado pelo Laboratório de Automação e Robótica da Universidade do Minho e pela botnroll.com. O evento vai receber mais de 150 equipas (quase 1000 participantes) de toda a Europa, nas ligas SoccerJunior (entry, lightweight, Open), RescueJunior (Line, Line entry, Maze, Maze Entry, Simulation), OnStage (preliminar e advanced). Recebe ainda as ligas Major do @home Education e Middle Size League. Para além destas ligas oficiais do RoboCup ainda tem em competição as ligas RoboParty Fun Challenge e a Small Size League Light. O evento decorreu no Multiusos de Guimarães, com uma área superior a 10 000 metros quadrados, e foi aberto ao público de forma gratuita para que todos pudessem o que de melhor é feito por jovens equipas. Portugal está assim de parabéns por receber um evento internacional desta natureza, e apesar da responsabilidade ser grande, a equipa de organização tem a experiência necessária. A indústria tem assim uma oportunidade de se envolver e apoiar este evento, e aproveitar a oportunidade para angariar novos talentos ligados à engenharia. Pede-se à comunidade (indústria e público em geral) que visitem o evento, para que os europeus vejam a importância que damos à nossa comunidade. Pede-se também aos media que a transmitam com a devida relevância, uma vez que isso também é feito de forma muito profissional noutros países mais industrializados.