A equação da inovação: humanidades e ciências
J. Norberto Pires
robótica
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DA MESA DO DIRETOR
Prof. da Universidade de Coimbra
“Eles não sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança, como uma bola colorida, entre as mãos de uma criança”, dizia António Gedeão na sua “Pedra Filosofal”.
Eu acredito muito no poder da imaginação e da intuição. São fatores distintivos que devem ser devidamente considerados.
muito valor à imaginação e à intuição, tanto ou mais valor do que davam à inteligência, e trabalhavam muito, incansavelmente.
O nosso modelo de ensino considera essencial a acumulação de conhecimento específico, a memorização de informação, e uma certa tendência de análise rigorosa (“científica,” como dizem), muito formal e padronizada, em detrimento do apelo à imaginação e à capacidade de ver mais à frente. As duas coisas são necessárias, e a questão está em saber onde colocar o foco para que encontremos o ponto de equilíbrio. Albert Einstein é um excelente exemplo. Jogou com a sua intuição e capacidade imaginativa, e grande parte das suas realizações mantêm-se válidas até hoje. Perguntava-se várias vezes quando fazia determinadas suposições ou avaliava certas teorias, se Deus seguiria aquele caminho. James Maxwell escreveu as equações fundamentais sobre o eletromagnetismo. E fê-lo em grande parte por intuição, para manter a simetria entre propagação da luz em matéria e no vazio, usando a sua capacidade de imaginar como deveria ser. Nicola Tesla, para mim o maior inventor de todos os tempos, imaginou como poderia comandar à distância e como criar robots. E com isso nasceu a “tele-automática” e foram realizadas experiências inovadoras de tele-robótica. O obsessivo John Nash ficava horas a olhar para quadros e paisagens, como se estivesse a imaginar ou a ver mais além, e depois escrevia as suas ideias e propostas. Steve Jobs imaginou um novo mundo e das suas mãos saíram algumas das peças de engenharia mais inovadoras dos últimos 100 anos.
A equação da inovação tem, portanto, de ter estes 4 elementos. Mas em que medida? Hemingway escreveu um livro fabuloso chamado “O velho e o Mar”. Nele o velho Santiago, que não pescava um simples peixe há 84 dias, tinha nos magníficos olhos azuis o brilho de querer apanhar o maior peixe da sua vida. Mesmo muito cansado, com um barco a cair de podre, e a vela remendada. E conseguiu, ganhando de novo o respeito de todos. E nós viajamos a Cuba com ele. O Principezinho, de Saint-Exupery, descobriu que afinal mais importante do que navegar, ver e desvendar novas realidades, é importante descobrir o valor das coisas e das pessoas, e que isso exige tempo.
O que fazemos é uma mistura de imaginação, intuição, intelecto e trabalho, muito trabalho. Todos os que hoje reconhecemos como génios tinham estas caraterísticas. Davam
Faríamos uma autêntica revolução se trabalhássemos mais na fronteira entre as humanidades e as ciências: porque é lá que mora a inovação. Sejam arrojados nos currículos.
As universidades têm geralmente estas valências todas e podem realizar, com os seus alunos, a fórmula da inovação. Nenhum aluno de ciências ou engenharia deveria poder concluir o seu curso sem estudar a história das ideias, sem ter conhecimentos musicais de alguma valia, sem falar de literatura com alguma profundidade, ou sem ter um curso de escrita criativa. São estímulos à imaginação e à criatividade que me parecem essenciais. Nenhum aluno de humanidades deveria poder concluir o seu curso sem falar de matemática, física, discutir a história do pensamento científico ou estar num laboratório a resolver um problema prático.