Indústria 4.0 Metalomecânica – viagem à revolução laser.
texto e fotos por Carlos Alberto Costa
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reportagem
A Trumpf convidou jornalistas para visitarem empresas portuguesas do ramo metalomecânico, casos exemplares da transição sustentada de modelo industrial por via da incorporação de novas tecnologias com os requisitos da Indústria 4.0. A Silfesan e a Apametal, ambas de gestão familiar, foram as escolhidas.
robótica
Silvino Feijão e a segunda geração da Silfesan
A multinacional alemã Trumpf, fabricante de máquinas-ferramenta e lasers industriais, convidou jornalistas, entre os quais um representante da “robótica”, para visitarem duas empresas fabris e verificar in loco o impacto tecnológico em dois ambientes de gestão familiar que atravessam cerca de quatro décadas de operação e que estão, atualmente, em processo de evolução para cumprir os requisitos da Indústria 4.0. A visita decorreu a 21 de fevereiro. A Silfesan, em Torres Vedras, e a Apametal, em Sintra, são exemplos de empresas que souberam apanhar o comboio da inovação. A gestão familiar, que em tantos casos é vista como uma ‘camisa-de-forças' ofereceu, nos dois casos, condições de mentalidade aberta que alavancaram o desenvolvimento. Na Bordinheira, arredores de Torres Vedras, mergulha-se num certo Oeste profundo, onde as ruas sãos estreitas e rendilhadas por entre o casario, o vizinho não é um estranho e ainda se respira campo, vinha, pomar e oxigénio
melhorado. Silvino Feijão Santos, 60 anos, instalou-se aqui por conta própria há quase 40 anos, primeiro com uma serralharia mecânica modesta que fabricava alfaias agrícolas, hoje uma empresa com golpe de asa para abraçar a Indústria 4.0, investindo em maquinaria e software que tornou o processo produtivo mais eficiente e melhor preparado para as exigências do mercado metalomecânico moderno. A Silfesan – Serralharia Civil e Tornearia Lda., fundada em 1980, presta serviços nas áreas de maquinação e de metalomecânica. Gerida por Silvino Feijão e os dois filhos, Samuel e Liliana, emprega hoje mais de 60 pessoas e faturou 5,5 milhões de euros em 2018. Para este ano, a estimativa é de 6 milhões. “O passado não é aquilo que passa, é aquilo que fica do que passou”, escreveu Alceu Amoroso Lima, pensador e escritor brasileiro (1893-1983). Silvino Feijão não esqueceu o torno mecânico das origens. Fala dele com o desvelo de quem conheceu tempos difíceis, abanou mas não
perdeu o pé, acumulando experiência que lhe permite hoje perceber melhor as necessidades da operação no seu setor e apostar nas condições para que o trabalho se desenrole de forma eficiente e à velocidade que o mercado obriga. Para isso a Silfesan foi trabalhando o músculo para investir em máquinas de última geração, entre as quais Trumpf, por onde agora passa quase metade do negócio. “Antes das máquinas da Trumpf tínhamos uma guilhotina, um corta-cantos, um engenho de furar, uma rebarbadora, enfim, uma máquina para cada tarefa. Esta nova tecnologia eliminou a necessidade de algumas dessas máquinas, o laser faz tudo mais rápido, com melhor qualidade e preço competitivo", conta Silvino Feijão. Sobre as dificuldades da transição tecnológica, o fundador da Silfesan admite que 'se fosse ele a fazê-la não seria tão fácil, mas apoiou-se na gente nova.” “Na verdade, os mais novos também já não sabem fazer as coisas como eu fazia há 40 anos, e que ainda faço. Para fazer uma máquina é preciso outra e, muitas vezes, ainda é necessário fazer peças e reparar muitos componentes à moda antiga. Um torno mecânico é sempre útil ”, diz-nos Silvino Feijão, certo de que a experiência é um ativo que ainda encontra lugar na sua empresa, ainda que ao lado das máquinas que já são o rosto da quarta revolução industrial. “Mas nunca estou contente. Quero sempre melhor. Comecei a trabalhar com um pequeno torno. Quando comecei a ir às feiras, olhava para as máquinas e queria tê-las. E quando conseguia uma, via outra mais avançada e queria essa. Resumindo, tenho 20 máquinas CNC de torneamento e fresagem, a mais antiga data de 1998. E há sempre uma máquina mais moderna, ou forma de tornar mais eficiente uma máquina que já e moderna. Depois, temos que gerir o equilíbrio, saber abrandar, mas nunca parar, ou então seremos ultrapassados pelo mercado”, avisa Silvino Feijão. A Indústria 4.0 reflete uma vertente de ousadia para as empresas e o empresário evoca uma lição de vida: “Ensinaram-me sempre a não ter medo. Quando