dossier sobre o futuro da eólica
onde estamos e para onde vamos? energia eólica em Portugal A energia eólica foi a grande impulsionadora do aumento significativo da penetração de eletricidade renovável no mix elétrico português nas duas últimas décadas, tendo passado de valores residuais no início de 2000 para uma contribuição atual de cerca de 22% a 23 % (aproximadamente 12 TWh) da produção de eletricidade em Portugal. José Medeiros Pinto, Secretário-Geral Susana Antas Serôdio, Analista de Política Energética Departamento Técnico APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis
Enquadramento Hoje em dia a tecnologia eólica é incontornável para o desenvolvimento sustentável do setor elétrico nacional, enfrentando grandes desafios até 2030 pela necessidade da definição de uma política eficaz de repotenciamento1 (repowering) das centrais mais antigas em operação. De facto, mais de metade da potência eólica atualmente em operação chegará ao fim de vida antes de 2030, sendo imperativa uma estratégia de repotenciamento destas centrais. A exequibilidade destes investimentos vai depender em larga medida do enquadramento legislativo e regulatório que venha a ser estabelecido, bem como do trabalho concertado que se desenvolva entre os stakeholders, os operadores de rede e a tutela, no sentido de realizar um repotenciamento em harmonia com a possibilidade de maximizar o aproveitamento do recurso eólico nas centrais existentes e a disponibilidade de capacidade da rede. Caraterização atual do setor eólico O setor eólico em Portugal iniciou o seu desenvolvimento no final do século passado, tendo a potência instalada atingido os 5,3 GW em 2017 (Figura 1). O período entre 2005 e 2011 teve o crescimento mais assinalável, tendo a potência passado de 1,1 GW para 4,4 GW, o que corresponde a um aumento médio de 550 MW por ano. O êxito da elevada integração de eletricidade de origem eólica no sistema elétrico resultou da estreita colaboração entre a tutela e os stakeholders. Numa primeira fase foi promovido um estudo do potencial eólico no território continental, integrado com a complementaridade do potencial hídrico, o qual, posteriormente, serviu de base ao desenvolvimento de um Plano de Expansão da Rede para acomodar a geração de eletricidade de fontes de energia renovável, através de uma abordagem holística custo-benefício. Esta situação, aliada à existência de mecanismos de estabilidade política e regulatória para a promoção da energia eólica por produtores independentes,
Terminologia utlizada na nova Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho relativa à promoção da utilização de energia proveniente de fontes renováveis (Artigo 2.º, Alínea z).
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O êxito da elevada integração de eletricidade de origem eólica no sistema elétrico resultou da estreita colaboração entre a tutela e os stakeholders.
Figura 1 Evolução do setor eólico em Portugal até 2017 (Fonte: e2p, 2017).
inicialmente através de tarifas de feed-in e posteriormente através de leilões competitivos realizados a partir de 2005, potenciaram o incremento estruturado desta tecnologia no sistema. Um bom exemplo do êxito desta política encontra-se na criação de dois clusters tecnológicos (Figura 2) de grande relevância para o desenvolvimento regional, a criação de emprego e com um impacto bastante significativo no PIB nacional. Contudo, nos últimos 9 anos, muito devido à crise económica de 2009-2014 e à falta de orientação estratégica que se seguiu, houve uma estagnação do investimento em todo o setor energético, inclusive no eólico. Destaca-se que existem projetos da última fase do leilão realizada em 2006 e de sobreequipamento ainda por concluir, o que põe neste momento em risco o cumprimento das metas de percentagem de energias renováveis no mix energético a que o País se comprometeu para 2020.