A qualidade da água para consumo humano e a cibersegurança

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A era da história do saneamento básico que vivemos coloca-nos determinados desafios, designadamente garantir a segurança da qualidade da água que bebemos, incrementando a segurança dos sistemas de abastecimento de água para consumo humano em diversas vertentes, incluindo a cibersegurança. Luís Simas Departamento da Qualidade Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR)

Dossier sobre Cibersegurança Industrial

A qualidade da água para consumo humano e a cibersegurança

1. INTRODUÇÃO O saneamento básico, entendido como a distribuição de água para consumo humano e a recolha, drenagem e tratamento de águas residuais, é um dos maiores avanços da medicina e, por consequência, uma das maiores conquistas da Humanidade. O saneamento básico adequado é responsável pela proteção e manutenção da vida de milhares de milhões de seres humanos e pela manutenção dos ecossistemas. Esta importância está devidamente consagrada nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Goals – SDG’s), preconizando que até 2030 toda a população mundial deverá ter acesso a água e saneamento seguros (SDG 6). É também importante recordar que em 2010 uma resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas incluiu o acesso seguro à água e ao saneamento no conjunto dos direitos humanos. Estes são apenas alguns dos aspetos que relevam a extrema importância que os processos de distribuição de água e drenagem e tratamento de águas residuais têm para a qualidade de vida da Humanidade, mas acima de tudo para a proteção da saúde humana e manutenção dos ecossistemas no planeta.

2. A HISTÓRIA DO SANEAMENTO BÁSICO O Professor David Sedlak no seu livro “Water 4.0” dividiu a história do saneamento básico em 4 eras: 2.1. Water 1.0 Esta era, de acordo com o Professor David Sedlak, iniciou-se há cerca de 2500 anos com as inovações introduzidas pela civilização romana nos processos de distribuição de água e recolha de águas residuais. Com efeito, ainda hoje estão funcionais infraestruturas como aquedutos para o transporte de água e, por exemplo, na cidade de Roma ainda hoje é visível a Cloaca maxima que é um dos sistemas de esgotos mais antigos do mundo (cerca de 600 a.C). 2.2. Water 2.0 A associação da qualidade da água à saúde humana e a consciência da necessidade para o tratamento da água constitui o início da segunda era da história do saneamento básico. Esta era iniciou-se no período da Revolução Industrial e tem como um dos seus episódios mais emblemáticos a relação

causa/efeito estabelecida por John Snow em Londres entre um surto epidémico de cólera e a contaminação da água de um poço por águas residuais. O trabalho deste médico inglês foi o grande catalisador para a necessidade de desinfetar a água para o consumo humano e repensar o processo de rejeição das águas residuais. 2.3. Water 3.0 Pode considerar-se que esta era se iniciou de forma consistente já no século XX quando a instalação de estações de tratamento de águas residuais passou a ser efetuada de forma regular, resultante da necessidade imperativa do tratamento prévio dos esgotos antes de serem rejeitados para o ambiente. Desta forma protege-se a saúde humana salvaguardando a qualidade das origens de água para consumo humano, bem como se mantem o funcionamento dos ecossistemas, essenciais para a manutenção da qualidade ambiental do planeta. 2.4. Water 4.0 A quarta era, que atualmente vivemos, é caraterizada por um crescimento assimétrico, do ponto de vista geográfico, da população mundial, pelo surgimento crescente de megacidades (cidades com mais de 10 milhões de habitantes que já são cerca de 50) e pela crescente influência das alterações climáticas que têm determinado a existência mais regular de fenómenos climáticos extremos como as secas, as inundações e outras catástrofes naturais. Existem ainda mais dois aspetos que pessoalmente gostaria de acrescentar à era Water 4.0: • Os compostos emergentes e produtos de cuidado pessoal, ou seja, desreguladores endócrinos, medicamentos, entre outras substâncias que acabam por ser rejeitadas no ambiente por não existirem tratamentos específicos nas estações de tratamento de águas residuais (componente safety da segurança da água); • A segurança dos sistemas de abastecimento de água nas vertentes proteção da integridade física das infraestruturas e cibersegurança (componente security da segurança da água). A análise desta evolução histórica é fundamental para se perceber o enquadramento da situação atual e para identificar os enormes desafios que estão a ser colocados à gestão adequada dos sistemas de abastecimento de água.

3. O ENQUADRAMENTO REGULATÓRIO DA CIBERSEGURANÇA NOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA Os desafios que a era Water 4.0 coloca aos serviços de abastecimento de água e de drenagem e tratamento das águas residuais, bem como às instituições reguladoras deste setor, obrigam a uma


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