Especial sobre Movimentação de Cargas
Perspectivas da ergonomia relativas ao risco de lesões músculo-esqueléticas relacionadas com a movimentação manual de cargas Teresa Patrone Cotrim Professora Auxiliar de Ergonomia Coordenadora da Secção Autónoma de Ergonomia, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa Coordenadora da Comissão Técnica 4, subcomissão 3 – Ergonomia da ONS/APSEI
1. INTRODUÇÃO
sendo uma das mais frequentes no con-
a adopção de posturas de flexão e rotação
Se o manuseamento ou a movimentação
texto da movimentação manual de cargas,
da coluna (Colombini et al, 2013; Direcção
de algum tipo de cargas faz parte do nosso
as lombalgias.
Geral da Saúde, 2010). Assim, no contexto ocupacional a movimentação manual
quotidiano ocupacional ou utilitário, nas variadas tarefas que realizamos no dia-a-dia,
2. DIMENSÃO DO PROBLEMA
de cargas é um dos factores de risco de
quando se usa a designação de Movimenta-
Na Europa, as lesões músculo-esqueléti-
lombalgia presente nas mais diversas si-
ção Manual de Cargas, estamos, habitual-
cas de natureza ocupacional continuam a
tuações (Mital e cols., 1993), em particular
mente, a referir-nos à sua dimensão ocupa-
ter uma elevada prevalência, determinan-
nos trabalhadores da agricultura, constru-
cional, a qual se encontra regulamentada.
do incapacidade e redução na capacidade
ção civil, indústria e saúde (Colombini et al,
Em Portugal, o Decreto-Lei n.º 330/93, de
de trabalho e um impacto social e econó-
2013).
25/9, estabelece as prescrições mínimas de
mico elevados (European Agency for Safe-
segurança e saúde na movimentação ma-
ty and Health at Work, 2010). Apesar das
O Inquérito Europeu sobre as Condições de
nual de cargas e faz referência à necessi-
lombalgias serem um problema de saúde
Trabalho de 2015 (Eurofound and Interna-
dade de avaliação do risco para a saúde dos
muito frequente (Kislaya e Neto, 2017) e
tional Labour Organization, 2019) evidencia
trabalhadores e da existência de medidas
que afecta a maioria das pessoas em al-
que 32% dos trabalhadores europeus re-
gerais de prevenção. Ao nível internacio-
gum momento das suas vidas, o risco de
ferem que o seu trabalho envolve a movi-
nal, a Norma Europeia (EN) 1005-2 (2003)
sofrer de lombalgia é mais elevado nos
mentação de cargas pelo menos um quar-
foca-se especificamente na movimentação
grupos profissionais cuja actividade labo-
to do tempo, e 10% referem que envolve a
manual de cargas em tarefas de elevação
ral determina elevados esforços físicos e
movimentação de pessoas (Gráfico 1).
e propõe um modelo de avaliação do risco, com o objectivo da definição de medidas de reconcepção de equipamentos. As consequências da movimentação manual de cargas para os trabalhadores podem ser diversas, estando relacionadas não só com o esforço e com o efeito cumulativo para o sistema músculo-esquelético, mas também com o contacto com a própria carga (contusões, cortes, entre outros) e a envolvente onde decorre a tarefa (escorregadelas, tropeções, quedas, entre outros). Neste artigo vamos debruçar-nos sobre os principais factores de risco e as consequências para o sistema músculo-esquelético,
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elevare
Gráfico 1. Prevalência da exposição a factores de risco mecânicos (adaptado de Eurofound, 2016).