biomassa, uma opção que se impõe

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editorial

biomassa, uma opção que se impõe

Amadeu Borges Diretor

No que diz respeito a Portugal em que, para já, os recursos fósseis não passam de um processo exploratório ao qual acresce um rumo contraditório na sua utilização, estes recursos endógenos estão bem identificados e a biomassa surge como o recurso que está disponível para tecnologias de conversão que já deram provas da sua eficiente utilização e maturidade. Portugal, e no que diz respeito exclusivo à biomassa, deu provas da vontade de utilização, quando num passado recente foram lançados a concurso 100 MW, distribuídos por 15 centrais (cujo objetivo era atingir, em 2010, a meta de 150 MW de potência instalada baseada em biomassa). O que falhou para que apenas algumas unidades estejam atualmente em produção? A resposta é relativamente fácil/óbvia: faltou planeamento e a criação prévia de uma logística de recolha e de tratamento da muita biomassa disponível no país. Com efeito foi como se tentasse construir uma casa pelo telhado. Desde 2010, poucas alterações ocorreram no panorama da valorização energética da biomassa. No entanto, a biomassa existe e todos os anos se torna em combustível que sustenta os incêndios florestais. Neste contexto, seria relevante fazer-se um exercício sobre a quantidade de energia que é libertada para a atmosfera e que, de nenhuma forma, é valorizada. É óbvio que um incêndio traz consigo perdas muito dramáticas, quase nunca completamente compreendidas na sua intensidade e complexidade quando, de forma sistemática (e negligente), deixamos combustível espalhado pelas nossas florestas. Em grande medida por força da consciência deste problema, Portugal apressou-se a criar legislação que obriga à limpeza dos espaços florestais que, de acordo com os entendidos nas questões da biodiversidade e das florestas, é uma legislação que não tem em conta várias questões, nomeadamente o destino de toda a biomassa que fica assim disponível junto ao solo 2

A procura de energia para satisfazer uma demanda crescente, tem obrigatoriamente de passar pelo aproveitamento dos recursos endógenos passíveis de resultar em energia útil e que, de alguma forma, sejam de fácil obtenção e conversão, recorrendo obviamente/naturalmente a tecnologias maduras, sem se correr o risco de entrar no absurdo das fontes de energia que têm de ser suportadas mensalmente pelo consumidor, para além do custo real de cada unidade de energia consumida. e com teores de humidade muito baixos. Pior ainda, o corte sem planeamento de árvores a que se assiste nos últimos dias, criando amplas clareiras que mais parecem desertos, motivados por uma legislação que muito dificilmente será solução, mas que parece ser solução financeira para muitos dos intervenientes neste problema. Acresce, ainda, que estes espaços abertos sem ponderação se irão constituir como espaços de maior intensidade de produção de nova biomassa de espécies arbustivas, com necessidades crescentes de gestão e/ou remoção. Infelizmente não têm ainda passado de retórica as ideias veiculadas para a biomassa aquando da definição da Estratégia Nacional para a Energia apresentada em 2005 pelo Ministério da Economia e da Inovação. Nessa altura (e bem), a valorização energética da biomassa era apontada com um caminho que levaria à diminuição das importações de energia fóssil, à diminuição do risco de incêndio, à criação de emprego e iria contribuir, também, para diminuir a desertificação nas regiões que frequentemente se identificam pela tipologia de territórios de interior. Certo que as tecnologias para a valorização energética da biomassa estão disponíveis para tempos de retorno de investimento inferiores a 5 anos (curiosamente coincidentes com os ciclos médios de recorrência de grandes incêndios), ou até menos, questiona-se o que falta a Portugal para pôr em prática políticas que conduzam, de forma racional, à diminuição do combustível disponível para a ocorrência de incêndios. Estas tecnologias para a valorização energética devem ser ponderadas numa estratégia integrada de desenvolvimento do interior, cada vez mais despovoado e abandonado, mas com um potencial de recursos que podem e devem ser utilizados e geridos, numa visão de necessidade de gestão de uma floresta mais dinâmica e diversa, em prol da segurança das pessoas e bens, cuja importância foi tão evidente na época

de incêndios de 2017 e com a necessidade premente de utilização de fontes de energia renováveis. Conciliam-se todos estes motivos, com a necessidade de repensar numa utilização efetiva e eficiente da biomassa existente nos espaços rurais para efetivar uma política energética que explore eficazmente este recurso natural. Tendo presente exclusivamente as questões da gestão da floresta e da proteção civil das populações, qualquer iniciativa que passe por tentar resolver os seus principais problemas passa, antes de mais, e sem qualquer sombra de dúvida, por valorizar estes espaços e, por encontrar fontes de rendimento para os seus proprietários que assim se sintam estimulados à sua gestão efetiva. A valorização da biomassa pode ser um dos mais impor tantes recursos que vão fornecendo periodicamente rendas aos seus proprietários, antes do corte final dos povoamentos, sempre associados a longos períodos de rotação. As regiões do “interior” podiam, assim, ser valorizadas e permitir a criação de dinâmicas de promoção para a criação de emprego e de riqueza. Contudo, importa ainda reforçar a ideia de que a biomassa potencial para a valorização energética não é só a que advém das florestas. É, também, a que todos os dias é introduzida nos aterros sanitários, muita dela sem valorização, ou aquela que é resultante das explorações agropecuárias, que para além de ser valorizada energicamente, representaria um importante contributo para reduzir os enormes impactos ambientais. Como conclusão, torna-se urgente a definição de uma política para a valorização energética da biomassa, com todas as vantagens inerentes para a economia das regiões e para o seu desenvolvimento sustentável, em detrimento de políticas que pouco contribuem para os problemas identificados, e que, em pouco ou nada, contribuem para um progresso sólido e harmonioso do país.


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