Caminho a seguir em ciência e tecnologia

Page 1

Caminho a seguir em ciência e tecnologia

J. Norberto Pires

robótica

2

DA MESA DO DIRETOR

Prof. da Universidade de Coimbra

Portugal precisa de um caminho claro na Ciência e Tecnologia. Não pode viver de financiamentos essencialmente públicos e não pode estar à mercê das ideias deste e daquele ministro. Ou seja, a estratégia tem de ser clara, tem de se manter no tempo e tem de apelar à tenacidade e resiliência dos vários parceiros do sistema científico e tecnológico nacional. Somos um país muito pequeno e é impossível que sejamos bons em tudo. Há coisas em que somos relevantes, outras em que temos potencial e podemos desenvolver competências para melhorar o desempenho e ter relevância, outras, emergentes, que podem ser estratégicas para o país, e ainda outras em que somos fracos e não seremos melhores no futuro. Isso significa que o país tem de definir vetores estratégicos de desenvolvimento e gerir (é a palavra certa) os seus recursos em ciência, na forma como coloca os resultados ao serviço da inovação nas empresas e na forma como dissemina esse conhecimento pela sociedade (no ensino e formação avançada, na divulgação de ciência e tecnologia e na promoção de iniciativas disruptivas que motivam saltos culturais e civilizacionais). Estive recentemente no Brasil, visitei muitas instituições de interface entre a

ciência e a indústria e vi modelos que têm um enorme potencial. Modelos em que federações da indústria colocam parte dos seus recursos no financiamento de atividades de I&D, isto é, uma pequena parte dos lucros das empresas, reunidas em associações empresariais, são disponibilizados em chamadas de projetos orientados para a indústria, seguindo vetores estratégicos definidos ao nível dos vários Estados (o Brasil está dividido em Estados e existem Federações Industriais por cada Estado). Esse modelo, com modificações para que recursos privados pudessem alavancar recursos públicos, num fundo que respondesse a objetivos estratégicos nacionais, ou até regionais com coordenação nacional, deveria ser pensado para Portugal. O país precisa de dar um salto gigantesco de competitividade e isso exige modelos de financiamento estáveis, para ter ações consequentes e permanentes, e instituições de gestão privada, mas cooperação ativa com os organismos públicos de I&D, que possam ser os elementos chave de uma nova política de desenvolvimento científico com forte impacto na economia e nas empresas. Há instituições em Portugal que fazem este caminho com relevo. Uma delas, que visitei recentemente, é o INEGI. Gerido de forma privada, com uma estrutura curta e muito eficaz, presidida atualmente pelo Professor Alcibíades Guedes, com vice-presidência do Professor Pedro Camanho, ambos da FEUP, o INEGI apresentou em 2018 um volume de negócios de 9,9 milhões de euros, crescendo 20,2% relativamente a 2017. O EBITDA foi de 1,3 milhões de euros e o resultado líquido operacional de 815 mil euros, como consequência da ação de uma equipa composta por 147 contratados e 108 bolseiros de investigação. Quem faz bem merece a devida nota e merece ser olhado como modelo. Falta muito a Portugal isto de que o INEGI é um excelente modelo e exemplo.

Portugal precisa de um caminho claro na Ciência e Tecnologia. Não pode viver de financiamentos essencialmente públicos e não pode estar à mercê das ideias deste e daquele ministro. Ou seja, a estratégia tem de ser clara, tem de se manter no tempo e tem de apelar à tenacidade e resiliência dos vários parceiros do sistema científico e tecnológico nacional.

Prof. Alcibíades Guedes

Prof. Pedro Camanho


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.