José Novais da Fonseca CENFIM – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica
Mesa Redonda sobre o Mundo das Máquinas-Ferramenta 46 robótica
As máquinas-ferramentas esses extraordinários engenhos perpétuos Junto de uma população profissional que tão bem as conhece pouco haverá a dizer sobre as Máquinasferramentas – MF, que não arrisque ser uma mera banalidade. Mas por isso mesmo, e mesmo por isso, haverá sempre espaço para um exaltado elogio a esses extraordinários equipamentos, (‘as máquinas que fazem as máquinas’ como tão bem definia um professor meu), que se eternizam no centro das nossas fábricas!
Basta reconhecer por exemplo, que o Torno Mecânico e a Fresadora, tecnologias centrais em qualquer chão-de-fábrica do setor das construções mecânicas, evoluem desde o século XVIII e XIX, ainda na pré-revolução industrial (no caso do Torno), sustentados ainda pela motricidade da energia a vapor. E é particularmente relevante verificar que estas máquinas se mantêm estruturalmente iguais aos equipamentos atuais, ainda que, naturalmente, tenham sofrido diversas alterações, em particular nos seus órgãos mecânicos ao longo da cadeia cinemática. O ritmo acelerado da inovação tecnológica veio incorporar o CNC, aperfeiçoar a transmissão de forças e movimentos, introduzir sensores, sistemas de medição e controlo, toda uma panóplia de dispositivos com um nível de sofisticação que era imprevisível há algumas décadas atrás mas, na essência do seu funcionamento, continuamos a falar das mesmas máquinas, o que é verdadeiramente extraordinário e no mínimo prenunciador de que permanecerão como tecnologias sobreviventes e fundamentais na Indústria Metalúrgica e Metalomecânica – MM durante muitos e bons anos. Neste quadro dinâmico de evolução, e ainda que a nossa indústria continue a recorrer a um número considerável de MF convencionais que, permanecendo, alcançarão uma escala cada vez mais reduzida, em linha com o fim de ciclo de vida desses equipamentos, só terá sentido falarmos do estado da arte das máquinas-ferramentas, associando-as ao CNC. Tal não oblitera as máquinas convencionais uma vez que estas coexistem da mesma forma quanto à natureza e utilidade para as empresas utilizadoras e decorrem do mesmo mercado fornecedor. Mas falar sobre o estado da arte da MF obriga necessariamente a fazer um caminho retrospetivo na própria evolução destas tecnologias. O CENFIM, ainda nos anos 80 e depois ao longo dos anos 90, investiu e apetrechou-se com equipamentos CNC de modo a providenciar por todo o país as primeiras ações de qualificação e sensibilização nestas tecnologias. Numa etapa particularmente significante para a implantação do CNC de forma mais alargada no mercado português pudemos, assim, qualificar, apoiar e
acompanhar, de forma efetiva, as empresas do setor. Isso permitiu-nos, por via direta, mas também pelo testemunho junto das empresas que apoiávamos, reconhecer as inúmeras dificuldades que então eram trazidas pelo uso destas novas tecnologias. Nessa altura a mecânica e a eletrónica conviviam nestes equipamentos ainda em integrações algo rudimentares, e esta segunda vertente não era propriamente uma área vocacional do setor metalomecânico, nem tão pouco do mercado fornecedor que até então representava maioritariamente equipamentos de base exclusivamente eletromecânica. Neste quadro, com tecnologias sem a fiabilidade que hoje se reconhece ao CNC, com limitações de vária ordem: memórias de armazenamento curtas, enormes dificuldades de transmissão de programas para os controladores das máquinas (as famosas comunicações RS232), velocidades de processamento, avarias de difícil diagnóstico, e isto num mercado periférico a que se somavam os elevados custos de aquisição se comparados com os equipamentos convencionais ou indexados aos dias de hoje, levou, em nosso entender, a que a curva de adoção do CNC não se desenhasse de forma tão acentuada como as qualidades desta tecnologia, hoje universalmente reconhecidas, sugeriam. Presentemente, com a maturação e proliferação destas tecnologias, alcançadas e asseveradas as capacidades de intervenção técnica dos diferentes representantes do mercado fornecedor e num contexto cada vez mais globalizado que faz atenuar o estigma de ‘mercado periférico’, é cada vez mais notória a plena adoção destas tecnologias pelo setor metalomecânico que se habituou a responder às crescentes exigências de qualidade e complexidade dos seus produtos e mercado. E o mercado fornecedor e de assistência técnica evoluiu, naturalmente, em linha com isto. Hoje constatamos que a utilização do CNC é generalizada a todo o país, ao contrário da época aqui reportada em que se localizava tipicamente na indústria de moldes da Marinha Grande e Oliveira de Azeméis e depois de forma bastante mais dispersa por outros subsetores e regiões do país. E para fundamentar o que aqui afirmamos, e ainda que todos os que habitamos este setor já o saibamos, gostaria de partilhar algumas breves conclusões de um estudo de “levantamento tecnológico de tecnologias de fabrico assistidas por computador no setor metalomecânico” que realizámos em 2016 junto de 4666 empresas, de onde obtivemos uma amostra de 315 empresas respondentes (taxa de resposta de 6,8%), das mais diversas regiões de Portugal Continental. Sendo na origem um estudo mais exaustivo, deixamos à interpretação do leitor a síntese que se segue: • Foram recenseados neste estudo, no total das rubricas tecnológicas que estavam a levantamento, um total de 2421 postos de trabalho e 332 marcas distintas de equipamentos/software técnico relacionados com as áreas em análise: