efeitos fisiológicos e físicos da corrente elétrica (2.ª Parte)

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alta tensão

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efeitos fisiológicos e físicos da corrente elétrica 2.ª PARTE Eurico Zica Correia Engenheiro Eletrotécnico

A EVOLUÇÃO

Complicações humorais

As complicações secundárias

Estas complicações podem provocar fenómenos de “choque secundário” que precisam de tratamentos especializados.

Os acidentados elétricos, nas horas e dias que se seguem ao acidente, são expostos a 3 tipos de complicações que ainda vêm aumentar a gravidade de certos acidentes:

AS CONSEQUÊNCIAS

Complicações nervosas Podem ser uma consequência direta de um traumatismo associado a um acidente de origem elétrica (fratura do crânio, fratura da coluna vertebral ou comoção cerebral). Mas na maioria dos casos são a consequência da passagem da corrente através do encéfalo. As suas manifestações são muito variáveis e vão de simples confusão ao estado de coma.

Complicações renais Os contactos elétricos com correntes de tensão elevada são suscetíveis de determinar, nos dias que se seguem ao acidente, fenómenos de “bloqueio renal” devido à libertação de mioglobina do tecido muscular provocada pelo choque elétrico e eliminada pelo rim. O Departamento de Medicina do Trabalho notou uma certa atenuação destas complicações devido a vários fatores: alcalinização precoce sistematicamente efetuada a partir do momento do acidente, melhoria de condições de transporte do acidentado para um serviço hospitalar especializado, adoção generalizada do reequilíbrio dos líquidos orgânicos, e da alcalinização precoce. Uma intervenção de reanimação nos 2 primeiros minutos que se seguem ao acidente, tem 90% de possibilidades de sucesso (figura seguinte).

Curva de Drinker

Probabilidades de reanimação (%)

75

50

25

1 2

OS FATORES LESIONAIS Generalidades Durante o capítulo precedente, expus, em traços largos, o essencial das lesões corporais que a corrente elétrica pode provocar. Chegou a altura de examinar os fatores responsáveis por essas lesões. São eles: • a intensidade da corrente; • a resistência elétrica do corpo humano; • a tensão aplicada; • a trajetória da corrente; • o tempo de contacto. É preciso sublinhar que estes fatores são independentes. Nota: à forma e à frequência da corrente juntam-se os fatores enunciados. Mas, volto a dizê-lo, só estamos a tratar de correntes alternadas com a frequência de 50 Hz.

90

1

Em certos casos, o acidente elétrico provoca consequências definitivas de gravidade variável como por exemplo: • mau funcionamento renal (albuminúria, por exemplo); • perturbações cardiovasculares; • perturbações nervosas; • perturbações oculares (catarata, conjuntivite); • perturbações auditivas (surdez parcial ou total); • as consequências devidas às queimaduras eletrotérmicas (amputação tornada necessária pela importância das queimaduras, perda de substância muscular e óssea).

3

4

5

6

0,50 7

8

Atraso na intervenção (min) Gráfico 1. As possibilidades de sucesso na reanimação nos 2 primeiros minutos. www.oelectricista.pt o electricista 64

Papel da intensidade O principal papel da intensidade, ou mais exatamente da densidade da corrente (intensidade por milímetro quadrado de superfície) é bem conhecido. Desde Arsonval que se sabe que “é a intensidade que mata”. Mas, mais recentemente, foram precisados os diferentes níveis ou “limites”, a partir dos quais se manifesta a corrente elétrica, duma maneira geral no organismo humano. Limiar de perceção: a partir de 1,1 mA (sensação de picada, de “choque ligeiro”, sem perigo, à passagem da corrente). Limiar da contração muscular: a partir de 9 mA. Limiar da fibrilação: a partir de 80 mA se a passagem da corrente atingir a região toráxica e isto durante um segundo (paradoxalmente, por razões que não podem ser indicadas aqui) a fibrilação diminui, consideravelmente, se a intensidade da corrente ultrapassar 3 A. Limiar das correntes suscetíveis de determinar uma inibição nervosa: a partir de 2 a 3 A.


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