robótica
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Texto escrito de acordo com a antiga ortografia.
NOTA DE ABERTURA
“A inovação é um enorme contributo para a melhoria da vida dos cidadãos”
António Saraiva Presidente da CIP
Não tenho qualquer dúvida em afirmar que o relativo bom momento que se vive na indústria e na economia portuguesa assenta muito no facto das empresas nacionais terem assumido a inovação como paradigma de sucesso e o empreendedorismo como marca para assegurar o futuro. Está tudo feito? Vivemos num oásis em que tudo funciona? Não, claro que não. Mas a minha reflexão sobre empreender e inovar em Portugal não estaria completa sem destacar alguns aspectos essenciais para uma análise imparcial sobre o tema. Em 2016 houve em Portugal um ligeiro, ligeiríssimo, aumento do investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D). Em termos relativos evidenciou-se um crescimento na ordem dos 0,03 pontos percentuais, mas o que convém destacar é que este valor marca positivamente o país, depois de 6 anos seguidos de queda deste indicador. Note-se ainda que 48% do investimento nacional em Investigação e Desenvolvimento foi efectuada por empresas privadas, sendo assim superior à despesa pública (Estado e Ensino Superior), o que não acontecia desde 2013. Mais do que o valor absoluto desta mudança realço a transformação que ele revela: há confiança e vontade de investir o que já de si é um factor positivo, quer do ponto de vista do investimento público quer para do privado. Deixo ainda uma outra nota para enquadramento: o número de investigadores (doutorados ou não) inseridos em programas com empresas, também, aumentou. Este é o
caminho. Por outro lado, os índices de confiança dos consumidores há muito que não estavam tão altos. Só espero que isto tenha tradução positiva na economia e nas decisões estratégicas. Se esta confiança se manifestar em consumo excessivo e pouco produtivo, de nada nos serve. Mas a inovação, ou melhor, o grau de inovação, não pode apenas ser medido em valores de investimento. Antes, a inovação e o seu ecossistema é o resultado de várias políticas de investimento que não passam apenas por montantes financeiros. É fundamental continuar a investir em políticas estruturais de médio e longo prazo que permitam ao país, à comunidade científica, estudantil, às empresas – seja de que tipo forem – e finalmente, à população em geral, uma melhor percepção do papel que o empreendedorismo e a inovação têm nas mudanças na sociedade, bem como o impacto das actividades de inovação na vida de todos. Creio mesmo que este é um aspecto fundamental para continuar a promover a inovação na sociedade e na economia: mostrar ao cidadão comum que a inovação e o empreendedorismo são responsáveis pelas alterações na qualidade de vida, no bem-estar, na saúde, na forma de aproveitar o tempo, na maneira de comunicar. Enfim, a inovação é um enorme contributo para a melhoria da vida dos cidadãos. E sem investimento e políticas de inovação, nada do que temos seria possível. É por isso que entendo que os resultados das empresas portuguesas nos concursos do HORIZON 2020, “só” o maior programa de inovação da Europa, são um sinal de esperança e motivação para o país. Muitos não sabem ou não valorizam, mas só para terem uma ideia, em Portugal e em 2017, no “SME Instrument”, já se captou mais financiamento no âmbito do programa, do que entre 2014 e 2016 combinados. É um resultado a todos os níveis notável! No “SME Instrument”, as empresas portuguesas já viram 59 projectos aprovados na Fase 1 e 10 projectos na Fase 2. Estes projectos trouxeram para Portugal mais de 17M€ de investimento. Diria ainda
que valorizo, de igual modo, o montante financiado para as empresas e centros de saber nacionais, quanto o networking que é proporcionado pela participação num programa de inovação deste tipo e com estas características. São cada vez mais os empreendedores e investigadores que tomam contacto com outras realidades, com outras formas de transmitir conhecimento, com novas práticas de inovação, enfim, com tecnologias e conceitos. Este contacto potencia, assim, novas ideias, fomenta a transmissão do conhecimento, impulsiona novos projectos e mudanças que se querem positivas e úteis à sociedade. Repito: este é o caminho a seguir. Considero, pois, que deve haver uma enorme responsabilidade partilhada entre o Estado e as empresas (e aqui uma palavra de apreço também para as NGO nacionais que representaram perto de 5% do investimento em I&D em 2016) não só no aumento dos níveis de investimento mas também, na forma como comunicam os resultados desses investimentos. É normal: as pessoas não valorizam o que não dão valor e não valorizam o que julgam por adquirido. Mas se pensarmos na forma como comunicamos (ou melhor ainda, como comunicam os jovens em todo o mundo), verificamos que foram necessárias milhares de horas de dedicação para atingirmos o patamar de sofisticação que temos hoje. E que nem damos importância. (não fica melhor: a quem não damos importância?). Como Presidente da CIP, não tenho parado de promover a inovação enquanto factor crítico de sucesso para as nossas empresas que, associado ao desígnio da internacionalização, ajudam a completar o imperativo do crescimento. Nessa medida, reforço, de forma frequente junto das entidades competentes, a necessidade de melhorar os mecanismos de apoio à inovação, a sua adaptação à realidade do tecido industrial nacional e bem assim, a abolição da burocracia dos processos de inovação. Haja vontade política que os empresários cá estarão, como sempre, para desempenhar o seu papel em todo o processo.