ARTIGO CIENTÍFICO
Justificação da modernização ou melhoramento de um bem físico: Centrais Hidroeléctricas Francisco Javier Martinez Monseco Enel Green Power Hydro (España). Doutorando ETSI UNED (España)
RESUMO
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as organizações que gerem bens físicos, a figura do departamento de manutenção desenvolve o seu trabalho gerindo um orçamento anual dedicado à manutenção e esperando que, com maior ou menor fortuna, não ocorra uma avaria grave e que a disponibilidade do bem seja a máxima. As organizações tendem a reduzir a cada ano o orçamento de manutenção (opex), com o qual é cada vez mais difícil assegurar os rácios de gestão de activos. Actualmente, um dos aspectos chave da gestão de activos, num departamento de manutenção, é a utilização de uma metodologia onde todos os anos podemos identificar correctamente o estado do activo a manter, com ferramentas de optimização da manutenção combinadas (amfe, análise de criticidade, análise do ciclo de vida e RCM, análise do ciclo de vida e RCM). Isto pode optimizar o orçamento de manutenção (opex) mas, ao mesmo tempo, pode servir de base para a análise das melhorias de activos (redesenho através de capex que traz valor acrescentado à organização) contra a optimização da manutenção (envolve a redução de custos e traz à tona possíveis poupanças futuras na gestão de activos) e o redesenho do activo com base na função a ser cumprida pelos sistemas identificados como críticos nesta análise. Dessa forma, podemos justificar os projectos de melhoria de activos da organização como um aumento da receita empresarial e não simplesmente como uma despesa a ser amortizada.
1. INTRODUÇÃO 1.1. Gestão de bens físicos Um "bem físico" é considerado como qualquer objecto que tenha valor para a organização ou para um proprietário. Este "valor" é gerado quando o objecto em questão cumpre a sua função face a uma certa exigência para o seu funcionamento. O não cumprimento dessa exigência de funcionamento provocará consequências negativas, que teremos de conseguir substituir na função inicial determinada. A partir do departamento de manutenção de qualquer organização, é essencial ter sempre informações sobre o estado do bem e poder planear as acções correspondentes para cumprir a função requerida a todo o momento. Por conseguinte, não devemos enfrentar o desafio da manutenção como uma gestão anual de um orçamento cada vez menor e que implica dar prioridade às acções a realizar, sem explicar claramente esta justificação para a organização. É essencial, portanto, utilizar ferramentas de optimização da manutenção, onde possamos identificar claramente os problemas que temos de enfrentar, e assim ter uma base sólida para definir uma estratégia justificada de acções perante a organização. As estratégias de optimização mais úteis que podemos aplicar de forma combinada na gestão da manutenção do dia-a-dia são as seguintes:
Artigo redigido segundo o Antigo Acordo Ortográfico.
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MANUTENÇÃO 153
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Análise do modo de falha e efeitos dos sistemas de bens físicos; Análise do ciclo de vida dos sistemas de bens físicos; Análise e priorização do risco por criticidade; Manutenção Centrada na Fiabilidade (RCM).
Estas estratégias permitem-nos ter uma base justificativa perante a direcção da empresa para poder propor acções de optimização da manutenção, bem como acções de melhoria ou redesenho do activo físico gerido.
1.2. Análise activa do ciclo de vida Todas as empresas tomam medidas para trabalhar com os seus bens físicos e obter benefícios da sua fiabilidade. Infelizmente, a experiência indica que estas acções e gestão, em geral, são isoladas e desorganizadas, de tal forma que as empresas não conseguem obter um retorno máximo dos seus activos. Assim, em vez de pensar na necessidade de "reduzir os custos de manutenção de um bem", uma visão a médio e longo prazo obriga a pensar na maximização do Lucro do Ciclo de Vida de um Bem, que surgirá da diferença entre a Receita do Ciclo de Vida e o Custo do Ciclo de Vida. Para atingir este objectivo, a primeira coisa a fazer é alterar o conceito de como analisar a manutenção e como colocá-la no contexto de outras funções empresariais. Todas as funções existem porque contribuem algo para o resultado, caso contrário não existiriam, e, se estamos a falar de empresas industriais, comerciais e de serviços, o resultado é o lucro no negócio em que está localizado. Para uma organização, é fundamental adoptar as acções consideradas apropriadas durante o ciclo de vida destes activos, de forma a alcançar o equilíbrio óptimo entre o seu custo de ciclo de vida, risco e desempenho (gestão do risco durante o ciclo de vida).
2. CENTRAIS HIDROELÉCTRICAS A produção de electricidade com mini-centrais hidroeléctricas foi desenvolvida na maioria dos países no início do século XX e, em muitos casos, não foram feitas muitas adaptações e melhoramentos para tentar alcançar o máximo rendimento da produção de electricidade com o mínimo de custos operacionais. O estudo da optimização da manutenção e da aplicação de melhorias tecnológicas em pequenas centrais hidroeléctricas oferece possibilidades de desenvolvimento e crescimento potencial, devido à diversidade de fluxos ainda susceptíveis de serem explorados com novas tecnologias. A capacidade global instalada de energia hidroeléctrica (excluindo a energia hidroeléctrica bombeada) era de 1.189 GW no final de 2019. A energia hidroeléctrica fornece uma fonte de electricidade de baixo custo e, se a central incluir armazenamento em reservatório, também fornece uma fonte de flexibilidade. Isto permite à fábrica realizar serviços de flexibilidade tais como resposta de frequência, capacidade de arranque negro e reservas de fiação. Isto, por sua vez, aumenta a viabilidade da fábrica ao aumentar os fluxos de receitas do proprietário dos activos, ao mesmo