A capacidade de risco para criar valor, a partir da inovação O desafio é falar de experiências pessoais que, de algum modo, intersetem com conceitos de inovação e empreendedorismo, aplicados no setor público ou privado.
robótica
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ESPAÇO EMPREENDER E INOVAR
Paulo Simões Júlio
Foi investigador da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica durante dois anos e trabalhou na Marcopolo de 1996 a 2005, tendo nos últimos anos assumido a Direção Geral desta empresa conhecida por exportar mais de 70% da produção de carroçarias de autocarros. Foi ainda Diretor da Agência de Desenvolvimento das Aldeias de Xisto e da Associação de Desenvolvimento Local Terras de Sicó, Fundador e Presidente da Direção da Agência para o Desenvolvimento dos Castelos e Muralhas Medievais do Mondego e Coordenador do Programa de Desnvolvimento Intermunicipal Provere Villa Sicó (Terras de Sicó). Desde 2013 desempenha as funções de Diretor-Geral da Frijobel, uma PME portuguesa do setor de congelados com indústria de transformação e comercialização.
Sabemos que, de uma forma geral, a mudança é sempre muito mais desejável para os outros do que para nós próprios, e a aversão ao risco é uma existência quase permanente na sociedade portuguesa, apesar de reconhecidamente estarmos muito melhor. A vontade de mudar foi a solução para dar a volta a muitos problemas – andando 20 anos para trás, numa empresa metalomecânica que produzia carroçarias para autocarros, a mudança da gestão de topo foi o estímulo para a reviravolta positiva da empresa. Nesses anos, iniciava a minha carreira profissional na indústria, depois de ter sido investigador na Universidade. Foram tempos de mudança constante que me ajudaram imenso a formar como profissional, testemunhando o efeito do design e engenharia aplicados aos produtos e a decisão de escolher a exportação como a principal medida estratégica. Foi a oportunidade de competir com os melhores da Europa, aprender, inovar e crescer como empresa, o que permitiu, alguns anos depois, ser referência do setor no mercado nacional. A lição desses tempos é que as pessoas fizeram a diferença, no modo como arriscaram procurar novos mercados e inovaram em termos de produto, num tempo em que esses conceitos não eram tão falados e inevitáveis como hoje. Anos mais tarde, numa Câmara Municipal com muito poucos recursos, desenhámos uma estratégia assente em inovação, competitividade e empreendedorismo, destacando prioridades na valorização do património histórico, na promoção turística e territorial, na atração de investimento e na educação. Vale a pena recordar a criação de um evento que, hoje, é o mais concorrido daquele
território. Em 2007 inventámos o Penela Presépio, um acontecimento que dura todo o mês de dezembro, dedicado à família, e que aproveitou, desde logo, o facto de Penela possuir um casario branco encimado por um imponente castelo medieval, com a serra da Lousã como pano de fundo, lembrando a imagem de um presépio. Este evento é visitado anualmente por mais de 50 000 pessoas, dinamizando os restaurantes, hotéis e ruas daquela pequena vila e concelho do distrito de Coimbra. Testemunho que, no início, poucos acreditavam que o Penela Presépio se pudesse tornar num acontecimento de referência na Região Centro. Valeu a pena arriscar politicamente e inovar, neste caso, aproveitando os fatores diferenciadores de um território que possui 2 castelos medievais e uma estação arqueológica romana que fica a cerca de 20 minutos de Coimbra. Poderia dar ênfase a mais alguns acontecimentos, mas detenho-me numa outra medida em que foi necessária alguma coragem. Em 4 anos de mandato diminuímos os recursos humanos da Câmara Municipal, em cerca de 25%, ficando com cerca de 100 funcionários. Num pequeno concelho não é uma medida de gestão despicienda, uma vez que se arrisca a mexer nas estatísticas de desemprego. No caso, devido a vários investimentos privados, desde a área social, agroalimentar, turismo, entre outros, a taxa de desemprego atingiu valores mínimos, desde que há estatística organizada, o que sublinhou a importância da medida estratégica, já que permitiu a canalização de recursos para várias rubricas que permitiram valorizar e desenvolver aquela comunidade. A capacidade de mudar e de arriscar medidas que possam dinamizar estruturas e reorientar recursos, na Administração Pública, é fundamental para ter algum sucesso. Já em 2011, na passagem pela Secretaria de Estado, promovemos uma reforma do setor que passou, entre outras mudanças, pela redução em mais