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vozes do mercado
o futuro da energia eólica em Portugal
Modesto Morais
Manager Innovation, Research and Development IEP – Instituto Electrotécnico Português
Por todo o mundo, o potencial da energia eólica é utilizado como recurso verde para a produção de energia elétrica. Com os incentivos dados em anos passados foi possível um forte investimento neste setor, tornando-o o segundo mais rentável no que diz respeito à produção elétrica com origem em fontes de energia renovável, ficando apenas atrás das centrais hídricas. Hoje, pelo menos em Portugal, parece existir um desinteresse por essa tecnologia em detrimento do solar fotovoltaico. Na Europa determinou-se que, até ao ano de 2030, cerca de 32% de toda a energia consumida deverá ter como origem recursos renováveis. Neste contexto, o nosso país tem metas bastante ambiciosas no que concerne à produção de energia elétrica com recurso a fontes renováveis. Efetivamente, Portugal estabeleceu para si próprio, através do PNEC 2030, que o seu contributo global para a incorporação de recursos energéticos renováveis deverá estar na ordem dos 47%, sendo que para a produção de eletricidade, essa incorporação de renováveis estará próxima www.oelectricista.pt o electricista 77
dos 80%. Face ao exposto, é fundamental garantir-se que existirá um reforço do mix energético nacional estabelecido, dando-se particular relevo às energias de origem eólica, fotovoltaica, biomassa, entre outras. No final do ano de 2020, a potência eólica instalada em todo o mundo correspondia a 650 GW e os 5 países que globalmente mais contribuíram para o crescimento da energia eólica foram a China, os Estados Unidos da América, a Alemanha, a Índia e o Brasil. Na Europa, Portugal, até meados de 2010, foi um dos principais impulsionadores do desenvolvimento do setor eólico. Posteriormente, o investimento na implantação de aerogeradores decaiu significativamente,
existindo neste momento alguma indefinição, tanto do ponto de vista da estratégia nacional para o desenvolvimento do setor como por via do surgimento de algumas indefinições regulatórias. Neste enquadramento, não esquecendo os compromissos internacionais assumidos sobre a redução das emissões de gases com efeito de estufa, a evolução da disponibilização futura da capacidade de produção de energia eólica reveste-se de alguma preocupação. Como podemos ver na Figura 1, o grande investimento em parques eólicos deu-se entre os anos de 2004 e 2010. A partir daí, observando-se a evolução anual dos investimentos nesse setor de produção energética, tornou-se óbvio que a capacidade eólica nacional está cada vez mais envelhecida e essa tendência de envelhecimento, por via das incertezas acima salientadas, deverá manter-se num futuro próximo. Sendo esta a tendência que prospera, uma forma de garantir que os parques se manterão em funcionamento é estender-se o período de vida útil dos aerogeradores, em que os mais antigos têm como limite de vida 20 anos. Sendo este período de vida útil garantido pelo type certificate dos fabricantes (MTC). Contudo, este facto não impossibilita a continuação da exploração dos parques eólicos com as máquinas aí residentes (há parques em operação com mais de 30 anos), existindo contudo outros fatores que poderão condicionar a sua operação por muitos mais anos, nomeadamente a segurança no acesso aos equipamentos e
Figura 1. Número de parques eólicos instalados anualmente em Portugal (Fonte: e2p).