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dossier sobre mobilidade elétrica
rede de mobilidade elétrica: o presente e os desafios
Pedro Santos e Gonçalo Pacheco MOBI.E
Se voltarmos meia dúzia de anos atrás, já quase não nos lembramos que uma viagem num veículo elétrico a ligar Porto e Lisboa, entre as paragens, autonomia do veículo e velocidades de carregamento, podia demorar perto de 20 horas de viagem. Apesar da rede piloto da MOBI.E já existir com cerca de 400 postos de carregamento lento (3,7 kW de potência máxima), apenas 25 municípios estavam cobertos e a maior parte dos postos encontrava-se sem qualquer tipo de manutenção. Ao mesmo tempo os postos rápidos em todo o país não chegavam à dezena, tornando toda a experiência de conduzir um carro elétrico extremamente stressante e logisticamente impraticável, tanto do ponto de vista da infraestrutura de carregamento, como das autonomias das viaturas. Era premente uma renovação da estratégia para a mobilidade elétrica em Portugal, que acompanhasse os desenvolvimentos tecnológicos ao nível dos veículos, dos carregadores e dos modelos de gestão. Para tal, nos finais de 2015, surgiu a atual MOBI.E, com o objetivo claro de repor o funcionamento da rede piloto de postos de carregamento e de operar como Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica, tal como prevê o Regulamento da Mobilidade Elétrica. Desde então que a MOBI.E, juntamente com os vários parceiros da Rede, tem procurado mudar a mobilidade elétrica em Portugal, com investimento na infraestrutura de carregamento, desenvolvimentos tecnológicos ao nível de sistemas que permitam uma melhor experiência para os utilizadores e promovendo a interoperabilidade entre todos os agentes de mercado. Entre os vários avanços que se obtiveram nos últimos anos, destacam-se: • Recuperação e atualização de todos os postos da antiga Rede Piloto; • Substituição de 100 postos da Rede Piloto, por novos equipamentos de potência superior; • Instalação de 202 postos para garantir a cobertura de todos os municípios; • Integração de sistemas com os operadores de rede de distribuição; • Início do pagamento dos carregamentos de veículos elétricos; • Concessão da operação dos postos de carregamentos da Rede Piloto; • Entrada no sistema de 20 Comercializadores de Energia para a Mobilidade Elétrica (CEME) e de 80 Operadores de Postos de Carregamento (OPC); • Integração de mais de 2500 postos de carregamento na Rede; • Desenvolvimento do protocolo de comunicação OCPI, permitindo o aparecimento das apps dos CEME; • Integração dos primeiros Detentores de Postos de Carregamento (DPC); • Instalação e concessão de 10 Hubs de carregamento e de 12 Postos de carregamento Ultrarrápidos. O modelo desenhado e implementado na Rede Mobi.E centra-se na universalidade de acesso e interoperabilidade entre os diversos agentes de mercado, tendo a MOBI.E um papel de harmonizar os fluxos de informação entre as várias entidades, isto é, garante o roaming entre os operadores e comercializadores e comunica com o setor elétrico. www.oelectricista.pt o electricista 79
Neste ecossistema MOBI.E, existem os Comercializadores (CEME), que são a entidade que tem a relação direta com os utilizadores, isto é, um utilizador que pretenda carregar na Rede Mobi.E terá sempre de usar um CEME, que através de um cartão ou de uma aplicação móvel, lhe dará acesso a todos os postos da Rede, independentemente do operador de cada posto. Por sua vez, os Operadores de Pontos de Carregamento (OPC) são responsáveis pela instalação e manutenção dos postos, estabelecendo uma tarifa de operação que é cobrada pelo CEME ao UVE. O sistema da MOBI.E agrega os clientes do CEME e os postos do OPC, gerindo, desta forma, os acessos, as mensagens recebidas pelos postos, os cálculos dos consumos e os fluxos de informação entre as entidades. O roaming não se restringe aos CEME e OPC, mas também ao setor elétrico, através da integração dos sistemas da MOBI.E com os Operadores da Rede de Distribuição - ORD (E-Redes, EDA e EEM). Desta forma, numa instalação de mobilidade elétrica, quer seja dedicada ou não, podem existir múltiplos fornecedores de energia. A MOBI.E, através dos dados enviados pelos postos de carregamento, quantifica a informação de cada CEME, que possui o seu próprio CSE, e envia-a ao ORD em períodos quarto-horários. Este, por sua vez, deduz os valores da mobilidade elétrica e apenas aloca ao detentor da instalação a energia remanescente. A MOBI.E tem vindo a redesenhar a forma como são feitas as integrações de sistemas com os CEME e OPC e investiu no desenvolvimento do seu sistema, nomeadamente na implementação do protocolo OCPI, o que veio permitir os carregamentos ad-hoc (sem necessidade de contrato com um CEME), a utilização de aplicações móveis para substituição dos cartões RFID, o envio de informação em tempo real e o aumento da autonomia dos OPC na monitorização dos seus postos. O OPCI é um protocolo de comunicação entre plataformas, que é uma referência internacional no setor da mobilidade elétrica e que passou a ser matriz orientadora de todas as integrações feitas com a MOBI.E. Atualmente, os CEME integrados por OCPI com a MOBI.E conseguem gerir toda a sua atividade em tempo real, garantindo, igualmente, uma maior flexibilidade em termos da tipologia de tarifário a praticar, como por exemplo entre um pré-pago ou um pós-pago. Reconhecendo o estado embrionário da mobilidade elétrica, a MOBI.E disponibiliza a qualquer entidade que queira desenvolver a sua atividade neste setor, um conjunto de serviços básicos e gratuitos de gestão de ativos e de troca de informação. Estes serviços permitem que uma nova entidade possa desenvolver o seu negócio, desde a manutenção dos postos até à faturação, com um baixo custo inicial. Atendendo ao modelo interoperável e universal da MOBI.E, um operador, por exemplo, com apenas um Posto de Carregamento, terá acesso à totalidade dos utilizadores, podendo obter proveitos com um investimento inicial muitíssimo reduzido. Importa ainda mencionar que a MOBI.E permite a ligação do seu sistema a plataformas próprias dos Operadores, seja via protocolo OCPP ou OCPI, o que possibilita uma gestão de ativos personalizada e adaptada às necessidades de cada operador. O modelo MOBI.E não é apenas otimizado para a rede pública, é também expansível para os espaços de acesso privado, que podem ser escritórios, condomínios, ou até mesmo moradias unifamiliares. Estas entidades são descritas como Detentores de Posto de Carregamento (DPC), uma figura que tem tido um crescimento significativo nos