sistemas de comunicação no transporte ferroviário

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dossier sobre sistemas de comunicação nos transportes públicos

sistemas de comunicação no transporte ferroviário Amélia Areias Chefe do Departamento de Equipamentos e Infraestruturas de Transportes (Autoridade Nacional de Segurança Ferroviária) Direção de Serviços de Regulamentação Técnica, Qualidade e Segurança IMT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes

A MIGRAÇÃO PARA O GSM-R

O SISTEMA ATUAL, O RÁDIO SOLO-COMBOIO Existem vários equipamentos e funções do sistema ferroviário que são considerados e classificados críticos para a segurança, quer seja dos passageiros, das mercadorias, das tripulações ou mesmo das populações que se encontram na proximidade do caminho-de-ferro. Um dos sistemas críticos para a segurança é o sistema de comunicações que permite ao maquinista entrar em contacto com o centro de controlo e operações caso algo inesperado aconteça. Naturalmente existem muitas comunicações de voz entre o maquinista e o pessoal do centro de gestão de tráfego durante o decorrer normal das operações. No entanto, as comunicações que se fazem em caso de acidente ou incidente são criticas para minimizar os danos ou mesmo evitar um acidente. Nesses casos as comunicações devem ser estabelecidas imediatamente e sem dificuldades. Em Portugal existem vários tipos de sistemas de comunicação usados na gestão da circulação ferroviária, no entanto o sistema de comunicações mais utilizado entre www.oelectricista.pt o electricista 80

os maquinistas e a gestão da circulação é o rádio solo-comboio que foi instalado no nosso país há cerca de 30 anos e que existe hoje em todos os comboios de passageiros e de mercadorias. Também do lado da infraestrutura esta tecnologia está amplamente disponível, sendo que 87% da rede ferroviária nacional está equipada com este sistema. Os equipamentos de rádio disponíveis no material circulante dispõem de teclas com chamadas e mensagens pré-configuradas que facilitam as comunicações e os procedimentos em caso de emergência. Esta tecnologia tem cumprido a sua função de forma adequada, no entanto, é reportado que devido à idade avançada de muitos equipamentos, as comunicações de voz são por vezes estabelecidas com dificuldade ou, ainda que seja possível estabelecer a chamada, torna-se por vezes difícil entender o interlocutor. Apesar dos esforços do gestor de infraestrutura ferroviária, a empresa Infraestruturas de Portugal (IP), em garantir níveis suficientes de serviço na rede ferroviária nacional, são reportadas pelos maquinistas dificuldades de comunicação em certos pontos da rede.

A nível europeu, muitos gestores de infraestrutura ferroviária já migraram os seus sistemas de comunicações para o sistema europeu GSM-R. Trata-se de uma tecnologia bastante mais aberta e normalizada, baseada na tecnologia GSM mas com uma gama de frequências própria, em que o operador de rede faculta um cartão SIM ao operador ferroviário que o introduz no rádio embarcado no comboio, tal como o cartão SIM dos nossos telemóveis. Esta tecnologia, digital, além de melhorar o nível de serviço das comunicações de voz, permite ainda um maior volume de transferência de mensagens de dados. Estas mensagens de dados podem ser usadas tanto pelos sistemas de comunicações como pelo sistema de frenagem automática dos comboios (ATP – Automatic Train Protection). Este é outro subsistema ferroviário crítico para a segurança do transporte, que, tal como o nome indica, protege automaticamente o comboio controlando a sua velocidade, isto é, frena automaticamente o comboio em caso de excesso de velocidade ou caso o maquinista não pare inadvertidamente num sinal fechado. A par da migração para o GSM-R, em Portugal teremos que fazer também a migração para o sistema ATP europeu (chamado ETCS) visto que o sistema ATP nacional, o CONVEL, já não é produzido para novo material circulante devido à obsolescência de alguns dos seus componentes. A compra de novo material circulante que tem sido contratualizada, tanto pela Comboios de Portugal (CP) como pela MEDWAY, obrigará a que uma nova tecnologia seja desenvolvida no curto-médio prazo. Essa tecnologia é um módulo que será instalado nos comboios que permita ler o sistema CONVEL instalado na infraestrutura e “traduzir” para o sistema europeu ETCS instalado no material circulante. A IP, a nível da infraestrutura, está também alinhada com esta estratégia de utilização do GSM-R, visto que já anunciou que a implementação do ETCS em Portugal será feita em Nível 2, isto é, com utilização do GSM-R para envio de informação de dados aos comboios em detrimento de utilização de balizas instaladas na via.


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