Aprender em ambiente quase industrial

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Ana Correia Simões1, António Henrique Almeida1, Américo Lopes Azevedo2 ana.c.simoes@inesctec.pt, antonio.h.almeida@inesctec.pt, americo.azevedo@inesctec.pt 1 INESC TEC, Centro de Engenharia de Sistemas Empresariais 2 INESC TEC e Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto

Pode-se considerar que existem dois tipos de empresas industriais. De um lado, estão as grandes empresas, com um elevado poder de intervenção e com uma grande quantidade e variedade de recursos disponíveis. Estas empresas, para aumentar a sua posição competitiva no mercado, lançam iniciativas abrangentes de teste, avaliação e adoção de tecnologias e práticas operacionais e organizacionais. Do lado oposto estão as pequenas e médias empresas (PME), geralmente com recursos escassos, atuando fundamentalmente numa base de nicho regional e sem uma orientação estratégica bem definida relativamente à sua evolução. Estas empresas acabam por ter uma atitude reativa, a qual é sustentada em grande parte pela necessidade de sobrevivência nos mercados onde operam.

robótica

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Dossier sobre mecatronica versus Indústria 4.0

Aprender em ambiente quase industrial

Neste contexto, e embora as estratégias de digitalização possam trazer de facto às empresas oportunidades competitivas de grande valor, a implementação desta transição digital nas PMEs não é isenta de riscos nem representa um processo simples. Um obstáculo chave no processo de digitalização das empresas é a falta de conhecimentos dos agentes de decisão relativamente ao potencial e impacto/ implicações das tecnologias digitais. Alguns agentes de decisão abdicam/ rejeitam a transformação digital simplesmente porque não compreendem como é que essas tecnologias podem ser incorporadas no seu negócio [1]. Assim, pode-se dizer que compreender o âmbito e o potencial das

tecnologias digitais no contexto da sua aplicação e utilização em empresas indústrias, através de uma análise eficaz de custo-benefício, é uma tarefa essencial e que exige um grande conhecimento e esforço. Por conseguinte, e considerando a rápida evolução tecnológica, as capacidades e competências dos operadores do chão de fábrica e dos gestores/ líderes devem acompanhar estes novos desafios, pelo menos, com igual rapidez. Consequentemente, é necessário que as empresas promovam a qualificação e requalificação da sua força de trabalho através da experiência prática nas tecnologias da Indústria 4.0. Tendo em consideração esta realidade e ambição, especialmente entre

as PMEs portuguesas, são necessários programas de formação e laboratórios inovadores para a demonstração e experimentação das tecnologias em cenários "quase reais” [2]. Assim, institutos de investigação, clusters industriais e Pólos de Inovação Digital (Digital Innovation Hubs) são responsáveis por criar as infraestruturas e disponibilizar os serviços e os recursos que, progressivamente, irão mudar esta mentalidade (por exemplo através da disponibilização de laboratórios de experimentação e serviços como a análise de maturidade e/ou a construção de roadmaps tecnológicos). Deste modo, as empresas têm a oportunidade de usufruir de ambientes de demonstração e aplicação de tecnologias emergentes i4.0 seguindo uma metodologia iterativa e suportada pelo espírito de confiança e de colaboração com as entidades do sistema científico e tecnológico nacional. A colaboração entre os diferentes atores envolvidos, o meio académico, os centros de investigação aplicada, os centros tecnológicos e a indústria, aparece como a fórmula eficaz num processo dinâmico de ensino-aprendizagem, evolutivo e fundamentalmente adaptado a diferentes contextos de indústrias transformadoras. Resulta numa oportunidade natural de explorar redes de colaboração, envolvendo diferentes atores e cobrindo de forma vertical toda a cadeia de aprendizagem, desde fundamentos e conceitos teóricos até à experimentação em ambiente laboratorial e experimentação em ambiente real (em fábricas de aprendizagem e em linhas industriais e pilotos). Destaca-se, portanto, o papel crítico destas redes de colaboração que promovem um ambiente de aprendizagem rico entre a indústria e o meio académico. Além disso, devem ser explorados os tipos e a natureza da aprendizagem colaborativa que pode ser proporcionada às empresas para enfrentar os desafios da digitalização, a fim de i) reduzir o desfasamento entre a qualificação da


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