o planeamento integrado dos transportes e o desafio digital

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dossier sobre sistemas de comunicação nos transportes públicos

o planeamento integrado dos transportes e o desafio digital SÃO NECESSÁRIOS TRANSPORTES INTELIGENTES DESCARBONIZADOS. Francisco Cardoso dos Reis Chairman da Região Europa da UIC (União Internacional dos Caminhos de Ferro)

Já estamos atrasados para cumprir as metas de descarbonização a que estamos obrigados para garantir o futuro do planeta! 1. NOTAS PRÉVIAS O século XX trouxe um crescimento e evolução sem precedentes da actividade humana e das nossas sociedades. Novos desafios e novas exigências foram surgindo e a eles a Humanidade soube dar resposta, quantas vezes afectando o equilíbrio dos ecossistemas e a sustentabilidade do Planeta. Hoje, com a tomada de consciência de que temos de alterar comportamentos se queremos ter futuro, novos e mais complexos desafios nos são colocados e para tal é determinante que recusemos, nomeadamente: • a utilização compulsiva de recursos naturais que são finitos; • a utilização de fontes de energia poluentes e insustentáveis; • o desperdício, a economia do fútil e o consumismo cego; • a desertificação do interior e a concentração urbana desregrada; • o uso desnecessário de transportes ineficientes. A uma nova abordagem à vida futura no Planeta, o desempenho do sector dos transportes não pode ficar alheio e o seu contributo é deveras relevante. Com o objectivo de incrementar o contributo dos transportes para a sustentabilidade económica, social e ambiental, e responder de forma eficaz aqueles desafios, é necessário colocar a inovação ao serviço do bem

Texto escrito de acordo com a antiga ortografia. www.oelectricista.pt o electricista 80

comum e dos desafios ecológicos, sanitários e funcionais, que as sociedades enfrentarão perante as ameaças das alterações climáticas e de todos aqueles outros que hoje se perfilam no horizonte. Na linha de pensamento que defendemos, o planeamento integrado dos transportes, a estruturação do sistema considerando o caminho-de-ferro como a sua espinha dorsal e a aposta no transporte público e no digital, são factores decisivos para o sucesso das nossas ambições de sustentabilidade e de descarbonização previstas na política do Green Deal, um dos eixos fundamentais da política europeia. Em termos gerais e como considerações prévias, apontaremos alguns princípios gerais e opções de futuro que preconizamos deverem ser seguidos/adoptadas para o Sistema de Transportes, nomeadamente: • No que à Mobilidade diz respeito, preconizamos a promoção de: › Uma Mobilidade segura, fluida, sem estrangulamentos e sem acidentes e incidentes significativos; › Uma Mobilidade limpa, sem poluição atmosférica e sonora, devidamente integrada no espaço onde se desenvolve; › Uma Mobilidade energeticamente eficiente e amiga do ambiente; › Uma Mobilidade inteligente, partilhada, interligada e com recurso a fontes de energia limpas. •

No que aos Sistemas e Tecnologias diz respeito, preconizamos a promoção de: › Sistemas de transporte conectados, caminhando decididamente para formas de condução autónomas e automatizadas; › Sistemas multimodais interligados, com uma forte aposta na propulsão eléctrica e em combustíveis alternativos não poluentes; › Implementação de uma comodalidade efectiva, com recurso a práticas

colaborativas complementares entre modos de transporte, desde o modo mais pesado ao modo mais leve – do comboio à mobilidade pedonal; Tecnologias Digitais baseadas em Inteligência Artificial, Big Data, Cloud Computing, Internet das Coisas, Segurança de Sistemas Digitais, Robótica, entre outros.

No que à Infraestrutura diz respeito, preconizamos a promoção de: › Digitalização das infraestruturas de forma generalizada, construindo desta forma uma infraestrutura inteligente mais eficiente; › Implementação de mecanismos de eficiência energética acrescida e efectiva em todas as áreas de gestão dos activos; › Novas Estações multimodais, constituindo-se como espaços integrados de mobilidade e de promoção de actividades complementares ao transporte e devidamente integradas nos espaços urbanos que servem; › Reformulação digital e automatização das áreas logísticas afectas ao transporte de mercadorias; › Optimização do uso do espaço público, por consideração de infraestruturas de transporte menos exigentes em termos de ocupação de espaço e com melhor integração naquele, que se quer também mais inteligente.

2. INDICADORES E INEFICIÊNCIAS DO SISTEMA DE TRANSPORTES Após este enunciado introdutório, que enquadra e pretende clarificar o nosso pensamento, passamos à explicitação de alguns indicadores e de algumas ineficiências significativas, que caracterizam o sistema de transportes e que permitem ter uma noção da complexidade e da dimensão do problema que temos entre mãos.


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