o problema da eficácia luminosa

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espaço CPI

o problema da eficácia luminosa

Eng.º Vitor Vajão Especialista em Luminotecnia

A caracterização de um sistema de iluminação através da Eficácia Luminosa (lúmens/watts), como padrão determinante da sua valia, é frequentemente considerada em conteúdos de natureza comercial e/ou promocional. MAS SERÁ TECNICAMENTE CORRECTA E FUNDAMENTADA TAL QUANTIFICAÇÃO? Para clarificação deste propósito vale a pena aceder a um artigo de Kevin Houser da Universidade de Oregon nos EUA, publicado na revista cientifica Leukos de 2020, que se transcreve: Uma relação é o rácio de quantidades diferentes, tais como quilómetros/hora ou pontos/jogo. Eficácia é um tipo especial de rácio que representa a relação de consumo, como seja quilómetros/litro, onde um dos termos da fracção representa o benefício e o outro o custo. Com quilómetros/litro o benefício são os quilómetros percorridos e o custo, o do combustível consumido. Nesta relação o benefício eficácia, é entendido como a medida da capacidade de alguma coisa fazer o que é suposto fazer. A Eficácia Luminosa define-se como a relação entre lúmen e watt e aplica-se a emissores de luz tais como os LEDs, lâmpadas e luminárias. Implicitamente, considera-se que os lúmens são indicadores fidedignos do benefício da iluminação, enquanto os watts traduzem fielmente os custos dessa iluminação. Infelizmente isto não é verdade na maior parte das vezes para os emissores de luz utilizados em aplicações luminosas. Os lúmens podem ser bons ou maus. Um “bom lúmen” é aquele faz aquilo que é suporto fazer. Os bons lúmens permitem às pessoas ler livros, realçar formas arquitectónicas, criar conforto visual, através de padrões de forma, sombras e destaque ou evocar efeitos de alerta quando essa percepção é desejável. Os “maus lúmens” são os que conduzem ao pobre desempenho do esperado para a sua função ou produzem efeitos nocivos na visão ou saúde. Artigo escrito segundo a Antiga Ortografia. www.oelectricista.pt o electricista 80

A maior parte dos lúmens produzidos não entram nos olhos das pessoas; esses lúmens não contêm qualquer benefício, constituindo um desperdício. Outras vezes, indesejáveis lúmens atingem os olhos. Aqui se incluem os que causam desconforto visual, como acontece com as luminárias com elevado encadeamento, lúmens esses que reduzem a acuidade visual, por névoas de reflexão, resultantes da luz reflectida por superfícies, lúmens que alteram as cores devido à sua pobre qualidade espectral e lúmens que alteram o ritmo circadiano, por actuação desatempada em intensidade, espectro ou duração da exposição. Os benefícios da luz às pessoas são os estímulos à visão, para proporcionar visibilidade, percepção da cor, reforço psicológico e emoções relacionados com a saúde, nomeadamente, a atenção, a actuação do ritmo circadiano e a qualidade do sono. Não podemos esperar que um simples rácio contenha todos estes potenciais benefícios, mas podemos questionar a veracidade dos lúmens, por si só, serem mandatórios de qualquer daqueles benefícios. Os watts são um indicador imperfeito do custo da luz, por duas razões primárias. Primeiro, watts são uma medida de potência e não de energia. O custo da iluminação como objectivo final, seja em euros e em emissões carbónicas está dependente do tempo de uso. Os emissores de luz frequentemente desligados consomem pouca energia, mesmo que sejam de baixa eficácia luminosa. Em segundo lugar, a energia eléctrica pode ser

A Eficácia Luminosa define-se como a relação entre lúmen e watt e aplica-se a emissores de luz tais como os leds, lâmpadas e luminárias. Implicitamente, considera-se que os lumens são indicadores fidedignos do benefício da iluminação, enquanto os watts traduzem fielmente os custos dessa iluminação.

Os benefícios da luz às pessoas são os estímulos à visão, para proporcionar visibilidade, percepção da cor, reforço psicológico e emoções relacionados com a saúde, nomeadamente, a atenção, a actuação do ritmo circadiano e a qualidade do sono. Não podemos esperar que um simples rácio contenha todos estes potenciais benefícios, mas podemos questionar a veracidade dos lúmens, por si só, serem mandatórios de qualquer daqueles benefícios.

gerada por diferentes tecnologias. Um watt de uma central eléctrica não é ambientalmente muito onerosa, enquanto se for produzido por baterias fotovoltaicas aproveitando a luz solar é benigna. À medida que a produção de energias renováveis se expande, a fonte de energia vai-se tornando mais relevante para o cálculo dos custos de iluminação. As próprias regulamentações e normalizações vigentes para a concepção de ambiências respeitam. só parcialmente. aqueles que devem ser os objectivos prioritários de um sistema de Iluminação: 1.° – Criar condições de actividade visual e de bem-estar. em linha com as necessidades do ser humano (pôr as pessoas nos projectos); 2.° – Recorrer a recursos energéticos optimizados. De nada serve um sistema de iluminação ser de alta eficácia luminosa, se o resultado final não visar alcançar os factores humanos inerentes à funcionalidade e ao bem-estar. É fundamental ter sempre presente que a boa iluminação não se mede mas se sente para o bem e para o mal. Citando Howard Brandston: “Regras são o substituto do pensamento. Cegar nelas é como preencher um formulário” – É fazer como sempre tem sido feito, sem qualquer particular virtude. inovação ou criatividade.


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