a certificação energética de edifícios e a importância da avaliação energética

Page 1

58

dossier sobre auditorias / certificação energética

a certificação energética dos edifícios e a importância da avaliação energética ADENE – Agência para a Energia

O certificado energético de um edifício reflete o seu desempenho energético e indica as medidas que podem melhorar o conforto térmico dos seus ocupantes, assim como reduzir os custos com a energia. Este artigo foca aspetos essenciais para o rigor da avaliação energética de um edifício e consequentemente, para a credibilidade e mais-valia do certificado energético. Estes aspetos devem ser valorizados pelos diferentes intervenientes em todo o processo, desde os projetistas, os peritos qualificados, os proprietários, passando pelos gestores dos edifícios. O perito qualificado é responsável pela avaliação energética do edifício e a sua prestação influencia diretamente a valorização disponibilizada pelo certificado energético, que estará disponível no mercado durante vários anos, bem como as opções de investimento na reabilitação a realizar pelos proprietários, implementando as melhorias identificadas. Os temas aqui abordados são válidos para a generalidade dos edifícios, embora se pretenda focar nos edifícios de comércio e serviços, onde é obrigatória a realização de uma avaliação energética completa às diversas formas de utilização de energia. Esta avaliação é essencial para a melhoria do desempenho energético dos edifícios, pois apenas é possível gerir adequadamente aquilo que se mede. De acordo com a atual legislação, a avaliação energética corresponde a uma análise detalhada das condições de exploração de energia de um edifício, com vista a identificar os diferentes vetores energéticos e a caraterizar os consumos energéticos. Esta avaliação é necessariamente suportada por uma auditoria energética que compreende uma análise detalhada do desempenho energético do edifício, baseada em medições e acompanhamento do uso de energia, eficiência energética e consumo de energia. Além dos requisitos previstos na legislação, uma boa prática a considerar nos procedimentos de auditoria é a Norma ISO 50002, que estabelece um conjunto mínimo de requisitos que conduzem à identificação de oportunidades para a melhoria do desempenho energético. A necessidade de edifícios mais sustentáveis e com baixas necessidades de energia conduz à incorporação crescente de fontes de energia renovável, verificando-se uma alteração do fluxo unidirecional de energia, em que o edifício é apenas um consumidor. Os edifícios vão ter cada vez mais a capacidade de captar, armazenar, consumir ou fornecer energia renovável, o que irá aumentar a complexidade dos sistemas técnicos e, consequentemente, criar um maior desafio nas auditorias energéticas a realizar. Durante as diversas fases do ciclo de vida de um edifício existe um conjunto de aspetos fundamentais para promover e facilitar a obtenção de informação fidedigna sobre o funcionamento e a eficiência real do edifício, que suporte as auditorias energéticas. Na fase de conceção, é importante que os projetistas proponham soluções que não se centrem apenas no cumprimento dos requisiwww.oelectricista.pt o electricista 64

tos legalmente previstos, mas antes que tenham uma visão global e de longo prazo do edifício. É fundamental que na fase de projeto se encontrem previstos em locais estratégicos, mecanismos de acesso para a medição ou monitorização dos parâmetros técnicos relevantes. A acessibilidade de medição e monitorização torna-se essencial para a gestão energética do edifício, também na fase de comissionamento, permitindo aos técnicos aferir as eficiências reais ou a contribuição energética real dos sistemas técnicos. A utilidade real e o custo da auditoria energética dependerão diretamente das soluções de controlo e monitorização das instalações, assim como da acessibilidade para pontos de monitorização. Um edifício que tenha previsto em projeto um sistema de gestão global facilitará o acesso a todo um histórico de registos de consumos, perfis de utilização e parametrização das variáveis dos sistemas técnicos, que facilitam e promovem a qualidade do trabalho de auditoria. O recurso na fase de projeto a ferramentas de Building Information Modeling (BIM) contribuirá, decisivamente, para facilitar o trabalho futuro de auditoria, no que se refere à definição da geometria e das caraterísticas construtivas dos edifícios. Na fase de construção, o projeto de execução é um elemento fundamental para garantir a qualidade da instalação física dos sistemas técnicos, promovendo a coerência entre o desempenho energético previsto, o real e o desempenho avaliado pelo perito. Desta forma são valorizadas, e reforçadas, a adequabilidade e a qualidade do certificado energético. Com a utilização do edifício, as auditorias energéticas permitem aferir a sua eficiência energética real, a qual depende das soluções previstas em projeto e da capacidade de controlar e monitorizar os sistemas técnicos, adaptando-os às necessidades reais. Os edifícios existentes, além de representarem a maioria do parque edificado, apresentam o maior potencial de incremento de eficiência energética, sendo por isso necessário identificar e quantificar o potencial de eficiência energética para cada edifício individualmente, através de uma auditoria energética completa e rigorosa. A auditoria energética desenvolve-se em diversas fases. Na fase de documentação deverá ser promovida a troca de informação entre o perito qualificado, o proprietário e os restantes técnicos. O objetivo é recolher a melhor informação que permita caraterizar todo o edifício, nomeadamente as telas finais de todos os elementos de projeto, as faturas de todas as fontes de energia consumidas no edifício, o histórico da monitorização de consumos, entre outros elementos. Após a recolha e análise dos elementos fornecidos na fase de documentação tem início o trabalho de campo de forma a recolher todos os elementos para a caraterização real do edifício. A auditoria energética foca-se na caraterização da utilização real do edifício, dos elementos que compõem a envolvente e de todos os sistemas técnicos, nomeadamente a climatização, a ventilação, a bombagem, a iluminação, a produção de água quente sanitária, os ascensores e os sistemas de aproveitamento de energia renovável. Inclui ainda a avaliação de registos de intervenção e manutenção, alterações


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
a certificação energética de edifícios e a importância da avaliação energética by cie - Issuu